quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Índios acampam em fazenda em MS

Índios estão acampados em uma propriedade rural em Douradina (MS). Eles atearam fogo na palhada seca de milho, para afastar fazendeiros que estão fazendo a vigilância no local. O clima é tenso e a Polícia Federal e o Ministério Público tentam impedir conflito.

As disputas entre indígenas e produtores rurais começaram em 2005. Na época, a Fundação Nacional do Índio (Funai) fez um acordo com os indígenas, que saíram pacificamente da área com a promessa de um estudo antropológico desta terra. O que eles querem agora é uma resposta.

As lideranças indígenas dizem que só deixam a área quando a Funai se pronunciar sobre a demarcação. Os proprietários da fazenda entraram na Justiça com um pedido de reintegração de posse.

Segundo a Polícia Federal, já houve um confronto recentemente, mas ninguém ficou ferido.

“Essas propriedades são emitidas pelo finado presidente Getúlio Vargas. Eles [índios] reivindicam terra de uma forma a desconsiderar a lei, desconsiderar a autoridade, com a invasão das propriedades”, disse o agricultor Valdir Pedro Piassanti. Os indígenas alegam que a terra pertencia aos ancestrais e faz parte da aldeia indígena do Panambi.

veja o vídeo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Indígenas obtêm vínculo de emprego por trabalho em canavial

Trabalhadores indígenas contratados para atividades braçais na lavoura de cana-de-açúcar – por períodos de 60 dias, com curtos intervalos entre si – obtiveram o reconhecimento de vínculo de emprego com a Usina Santa Olinda S.A. - Açúcar e Álcool, que alegava que a contratação era uma locação de serviços por prazo determinado. Para a Justiça do Trabalho, houve unicidade contratual e relação de emprego pelo período de sete anos, com subordinação e habitualidade. Condenada a pagar direitos trabalhistas aos índios, a empresa interpôs, ao Tribunal Superior do Trabalho, recurso ordinário em ação rescisória, com o objetivo de anular a sentença, mas seu apelo foi rejeitado pela Seção II Especializada em Dissídios Individuais.

De acordo com o relator do recurso, o ministro Emmanoel Pereira, o Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), que tem por objetivo preservar a cultura do indivíduo indígena, em seu artigo 14 estabelece que “não haverá discriminação entre trabalhadores indígenas e os demais trabalhadores, aplicando-se-lhes todos os direitos e garantias das leis trabalhistas e de previdência social”. Assim, esclarece o relator, se caracterizados os elementos típicos do vínculo de emprego, são devidos “ao trabalhador indígena todos os direitos e garantias previstos para o trabalhador comum, coibindo-se as fraudes que maculam as relações de trabalho”.

No caso em questão, os indígenas eram contratados em equipes para atividades braçais nas lavouras de cana-de-açúcar, pelo prazo de 60 dias, retornando para sua aldeia ao final de cada período e lá permanecendo por cerca de 10 dias, findos os quais eram recontratados para a prestação dos serviços. Isso, segundo os trabalhadores, ocorreu entre 1º de maio de 1992 e 30 de abril de 1999, quando foram dispensados, o que provocou a reclamação trabalhista contra a usina.

Como, em audiência, o preposto da Usina Santa Olinda não soube informar as datas do início e fim das atividades dos indígenas, a Vara do Trabalho de Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, aplicou a pena de confissão à empresa, valendo as informações fornecidas pelos trabalhadores quanto às datas. Considerando haver unicidade contratual pelo período de sete anos, habitualidade e subordinação na prestação de serviços, a Vara reconheceu o vínculo de emprego dos indígenas com a usina e condenou a empregadora a anotar suas carteiras de trabalho, pagando-lhes aviso-prévio, décimos terceiros salários, férias, horas extras, adicional de insalubridade e FGTS acrescido de 40%, pois foram dispensados sem justa causa.

A argumentação da Usina Santa Olinda é de que assinou, com a assistência da Funai, contrato de locação de serviços com índios em vias de integração, por prazo determinado, na modalidade de contrato de equipe, com duração de 60 dias – período após o qual poderiam retornar às aldeias, mantendo assim sua tradição e o vínculo com suas tribos. Segundo a empresa, o contrato foi firmado seguindo as normas de proteção estabelecidas pelo Estatuto do Índio, para preservar as peculiaridades do indígena. Invocou, ainda, o Pacto Comunitário dos Direitos Sociais nas Relações de Trabalho Indígena, de 1999, pelo qual, alega a empregadora, esse tipo de contratação não caracterizava continuidade de vínculo de emprego, pois seu objetivo era a manutenção da vida social, dos costumes e das tradições do trabalhador indígena.

Ao examinar o recurso ordinário, o ministro Emmanoel verificou que não se trata de contrato por prazo determinado, pois, quando não observado o tempo mínimo de seis meses entre um contrato e outro, conforme artigo 452 da CLT, “o contrato assume as vestes de indeterminado”. Também não há contrato de equipe, destacou o relator, porque essa modalidade só se justifica quando a atividade, por suas peculiaridades, é realizada por um grupo determinado de trabalhadores, o que não é o caso, pois o trabalho na lavoura de cana-de-açúcar “não demanda coesão de grupo, podendo ser contratados diversos trabalhadores para o mesmo fim individualmente”.


TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Indígenas desce do palanque, Presidente!

Assistindo ao horário eleitoral gratuito, ou as mensagens publicitárias dos diferentes candidatos que concorrem hoje ao cargo de presidente, observamos rapidamente que o cenário político é cada vez mais semelhante a um programa de variedades, com imagens elaboradas para o deleite do espectador e uma evidente espetacularização do cotidiano. Uma linha tênue separa o mundo do entretenimento do mundo das definições políticas na atualidade. Os marqueteiros que hoje coordenam as campanhas acreditam que os eleitores não desejam ver cenas de uma realidade perturbadora e não demonstram interesse por causas coletivas de longo alcance, pois estas demandam certo esforço e investimento.

Assim, um Brasil grandioso nos é apresentado cotidianamente, em que não parece haver pobreza, nem desemprego, nem injustiças, e onde aquela profunda desigualdade social que vemos no dia a dia parece ter, num passe de mágica, desaparecido. Exibe-se diante da tela um mundo risonho, um presente passado a limpo e um futuro deslumbrante. Para o Brasil seguir mudando, para mostrar-se ao mundo, para cumprir sua vocação de grande potência etc., estes e outros argumentos compõem os roteiros da propaganda eleitoral, nos quais o presidente tem dado o “ar de sua graça” cotidianamente, ora como admirador, ora como interlocutor, ora como conselheiro de sua candidata.

Não fossem as cenas tão constantes de pobreza que vemos, essas tantas vidas desperdiçadas, sem chance de estabelecer-se no mundo do trabalho, sem perspectivas que escapem ao assistencialismo, talvez acreditássemos que o Brasil se tornou um verdadeiro paraíso.

Deixando de lado o horário eleitoral gratuito e pensando nos rumos do governo, de modo especial nos meses finais deste mandato presidencial, vemos que as coisas também parecem ter assumido um tom de espetáculo: tudo é grandioso, é exemplar, é fabuloso, como nunca se viu antes, na história desse país.

Os rumos e os rumores…

Hoje, através da internet, é possível acompanhar as manifestações públicas do presidente sem sair de casa – tudo se torna visível nesse mega-cenário, e Lula parece se empenhar, mais do que nunca, para realizar obras espetaculares, de imenso impacto e de grande visibilidade. Um bom exemplo é o complexo de Belo Monte, esse grande monstro que durante 30 anos foi foco de grandes embates. A aprovação desta obra é narrada pelo presidente quase como uma “saga”, na qual ele se envolveu diretamente e, com o desfecho, parece se sentir vitorioso.

É triste ver como Lula reinventa sua trajetória de militância do passado para justificar suas escolhas do presente. Ele assim o fez, por exemplo, no ato em prol de Belo Monte, realizado em Altamira/PA em junho deste ano. Na ocasião, o presidente afirmou que, quando jovem, era desinformado, por isso protestava contra Itaipu, um dos grandes projetos edificados na ditadura. Falou também de certas “fantasias” nutridas em seus velhos (e esquecidos) tempos de militância, e generalizou esses “delírios”, aplicando-os a todos aqueles que, no presente, protestam contra a construção de Belo Monte ou de outras tantas obras que agridem violentamente o meio ambiente.

E na cerimônia de assinatura do contrato de concessão da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em agosto deste ano, Lula afirmou de modo enfático: “Vocês não imaginam quantos discursos eu fiz contra Belo Monte, sem nem saber o que era. Me diziam “fala”, eu falava”. Com estes termos – que denotam ingenuidade e manipulação – Lula define a si mesmo, no passado e aos que hoje protestam contra Belo Monte. Muitos militantes deste mesmo partido, que hoje se alinham com a (neo)filosofia do Presidente, provavelmente também olham para trás e avaliam que suas práticas políticas eram apenas arroubos juvenis, ações impensadas de pessoas desinformadas, desavisadas e manipuláveis.

Conforme afirmou Lula, ele era um desses jovens que se ocupavam de “gritar contra” ao invés de utilizar sua energia produtiva para pensar em coisas importantes. O militante (aquele que acredita em algo, e por isso protesta, veste a camisa, sacode bandeiras) é apresentado aqui como um ser incompleto, ignorante, a quem falta sabedoria, discernimento, informação.

Discursando ainda, o Presidente da República se empolga em mostrar os supostos benefícios da obra e deixa ver uma espécie de aflição, uma ânsia em ver a grandiosidade de sua obra antes do fim do seu mandato. Reclamando da morosidade de certos procedimentos legais, sugere que se faça um inventário das “coisas hilariantes” que acontecem quando se propõe uma obra de infraestrutura.

E ele exemplifica: “às vezes aparece um osso, as pessoas pensam que encontraram um sítio arqueológico, e passam-se anos, ali, parada a obra, e depois foi uma coisa que não era de nenhuma importância. Há pessoas que acham uma pedra e acham que parece um machadinho indígena, e para a obra oito meses, ali, para tentar ver, depois descobre que não é nada. E ninguém arca com o prejuízo…” Assim, ele deixa transparecer, no tom de seus discursos, que o meio ambiente e a legislação que o protege são empecilhos ou penduricalhos, como ele mesmo gosta de dizer. Pode-se dizer, ainda, que uma lógica ambiental coerente e alicerçada em convicções políticas não combina com a ironia: “eu quero fazer um monumento à perereca – uma pererequinha que parou a obra durante seis meses” quando Lula fez referência à duplicação da BR 101.

Uma omissão que se traduz em números

Longe dos holofotes, e a despeito dessa inigualável onda de popularidade presidencial, ainda podemos verificam as opções políticas feitas pelo governo, observando, por exemplo, a execução do Orçamento Geral da União. Em números absolutos, o governo gastou, até o início de setembro, pouco mais de R$ 300 milhões, dos mais de R$ 780 milhões aprovados para ações e programas voltados para os povos indígenas em 2010. Isso corresponde a apenas 35% do total de recursos disponíveis. Em algumas ações, a execução orçamentária ainda é zero (é o caso da rubrica “recuperação da biodiversidade”); outras não chegam a 10% de execução (tal como a de “demarcação e regularização das terras indígenas”, em que se gastou 8,41% e “estruturação de unidades de saúde” para a qual foi utilizado apenas 3%). Enfim, esses números mostram que a questão indígena está muito longe de ser considerada relevante, uma vez que os recursos ali alocados não têm sido efetivamente empregados para assegurar os direitos destes povos. E o pior é que as garantias constitucionais parecem valer muito pouco quando esbarram em preferências e em interesses econômicos, muito mais valorizados nos tempos em que vivemos.

E na onda cor-de-rosa da publicidade, que diz que “a propaganda é a alma do negócio”, parece ter embarcado também a Fundação Nacional do Índio: a atual direção acaba de assinar um contrato com a A3 Brasil Eventos, para a realização de 12 seminários em diferentes regiões do Brasil, destinados a discutir o decreto de reestruturação da Funai. E lá se vão R$ 16,9 milhões (Fonte: DOU 163, de 25/08/2010) – verba pública superior àquela prevista para a rubrica “Fomento e valorização dos processos educativos dos povos indígenas”; ou para a “Promoção do etno-desenvolv imento das comunidades indígenas”, para citar apenas dois exemplos. Valor muito superior ao que foi, até agora, investido em demarcação e garantia das terras indígenas.

De concreto, nestes tempos, o que temos é a redução de conquistas já estabelecidas, com a suspensão de portarias de demarcação, tal como ocorreu com as terras Tarumã, Morro Alto, Pirai e Pindoty, dos Guarani Mbyá, todas localizadas no litoral norte catarinense. Não bastasse a pressão que empresários locais exercem sobre a Funai e o Ministério da Justiça, uma vez que essas terras são cobiçadas para a especulação imobiliária, há ainda esse discurso tantas vezes reiterado pelo Presidente de que os indígenas atrapalham, são excessivos, dão trabalho.

Caso o Presidente da República resolva escapar aos lampejos reluzentes dos holofotes e descer um pouquinho do palanque, poderá verificar in loco a situação insustentável em que vivem inúmeras comunidades indígenas deste país, aquelas que, sem a demarcação das terras, se mantém à beira das rodovias, em acampamentos provisórios e em condições degradantes, e muitas vezes essa situação se prolonga por décadas. Isso ocorre, em especial, nos estados de Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul.

Poderá também verificar que existem centenas de famílias indígenas vivendo em situação de miséria e abandono nas periferias de cidades; outras denunciando veementemente a falta de assistência em saúde e educação, a insegurança, a impossibilidade de dispor de suas terras, que continuam invadidas mesmo depois de homologadas, como se verifica hoje no Maranhão. Quem sabe, visitando alguns lugares menos deslumbrantes e escutando essas tristes histórias, o Presidente da República possa, enfim, seguir sua própria receita: ocupando-se de coisas mais importantes ele poderia utilizar as energias produtivas de seu governo para, pelo menos, executar o orçamento para a questão indígena, a questão quilombola, a questão ambiental. Isso sim, faria diferença!

Iara Tatiana Bonin

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Artesanato indígena


A Expobai deste ano é sem duvida o estande onde está exposto o artesanato indígena. Ao todo, são três mulheres indígenas que estão divulgando o trabalho desenvolvido por elas e por membros da comunidade indígena, em especial dos jovens e mulheres da associação Tapyi Cora.

Foram expostos vários materiais como cocares, colares e brincos com sementes e cestas trançadas que trazem para quem visita o estande, um pouco da cultura dos índios da região. Os trabalhos são frutos do projeto “Jajapo Ñande Rokorã” que em português significa “Construindo nossa história”, e conta com a coordenação da agente de saúde indígena, Crecencia Martins, Também se envolveram a Associação Indígena Tapyi Cora Amambai MS, e da Sra. Matilde (Limão Verde). Toda a renda conseguida com a venda dos produtos será revertida para os próprios grupos, sendo investida na compra de materiais, que já não são encontrados com facilidade na aldeia.

Tem material que a gente tem que pedir de outras aldeias, de longe, porque não acha na aldeia. Sementes que usamos nos colares e pulseiras estão bem difíceis de encontrar”, diz Crecencia.

No estande, estão trabalhando três indígenas que moram na Aldeia Amambai e produzem seu artesanato e envolvem também toda a família e comunidade. “Em casa, todos trabalham com artesanato, até as crianças que aprendem desde cedo e ajudam com a pintura das cestas”, disse a indígena Matilde Gonçalves.

Já o trabalho de Crecencia Martins, vai além do âmbito familiar. Ela trabalha com um grupo de 25 jovens, com idade entre 14 e 17 anos, e visa tirar esses jovens de um possível envolvimento com as drogas.

A Associação Indígena Tapyi Cora, tem cerca de 60 famílias que se organziam para buscar o desenvolvimento sustentável para sua aldeia, e produiram o artesanato em mutirões com membros da Associação, na própria Aldeia Indígena.


AmambaiNotícias

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ação urgente em favor da comunidade Guarani Kaiowá Y'poí


Aproximadamente 80 membros do grupo indígena Guarani Kaiowá Y’poí no Brasil estão sendo ameaçados por homens armados contratados por fazendeiros locais. Eles estão impedidos de deixar seu acampamento, resultando na impossibilidade de acesso à água, comida, educação e saúde.


Ajude a pressionar as autoridades

O grupo reocupou fazendas que reivindicam como sendo parte de suas terras ancestrais, próximo a Paranhos, Brasil, estão cercados por homens armados contratados por fazendeiros locais, que os ameaçam continuamente e tiros têm sido disparados para o ar durante a noite. Eles também estão impedidos de deixar seu acampamento. Isso os deixou em uma situação crítica, sem acesso a água, comida, educação e saúde.

A Fundação Nacional de Saúde do Índio (FUNASA) não tomou providências para prover cuidados à comunidade, alegando falta de segurança. As crianças da comunidade estão ficando doentes devido à falta de assistência médica e de água e às condições do tempo que está muito seco.

A comunidade denunciou sua situação ao Ministério Público Federal, à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e às autoridades policiais do estado, mas nenhuma medida foi tomada até agora.

Anteriormente, a comunidade Guarani-Kaiowá Y’poí foi violentamente expulsa de suas terras ancestrais, em outubro de 2009. Durante a expulsão, membros da comunidade disseram que viram Genivaldo Vera sendo levado embora por homens armados e seu primo Rolindo Vera fugindo para a floresta.

O corpo de Genivaldo Vera foi encontrado em um rio próximo poucos dias depois. Sua cabeça tinha sido raspada e seu corpo apresentava muitos ferimentos. O paradeiro de Rolindo Vera permanece desconhecido. Após mais de 300 dias a família de Rolindo continua a esperar que a Polícia Federal informe-lhes o que aconteceu com ele ou que traga seu corpo. A comunidade quer procurar por Rolindo, mas estão impedidos de sair do acampamento.

Contexto

O estado de Mato Grosso do Sul abriga algumas das menores, mais pobres e mais densas áreas de população indígena do Brasil: bolsões de pobreza cercados por grandes plantações de soja e cana-de-açúcar e fazendas de criação de animais, onde a vida é extremamente difícil devido às péssimas condições de saúde e às pobres condições de vida.

Em novembro de 2007, o Ministério Público Federal do Sul assinou um acordo (Termo de Ajustamento de Conduta, TAC), com a FUNAI, no qual este órgão se comprometia a identificar e delimitar até abril de 2010, 36 áreas diferentes de terras ancestrais dos índios Guarani Kaiowá para futura demarcação. Em 29 de julho, o Ministério Público Federal submeteu uma petição ao Tribunal de Recursos Federais solicitando a execução judicial do TAC. O Ministério Público solicitou que a FUNAI cumprisse os temos do acordo no prazo de 60 dias e, caso isso não fosse feito, que a demarcação fosse feita por uma terceira parte paga pela FUNAI. Eles também pediram que a FUNAI pagasse a multa estipulada no acordo pelo atraso na finalização da identificação das terras ancestrais dos índios.

As terras ancestrais que os Guarani Kaiowá começaram a reocupar já deveriam ter sido vistoriadas por antropólogos a serviço do governo com o objetivo de identificar as terras a serem devolvidas à comunidade, conforme estabelecido no acordo assinado em 2007. Contudo, os fazendeiros da área têm constantemente bloqueado as tentativas de levar adiante os levantamentos necessários para identificar as terras a serem devolvidas.

Por conta do fracasso para dar uma solução às reivindicações de terra, muitas comunidades de Guarani Kaiowá iniciaram a reocupação de suas terras ancestrais. Com isso, tem ocorrido uma série de expulsões violentas frequentemente envolvendo grupos armados. Empresas de segurança irregulares, muitas das quais agindo efetivamente como milícias ilegais a serviço dos proprietários de terra ou da agroindústria, têm se envolvido em diversos abusos de direitos humanos nas áreas rurais do Brasil e permanecem como uma séria ameaça não só aos povos indígenas, mas também aos trabalhadores rurais que lutam pelo direito à terra.

Tanto a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, endossada pelo Brasil em 2007, quanto a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é Estado parte, garante aos povos indígenas direitos sobre suas terras ancestrais e exige que os Estados estabeleçam mecanismos para garantir que estes direitos sejam adjudicados e reconhecidos. A Constituição Brasileira também garante aos povos indígenas brasileiros o direito a suas terras e a responsabilidade da União em demarcá-las.


CIMI

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Pais e filhos adolescentes



FASES DA VIDA

O que se passa na cabeça de um jovem???
Se parar para pensar realmente nunca vai chegar a a uma definitiva conclusão, pois o jovem está mudando a cada momento,e a adolescência é uma das etapas do desenvolvimento humano caracterizada por alterações físicas, psíquicas e sociais, sendo que estas duas últimas recebem interpretações e significados diferentes dependendo da época e da cultura na qual está inserida, pois o adolescente é dos doze aos dezoito anos a adolescência ocorre desde a puberdade à idade adulta, ou seja, desde a altura em que as alterações iniciam a maturação sexual até à idade em que um sistema de valores e crenças se enquadra numa identidade estabelecida.

Muitas culturas reconhecem pessoas como “tornando-se adultas” em variadas idades. Na aldeia não existia adolescência era uma passagem de criança para adulto, e como isso existe hoje, não é quase aceito para os pais, ainda ontem conversando com uma mãe na aldeia ela me disse “eu não aguento mais os meus filhos, eles estão impossíveis e dar uma surra neles não vai adiantar nada…” ela tem dois filhos que estão começando a entrar na na adolescência e ela diz ainda “gosto dos meus filhos, amo eles mais que tudo, mas os dois não me ouvem há se eles souberem o quanto eu amo eles…eu já passei por essa fase por isso eu procuro entender mas fazer papel de mãe nestes momentos é muito complicado"declara.

A AJI (Ação dos jovens indígenas de Dourados) que atua com os jovens indígenas há dez anos, já ouve muitos casos onde realmente muitos jovens que andam na rua, fumam, são muitos rebeldes é por conta que tem uma estrutura familiar bem complicada.

Em muitos dos casos que já ouvi e acompanhei, é que a mãe não procura conversar com especialistas de como agir com seu filho, o que acontece é que as mães, quanto pais não são amigos dos filhos e sim procura corrigi-los todo tempo querendo que eles procurem andar conforme suas regras, todos os pais tem esse direito, mas o filho infelizmente não vai aceitar mesmo. Pois é nesta fase que o filho(a) começa a criar seu estilo, musicas, etc. Conversando com uma jovem, ela disse “Minha mãe trabalha e meu pai também, ficam fora o dia inteiro, e eu tenho que ir para a escola e de tarde tenho que limpar casa, lavar roupa, lavar louça, e mesmo assim minha mãe chega e briga por que esqueci de fazer algum serviço que ela mandou ou não saiu do jeito que ela quer, e ainda não gosta que faço maquiagem, e sim quer que me visto como ela quer”.

Ou seja essa mãe esqueceu de que a filha de 13 anos, tem seu trabalho escolar, tem seu cantinho ou quer assistir, ou ouvir musica, a adolescente ainda disse que fica revoltada pois ao mesmo tempo que tem que ficar em casa, a semana inteira nas tardes fazendo serviço ela tem o seu irmão que tem 15 ano e que anda as tardes inteiras na casa de colegas, e que o pai dela diz para ela não se comparar a ele pois é menina e ele guri.

Ou seja, o que quero dizer com isso é que os pais deixam de dialogar com seus filhos, e chegam em casa estressados do trabalho e restas para os filhos que ficam em casa, com isso a menina fica revoltada. Nesta parte meninas são bastante criticadas, é normal a filha ajudar nos deveres da casa, mas vale lembrar que os filhas não são empregadas.

Outro caso de outra adolescente que saiu de casa por agressões sofrida pelos pais.

A adolescente cursava o segundo bimestre do 9° ano do ensino fundamental e era muito criticada pelos seus pais que eram da igreja pentecostal, ela disse que nunca queria ser crente, e seus pais a criticava por usar shorts curtos, ouvir musicas diferentes dele e chamava ela de variados nomes de demônios das trevas. Ela disse que não se sentia bem, saiu de casa, foi morar com a amiga, e assim saia todos os finais de semana, e começou a trabalhar lavando roupa para a tia, a sua mãe foi buscar ela, lhe deu uma surra e disse que se pegasse barriga ela não iria cuidar, pois a filha estava se tornando do mundo.

Ela ficou muito revoltada, me disse “eu não sou obrigada andar como ela quer, eu quero ser como eu gosto, assim me sinto bem, se ela me aceitar como eu sou, eu não sairia de casa, eu gosto muito de ficar em casa, pois lá é o meu cantinho, eu faço as coisas de raiva, ela não me diz coisas boas, não diz como um mãe amiga que previne seus filhos ”. Passado o tempo, essa adolescente, começou a trabalhar na cidade, começou a frequentar festas, e hoje se encontra gravida, vai ser mãe solteira. Isso é um caso comum, os pais não entenderem seus filhos, e o que causa isso é mais rebeldia e pode acontecer o pior, o que essa adolescente de 15 anos precisava era de atenção, compreensão, diálogo com os pais. Sendo assim ela estaria estudando e seria uma menina feliz.

Ser jovem não é fácil nem para os pais, muito menos para os filhos, e se os dois lados se compreenderem vai descobrir que é a época mais boa da vida, temos várias descobertas, e muitas das vezes não conseguimos superar e vamos em frente, as aventuras são tantas que a pessoa nunca esquece, a vida de adolescente hoje é namorar, andar na moda, balada e muito mais, é a época em que muitas mães dizem “Minha filha, como que você não pensou em usar camisinha antes de transar com seu namorado?!"- berra a mãe, histérica, ao saber que será vovó. Pois é, esse tipo de imprevisto acontece, e com freqüência, na adolescência, o certo por mais que é difícil dizer para a filha é “use camisinha”.

Mas essa fase tão conturbada, repleta de desentendimentos entre pais e filhos, não se deve a pura irresponsabilidade da qual insistimos em acusá-los. Além das mudanças físicas e hormonais, seus cérebros sofrem transformações extremas, pois as descobertas vão a mil por hora, tudo é novidade, fazendo com que muitas vezes não dêem conta das tarefas que lhes delegamos.
É esta também a época em que o sonho de ser mãe é jogado para escanteio. Basta os pimpolhos completarem doze anos, para o ditado se confirmar. Ser mãe de adolescentes é, sim, padecer no paraíso. E neste momentos que os adolescentes são acusados de serem rebeldes sem causa, mas quem é que garante que a revolta é gratuita?
Infelizmente ser adolescente dá um trabalho todo para os pais, mas lembre s que todo mundo foi adolescente, é é uma fase onde tudo pode acontecer, por isso você que é mãe próxima vez em que for brigar com seu filho, lembre-se de que é esse comportamento impulsivo que move a sociedade todos os pais já foram jovens.

JAQUELINE GONÇALVES



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Em Mato Grosso do Sul, comunidade Guarani vive cercada por pistoleiros

Grupo está sem acesso à água e serviços básicos de saúde e educação

Indígenas Guarani Kaiowá da comunidade Y’poí, localizada no município de Paranhos (MS), estão pedindo socorro às autoridades do país. O grupo está cercado por pistoleiros contratados por fazendeiros da região. A terra tradicional do povo foi retomada no último dia 17 de agosto, durante a realização do Acapamento Terra Livre 2010, que este ano aconteceu no estado.

Desde esse dia, o grupo vive em uma espécie de ilha, pois em sua volta estão diversos pequenos acampamentos, onde os pistoleiros estão morando. Eles andam armados e frequentemente fazem ameaças à comunidade. A entrada ou saída de pessoas à região está proibida, o que tem impossibilitado o acesso dos indígenas a serviços básicos de saúde e educação.

Os Guarani pedem socorro, pois suas crianças estão adoecendo e nem mesmo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) consegue chegar à comunidade para prestar atendimento. A Fundação alega falta de segurança e, enquanto isso o grupo está, até mesmo, sem acesso à água.

Diversas denúncias já foram feitas ao Ministério Público Federal de Ponta Porã, à Funai e orgãos de segurança do estado. Até o momento nenhuma ação foi realizada para alterar a situação desumana em que vivem milhares de indígenas do MS, confinados em pequenas porções de terras, abandonados à beira de estradas, discriminados e largados à própria sorte.

Em busca de Rolindo Vera

A retomada da terra tradicional aconteceu no momento em que o grupo se vê cansado de esperar uma resposta do governo brasileiro em relação à identificação de seu território, prevista pelo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ministério Público Federal. Também estão impacientes com a demora em dizer o que aconteceu com o professor Rolindo Vera, desaparecido há mais de 300 dias.

Rolindo foi sequestrado juntamente com seu primo, Genilvado Vera, nesse mesmo local, quando sua comunidade havia retomado a área. Dias depois o corpo de Genivaldo foi encontrado jogado dentro do córrego Y’poí. A família de Rolindo aguarda até hoje que as autoridades de segurança pública do estado digam algo sobre o pareadeiro de Rolindo ou até mesmo que seu corpo seja encontrado.

“É inadmissível que a Justiça permaneça calada, diante de tamanha injustiça. Não é possível que o governo se omita diante dessa ação genocida contra uma comunidade indígena que busca encontrar o corpo do professor Rolindo. É uma afronta à Constituição e à legislação internacional negar a terra tradicional a uma comunidade indígena e, mais ainda, impedir o acesso aos próprios órgãos do governo encarregados da proteção e atendimento à saúde da população indígena”, afirmou Egon Heck, coordenador do Regional Mato Grosso do Sul do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

1º Acampamento dos Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná

Evento teve por objetivo dar visibilidade a esse segmento, bem como pedir a criação de uma lei estadual que garanta seus direitos

Termina hoje (2) o 1º Acampamento dos Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná. O encontro, cujo tema é “Esta Pátria também é nossa”, tem por objetivo dar visibilidade aos povos e comunidades da região, bem como discutir a criação de uma política estadual que garanta seus direitos. O evento acontece na Praça Nossa Senhora do Sallete, em frente ao Palácio das Araucárias, em Curitiba.

O tema da mobilização faz alusão à atual situação em que esses povos vivem, sendo expulsos de suas terras, tendo seus direitos básicos não garantidos e perdendo aos poucos suas identidades culturais.

Para a liderança indígena Kretã Kaingang, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), o Acampamento é uma forma de reivindicar reconhecimento dos povos e comunidades tradicionais. “Esses povos estão invisíveis perante os olhos do governo e por isso, sem uma política pública para atendê-los. Nosso objetivo aqui é justamente mostrar que existimos e falar sobre as nossas necessidades”.

“Não podemos chegar como a 5ª maior potência mundial, segundo estimativas do governo, se os direitos básicos dos povos tradicionais não são respeitados”, afirmou. Ainda segundo ele, a criação de uma política estadual vai trazer o reconhecimento e a preservação do modo de vida dessas comunidades, de suas culturas e conhecimentos tradicionais.

Na região Sul, especialmente no Paraná e Santa Catarina, a invisibilidade social é uma das principais características das comunidades tradicionais. Até pouco tempo atrás, a inexistência de estatísticas e censos oficiais fez com que estes grupos elaborassem seus levantamentos preliminares numa tentativa de afirmarem sua existência coletiva em meio a tensões, disputas e pressões que ameaçam seus diretos étnicos e coletivos garantidos pela Constituição Federal e diversos outros dispositivos jurídicos.

Atividades

Ontem, no primeiro dia do Acampamento, aconteceu uma assembléia geral entre os participantes do encontro, onde estiveram presentes representantes da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed). Durante o dia, eles compartilharam suas realidades e discutiram reivindicações que serão apresentadas aos candidatos ao governo do estado, todos convidados a participar do evento.

Hoje, a mobilização continuou com uma grande concentração do grupo, falas dos diversos representantes e caminhada pelo centro de Curitiba. À tarde, houve audiência com representantes do governo do estado. Momento em que foram entregues as propostas que integrarão a política estadual, elaboradas anteriormente pelas 11 comunidades tradicionais que participam do evento.

Representação

Participam do encontro cerca de 500 representantes dos povos indígenas Kaingang, Guarani e Xetá e das comunidades Quilombolas, de Terreiro (Umbanda e Candomblé), Faxinalenses (camponeses que ocupam de forma coletiva o solo e têm criadouros comuns), Ilhéus do Rio Paraná, Pescadores e Pescadoras artesanais, Cipozeiros e Cipozeiras e benzedores e benzedeiras.

O Acampamento foi realizado pela Rede Puxirão dos Povos e Comunidades Tradicionais, entidade que agrega as cerca de 200 mil pessoas pertencentes aos povos e comunidades tradicionais do estado.


CIMI