"Defendemos formas de vidas plurais e autônomas, inspiradas pelo modelo
do Bem Viver-Vida Plena, onde a Mãe Terra é respeitada e cuidada, onde
os seres humanos representam apenas mais uma espécie entre todas as
demais que compõem a pluridiversidade do planeta. Nesse modelo, não há
espaço para o chamado capitalismo verde, nem para suas novas formas de
apropriação de nossa biodiversidade e de nossos conhecimentos
tradicionais associados."
É a partir desse discurso, publicado no documento final do IX
Acampamento Terra Livre -- Bem Viver-Vida Plena, elaborado e assinado
por mais de 1.800 lideranças indígenas que participaram da Cúpula dos Povos no mês de junho de 2012, no Rio de Janeiro (RJ), que as comunidades indígenas propõem a sustentabilidade do planeta.
De acordo com Augusto Santiago, coordenador do Programa Direito a Terra, Água e Território,
as comunidades indígenas têm um modo de produção diferenciado do manejo
comercial e, nesse sentido, destaca, as terras indígenas brasileiras
"têm sido mais eficientes do que as unidades de conservação para a
conservação da biodiversidade".
Na avaliação de Santiago o modo de produção e de vida das comunidades
indígenas está ameaçado, especialmente porque "os quase 20 milhões de
hectares reconhecidos na América do Sul como de posse de povos indígenas
são o filé do mercado de carbono mundial. É ele que os
operadores do mercado pretendem usar como base de troca para que as
corporações possam dar continuidade a seus negócios", diz em entrevista à
IHU On-Line, por e-mail.
Ao defender o modo de produção e de vida das comunidades indígenas da
América Latina, ele enfatiza que a "tradição não deve ser vista como
algo estático e imobilizante, ela se inova e reinventa a partir do
contato com o novo. As comunidades também se interessam pelo uso dos
produtos e das tecnologias, e nosso objetivo não é voltar ao passado,
mas sim construir um futuro com mais justiça. O que questionamos em
nosso coletivo é o lucro acima da vida, a obsolescência programada, o
patenteamento da vida".
Augusto Santiago é coordenador do Programa Direito a Terra, Água e Território,
que reúne 13 organizações brasileiras que atuam nessa temática.
Trabalha na Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), organização
ecumênica de serviço, prestes a completar 40 anos de existência, tendo
apoiado cerca de dez mil pequenos projetos nesse período. Confira a entrevista.
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