O relatório do senador Luiz Henrique (PMDB-SC), apresentado ontem na
comissão parlamentar mista que analisa a medida provisória do Código
Florestal, manteve a exigência de que grandes proprietários, com imóveis
de mais de 10 módulos fiscais, recomponham de 30 a 100 metros da
vegetação à margem de rios, dependendo da largura do corpo d'água.
Insatisfeitos com as discussões, ruralistas e ambientalistas ameaçam
obstruir a votação do texto.
Editada em maio pela presidente Dilma Rousseff, a MP prevê que mais
de 80% dos proprietários de terras poderão regularizar seus imóveis,
recuperando até 15 metros de vegetação às margens desmatadas de rios.
A ameaça de obstrução da votação - feita por integrantes da Frente
Parlamentar do Agronegócio e também por ambientalistas, como o líder do
PV, deputado Sarney Filho (MA) - beneficiaria principalmente os grandes
proprietários, cujas terras representam menos de 0,5% dos mais de 5
milhões de imóveis rurais do País, mas correspondem a 63% da área
ocupada por todas as propriedades.
O embate dos dois grupos é antigo. Os ruralistas brigam para que não
tenham de recuperar áreas desmatadas enquanto os ambientalistas querem a
recuperação total do que foi destruído.
Consequências. Às vésperas do recesso parlamentar, que emendará com o
período pré-eleitoral, a falta de acordo na comissão pode significar a
perda de eficácia da MP editada por Dilma. A MP foi criada depois que o
governo sofreu na Câmara uma das maiores derrotas políticas desde o
início deste mandato.
Uma tentativa de votação do relatório do senador Luiz Henrique está
marcada para hoje. Mas o próprio relator prevê que a votação, caso
comece, não será concluída antes do recesso, no início da próxima
semana.
Depois de meses de negociação, o relator se manteve próximo do texto
da MP editada por Dilma, cuja prioridade é garantir a recuperação da
vegetação de parte das áreas de preservação permanente (APPs)
desmatadas. Ontem, depois da apresentação do relatório, Luiz Henrique
era pressionado para relaxar a preservação do meio ambiente nas
propriedades, sobretudo por integrantes da Frente Parlamentar do
Agronegócio.
Alteração. Uma das poucas mudanças em relação à MP prevê que as
propriedades médias - entre 4 e 10 módulos fiscais - terão de recuperar
20 metros de vegetação às margens de rios, desde que o total a ser
recuperado não ultrapasse 25% da área da propriedade, conforme adiantou o
Estado na segunda-feira.
O mesmo gatilho, com porcentuais menores, já beneficiava
proprietários de imóveis com até 4 módulos fiscais. Dependendo do
tamanho, os proprietários de imóveis pequenos ou médios recuperarão 5,
8, 15 ou 20 metros de vegetação às margens de rios.
Estimativas preliminares do Ministério do Meio Ambiente indicam que a
regra permitirá a recuperação de 110 mil quilômetros quadrados de
vegetação. Isso equivale a mais de 40% do território do Estado de São
Paulo ou pouco mais de 25% das APPs já desmatadas no País.
O relator manteve a punição de corte de crédito a proprietários que
não se inscreverem no Cadastro Ambiental Rural em cinco anos, ainda que
não tenham de comprovar a regularidade ambiental de suas terras.
É incerto o que pode ocorrer caso não se chegue a um acordo sobre o
Código Florestal até o dia 8 de outubro. Essa é a data em que expira a
validade da medida provisória editada pela presidente Dilma Rousseff com
regras para a recuperação de áreas desmatadas ilegalmente.
Sem a MP ou um texto que a substitua votado pelo Congresso e
sancionado pela presidente, não haverá regras claras para a recomposição
das áreas de preservação permanente, como margens de rios. A negociação
voltaria à estaca zero. Existe também a possibilidade de a Justiça
cobrar dos proprietários rurais a recuperação de uma faixa entre 30 e
500 metros às margens de rios, como manda a regra permanente de proteção
definida por lei. / M.S.
MARTA SALOMON / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
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