sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Indígenas serão cadastrados em MS para facilitar adoção de crianças


Uma comissão coordenada pelo Ministério Público Estadual (MPE-MS) vai cadastrar indígenas das aldeias de Dourados, a 220 km de Campo Grande, para facilitar a adoção de crianças indígenas. O assunto foi mostrado em reportagem do Bom Dia MS desta sexta-feira (14). A preocupação da promotoria é com o elevado número de casos de crianças que são retiradas da guarda familiar, mas acabam não sendo adotadas.
Na vara da infância e juventude de Dourados, chegam em média 10 processos por mês. Na maioria dos casos, as crianças indígenas são retiradas das famílias por problemas de violência domestica. As crianças acolhidas são encaminhas a abrigos, onde permanecem até serem reinseridas na família ou encaminhadas à adoção. No caso dos indígenas, por causa dos costumes e da cultura próprias, a prioridade é encontrar um novo lar na própria reserva. Atualmente, 24 indígenas estão nos abrigos de Dourados.
Se não há indígenas interessados, segundo o MPE-MS, a criança é registrada no banco nacional de adoção. Só que conseguir uma família não-indígena pode ser ainda mais difícil. Em Dourados, foram registrados apenas dois casos desse tipo.

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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Cimi denuncia os ‘decretos de extermínio’ contra povos indígenas

Com o objetivo de denunciar o genocídio, assassinatos, violência e a política desenvolvimentista que trata as comunidades tradicionais como obstáculos, o Cimi lança o documento Povos Indígenas: aqueles que devem viver - Manifesto Contra os Decretos de Extermínio. O manifesto foi apresentado durante audiência na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira, 4. Na ocasião, a Associação dos Juízes pela Democracia (AJD) e o Cimi entregaram manifesto subscrito por mais de 20 mil pessoas que aderiram à campanha Eu Apoio a Causa Indígena.
Se durante a ditadura militar a resistência dos Waimiri Atroari ante a construção da rodovia transamazônica, na década de 1970, foi reprimida com bombas, metralhadoras e até armas químicas, hoje tal premissa genocida segue em curso na busca por uma identidade nacional desenvolvimentista, homogênea, sem a presença das comunidades em seus territórios tradicionais. Um exemplo é a construção de megaprojetos (estradas, hidrelétricas e projetos de mineração), que por onde passam deixam rastros de destruição e morte.
O extermínio contra os indígenas continua através do confinamento dos povos e comunidades em terras insuficientes, da morosidade do governo na condução dos processos de demarcação das terras de povos que vivem em acampamentos provisórios, com o descaso na área da saúde e educação. Segue ainda na omissão do poder público diante das agressões cotidianas sofridas pelos povos, além da invasão do território tradicional por madeireiros, fazendeiros, narcotraficantes. A violência sistemática é cometida contra como um decreto de extermínio que nunca foi revogado pelas forças anti-indígenas.
Alguns exemplos concretos podem ser apresentados, como é o caso do povo Xavante de Marãiwatsédé, no Mato Grosso, em luta pela extrusão do seu território invadido por fazendeiros. Também dos Guarani Kaiowá e Terena do Mato Grosso do Sul, expropriados de suas terras pelo agronegócio, vivendo em situações desumanas. No mesmo estado, os Kadiwéu tiveram suas terras demarcadas há mais de 100 anos e correm o risco de serem novamente expulsos.
Chamam também a nossa atenção as dezenas de acampamentos à beira de rodovias, espalhados na região sul do país, nos quais os povos Guarani e Kaingang enfrentam baixas temperaturas e o perigo dos atropelamentos. No Maranhão, os Awá-Guajá sofrem as mais diversas pressões, com destaque para assassinatos e invasões de terras homologadas. No
Embora seja consenso a importância da pluralidade étnica e cultural, por outro lado não existem políticas concretas em defesa do modo de viver dos indígenas, em pese tais povos tenham seus direitos resguardados pela Constituição Federal. Após quase 40 anos (1974) da publicação do documento Y-Juca-Pirama: O índio aquele que deve morrer - que denunciou a política genocida do governo brasileiro e gerou impacto junto à opinião pública nacional e internacional, durante os anos da ditadura - muita das ameaças aos povos indígenas denunciadas pelo Cimi naquela ocasião ainda persistem.
O decreto de extermínio vislumbra o desenvolvimentismo dominante e antropocêntrico que desconsidera a importância de outros seres, dos animais, das plantas, em favor da expansão das fronteiras agropecuárias para o monocultivo de grãos, produção de biocombustíveis, plantio de eucaliptos, criação de gado em larga escala, que geram impacto não só na vida dos povos indígenas, como também nas terras, nas águas, nas matas, ameaçando o equilíbrio ecológico. O Cimi publica esse segundo manifesto no intuito de concretizar a profecia anunciada pelo Y- juca Pirama: “Chegou o momento de anunciar, na esperança, que aquele que deveria morrer é aquele que deve viver”.
O sumário do manifesto ainda traz um bloco de artigos sobre o projeto de vida dos povos indígenas, os principais documentos indígenas dos últimos 40 anos e a republicação do Y Juca Pirama, lançado em 1974. Como anexo, as terras e povos indígenas afetados pelos grandes empreendimentos.
O tema ganha espaço na mídia hoje, Dia Internacional dos Povos Indígenas
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Amazônia: François Hollande e os Indígenas

A nota do DefesaNet publicada, no dia 29 Novembro, sobre a visita do cacique Raoni e a recepção excepcional e carinhosa dada pelo Presidente da República Francesa, uma semana antes de receber a presidente do Brasil, em visita de estado são mensagens claras.

Ou de uma grande estratégia geopolítica da nação gala, rasgando os acordos de Parceria Estratégica, tão arduamente construído por Nicolas Sarkozy e sua equipe, ou de uma estultice de proporções amazônicas.

Pelo empenho e os holofotes dados pelo próprio Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa, parece que a República Francesa optou pelo ativismo militante contra o seu próprio cidadão. Às diretorias das empresas ALSTOM, DCNS, THALES, DASSAULT, SAFRAM, AREVA e outras só restará suspiros de negócios e empregos perdidos.

Como recomendou o articulista da Página “ICE STATION ZEBRA”, que a presidente brasileira advogue a causa dos nativos da Alsácia, Córsega   e de outros povos nativos da República.

Nota: as fotos deste artigo são distribuidas pelo próprio Palácio do Eliseu.

Matéria em referência:  Foto do Dia - Hollande e o Indigenismo Link

O Editor  

DefesaNet


Brésil - Subversion - Amazonie : François Hollande et l'indigénisme . 
Traduzido da página ICE STATION ZEBRA Link

O site especializado em questões de defesa e geopolítica do Brasil " DefesaNet "publicou uma foto, que reflete a preocupação de grupos patrióticos brasileiros sobre a visita do indígena  Raoni txukarramãe ao presidente François Hollande, 29  de novembro de 2012. [link] Alguns leitores também expressaram preocupação sobre esta visita,  e conhecer o papel dos  socialistas franceses em apoiarem os ativismos indígenas na Amazônia brasileira.

Deve ser lembrado que um dos principais iniciadores da campanha "Internacionalização da Amazônia" foi François Mitterrand, o "pai" espiritual de François Hollande.

Foi durante uma escala em Paris – Aeroporto de Orly na sala VIP, durante uma viagem a Moscou, nos últimos meses de Gorbachev, que o presidente brasileiro José Sarney foi literalmente intimado pelo Presidente socialista francês a juntar-se ao seu projeto de "Internacionalização da Amazônia", em troca do perdão de parte da dívida externa brasileira.

François Mitterrand foi também o primeiro chefe de Estado a receber o indígena Raoni apesar dos pedidos em contrário da diplomacia brasileira.

Por sua vez, o primeiro-ministro Michel Rocard (primeiro-ministro 1988-91), durante uma conferência no INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), em Manaus, onde eu estava presente (autor francês), também desenvolveu o projeto separatista-intervencionista.

"O chefe de Estado (Francois Hollande), elogiou o seu compromisso pessoal (Raoni) e corajoso com a preservação do meio ambiente", disse o Palácio do Eliseu, em comunicado.

François Hollande, "lembrou a mobilização da França para a preservação da grande floresta tropical e a proteção dos povos indígenas, que vivem na Amazônia e em todo o mundo ", continuou o presidente. O Presidente, de acordo com o Eliseu, também defendeu a ação da França em favor do "desenvolvimento sustentável da região amazônica da Guiana ", sublinhando  a importância da participação dos povos indígenas nas discussões e negociações que afetam seu futuro."

De acordo com Nicolas Hulot,  Presidente da “Fondation pour la Nature et pour l'Homme”,  declarou à televisão, que  François Hollande prometeu "levar a fala dos povos indígenas" à  presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que estará na França, no dia 11 de dezembro, para uma visita  de estado

Aposto que a presidente brasileira irá lembrá-lo de que a França espera vender caças ao Brasil [link] e talvez ela irá discutir as lutas pela libertação nacional e social - os verdadeiros "nativos da República" - Alsácia, Basco, Bretanha,  Catalão, Córsega, Flamengo, Picardia] e Savoisienne  e da resistência da população ribeirinha  local ao projeto ambientalista Ayraultport de Notre Dame des Landes!

Ele deve realmente achar que o intervencionismo ambientalista de Mitterrand é mais do que nunca atual para a agenda de um presidente globalista e submetido a pressão Khmer-Verde: François Hollande recordou "a mobilização da França em favor da preservação da grandes florestas  e os povos indígenas que vivem na Amazônia e em outras partes do mundo. "

 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Câmara dos Deputados e Funai vão levar proposta sobre mineração às comunidades indígenas

A Fundação Nacional do Índio (Funai) vai ajudar a Câmara a promover uma consulta aos povos indígenas brasileiros sobre a mineração em suas terras. O relator da proposta (PL 1610/96) que trata do tema, deputado Édio Lopes (PMDB-RR), explicou que o Brasil é signatário da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que obriga a consulta quando o Legislativo estiver produzindo leis que digam respeito às populações indígenas.
“Não nos resta dúvidas de que o trabalho legislativo terá de ser precedido de uma consulta às populações nativas, sob pena de qualquer legislação que aprovemos aqui cair no primeiro tribunal”, disse a presidente da Funai, nesta terça-feira, durante audiência da Comissão Especial sobre Exploração de Recursos em Terras Indígenas.
Na semana passada, o relator se reuniu com o Ministério da Justiça e a Funai, e hoje a presidente da instituição, Marta Maria do Amaral Azevedo, trouxe uma proposta para que as reuniões ocorram em todo o País entre fevereiro e junho de 2013. As datas e locais ainda serão negociados, mas a Funai espera utilizar as sedes de coordenações regionais espalhadas pelas áreas onde estão distribuídas as populações indígenas brasileiras.
Logística da Funai
“Pensamos as reuniões para que sejam o mais rápido possível, usando a logística que a Funai já tem preparada para isso”, disse Marta. Segundo ela, é preciso reunir representantes dos povos indígenas, mas também buscar metodologias para tradução e explicação da questão. Tanto o que é a mineração como o que ocorre em outros países deve ser explicado, além dos pontos da proposta que está sendo discutida na Câmara.
O deputado Édio Lopes lembrou que, pela Convenção, é papel do Executivo organizar esse tipo de consulta, e a comissão vai participar para fornecer informações e debater com as lideranças indígenas. “Precisamos encontrar uma forma legal para participarmos oficialmente, mas não resta dúvida de que é papel da Funai organizar os encontros”, disse.
Demarcação de terras
Na reunião com os integrantes da Comissão Especial sobre Exploração de Recursos em Terras Indígenas, os deputados aproveitaram para questionar a presidente da Funai sobre processos em andamento para demarcação de terras indígenas.
Os deputados Paulo César Quartiero (DEM-RR) e Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) criticaram a política de demarcações do órgão. Quartiero chegou a dizer que os índios da Terra Indígena Raposa Serra-do-Sol, caso emblemático porque o processo de demarcação chegou a ser questionado no Supremo Tribunal Federal, foram deixados à mingua após a repercussão do caso na mídia.
Desocupação
O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) também questionou a presidente sobre a demarcação de uma reserva na área da fazenda Suiá-Missú, localizada na região do Alto Boa Vista, em Mato Grosso. Ele pediu providências, porque uma liminar obriga a desocupação no início de dezembro, e pode haver conflitos na região.
A presidente da Funai disse aos deputados que as demarcações estão sendo estudadas pelo Ministério da Justiça, e o ministro já esteve na Câmara para explicar o que está sendo feito. Marta disse que está a par da situação no Mato Grosso e vai dar atenção ao problema, que está sendo resolvido por vários órgãos do governo federal.
O presidente da comissão, deputado Padre Ton (PT-RO), marcou para a próxima terça-feira uma decisão sobre o calendário das reuniões com os representantes indígenas.
FONTE   :    ‘Agência Câmara Notícias

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

'Estamos esperando há 20 anos', diz indígena sobre demarcação em MS


A comitiva do Governo Federal enviada a Mato Grosso do Sul para discutir a questão fundiária envolvendo indígenas e produtores rurais reuniu-se com autoridades locais e representantes de comunidades indígenas na manhã desta sexta-feira (30), em Campo Grande, no plenário da Assembleia Legislativa. Os representantes debatem elaboração de alternativas para os conflitos envolvendo índios das etnias guarany-kaiowá, guarany e fazendeiros.
Um dos participantes do encontro, o líder indígena terena Elizur Gabriel disse ao G1 que pretende chamar a atenção para o processo de demarcação de uma área de 17,5 mil hectares, na região próxima da Terra Indígena Buriti, onde vive, no município de Sidrolândia, a 70 km de Campo Grande. "Temos uma área que já foi estudada e confirmada que era terra indígena. Há mais de 20 anos estamos esperando. Queremos que isso seja solucionado principalmente para as nossas próximas gerações", diz o terena.
Uma coletiva de imprensa está marcada para as 13h (horário de MS), quando serão apresentados os encaminhamentos da reunião.
O grupo é formado por representantes do Ministério da Justiça, Fundação Nacional do Índio (Funai), Casa Civil, Secretaria Geral da Presidência da República, Secretaria de Direitos Humanos, Advocacia Geral da União, Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Conselho Nacional de Justiça e Secretaria de Patrimônio da União.
Queremos que isso seja solucionado não só por nós, mas principalmente para as nossas próximas gerações"
Líder terena Elizur Gabriel
O senador Waldemir Moka (PMDB-MS), um dos participantes do encontro, disse ao G1 antes do início dos trabalhos que apresentou, no Senado Federal, proposta de emenda ao Orçamento Geral da União que prevê recursos da ordem de R$ 100 milhões para indenizar para proprietários de terras demarcadas como área indígena.
"O relator-geral do Orçamento, senador Romero Jucá, já disse a nós, parlamentares, que quer ajudar na questão. A emenda já foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e agora segue para as comissões setoriais, onde serão discutidos os valores. Acredito que a tramitação da emenda seja concluída até o fim do ano", afirmou o senador.
Participam da reunião o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, deputados estaduais, congressistas de Mato Grosso do Sul, procuradores do Ministério Público Federal no estado, entidades de classe e indígenas da Aty-Guasu (Grande Assembleia Guarany).
No sábado (1º), a comitiva viaja até Douradina, a 194 km de Campo Grande, para participar da Aty-Guasu na aldeia Panambi - Lagoa Rica. São esperados cerca de 500 indígenas de todo o estado no evento.
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Indígenas processam governo paraguaio por venda de terras

Uma comunidade indígena paraguaia da etnia Guaraní Ñandéva tornou oficial nesta quinta-feira (29) uma demanda judicial contra o governo de Federico Franco diante a venda para interesses privados das terras onde estão assentados.

O Instituto Nacional do Indígena (Indi), com autorização de seu presidente, Rubén Quesnel, decidiram a comercialização de 25 mil hectares dos terrenos pertencentes a Comunidade Cuyabia do povo Ayreo, segundo a demanda introduzida.

As terras em questão estão localizadas no distrito de Mariscal Estigarribia, departamento de Boquerón, na planície do Chaco paraguaio e o titular do Instituto ordenou sua venda para Julia Beatriz Vargas.

A organização não-governamental After Vida denunciou o feito e o qualificou de grave violação dos direitos humanos dos indígenas integrantes da comunidade mencionada, além de considera um desrespeito as leis vigentes.

Esta mesma organização informou que o aconteceu é resultado de um desconhecimento sistemático dos direitos fundamentais do povo Ayreo, consagrados constitucionalmente e reconhecidos em acordos e convênios internacionais ratificados pelo Paraguai.

Nessa mesma linha expressou o presidente da União Nativos Ayoreos do Paraguai (Unap), Domingo Gaakay, que sustentou que a atuação do Estado é muito grave “Nos surpreende totalmente, nunca imaginamos que o presidente do Indi, estivesse fazendo isso”.

O dirigente da Unap agregou que “me preocupa esta atitude deste presidente [Federico Franco], mas de todas as maneiras já estamos levando o caso com nosso advogado”, nossos direitos estão sendo violados”.

De acordo com um documento revelado em 25 de maio de 2011 para o diretor executivo da ONG, Víctor Benítez Insfrán e a então presidenta do Indi, Lida Acuña, o Estado paraguaio tinha adquirido as mencionadas terras que foram de Eugenio Sanabria Cantero para a comunidade indígena San Lázaro da etnia Guaraní Ñandéva.

Por ser território ancestral dos ayoreos, a comunidade San Lázaro cedeu 25 mil hectares para a comunidade ayoréa para que trabalhassem. Diversas organizações sociais apresentaram denuncias que atribuem terrenos pertencentes a grupos indígenas e camponeses, algo que segundo estas comunidades aborígenes repetiu-se nos últimos meses.

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Lideranças indígenas acreditam em avanços nas negociações para fim de conflitos




Para as lideranças indígenas que acompanham a reunião com a comissão da Presidência da República na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, nesta manhã, as negociações para o fim dos conflitos tem avançado com a presença do Governo Federal. Porém, os índios reclamam que ainda tem poucos representantes nestas discussões.
Ricardo Guarani, que representa os povos da etnia Guarani-Kaiowá, acredita que houve evolução para que os indígenas retornem as áreas demarcadas. “Temos condições de lidar, só falta nos darem as terras”, afirmou.
Participam da mesa de debates diversas lideranças indígenas, além da bancada estadual e federal, e representantes dos produtores rurais. “Há 10 anos ocupamos e lutamos por uma aera de 17 mil hectares na região entre Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti. Esperamos que a mobilização dê resultado”, comentou Daniel Campos Filho, líder Terena do acampamento Córrego do Meio, onde moram cerca de 10 mil indígenas.
Para o presidente estadual de Direito das Comunidades Indígenas, Danilo de Oliveira, a negociação é válida, mas os índios devem ter autonomia. “Temos os órgãos de proteção, mas eles não podem falar por nós. Não precisamos de interlocutores”, afirmou. 
A vinda da comissão da Presidência da República pretende por fim no conflito entre indígenas e produtores por terra. Uma das propostas é a criação de um fundo de R$ 100 milhões para a indenização aos produtores. 

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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Morre um bebê indígena de 28 dias em Dourados, segundo médicoo bebê estava com pneumonia o que pode ter levado ao quadro de desnutrição severa



Familiares velam o corpo do bebê de 28 dias, que morreu ontem num acampamento na aldeia Bororó. O sepultamento está marcado para às 15h de hoje, no cemitério na Reserva de Dourados. Conforme noticiou ontem o Douradosagora, a criança foi encontrada morta numa rede.
Segundo informações colhidas pelo Douradosagora, esta manhã junto aos familiares da criança, a jovem mãe de 13 anos vinha amamentando o menino e também completava a alimentação na mamadeira.
Mas, conforme a família, o bebê estava com pneumonia, o que pode ter levado ao quadro de desnutrição severa, causa da morte segundo o laudo médico assinado pelo médico legista Raul Grigoletti.
A agente de saúde, a caiuá Sarita Gonçalves, disse ao Douradosagora que mãe e filho chegaram sábado no acampamento na Bororó. Segundo ela, no local onde moraram antes - 'na beira da pista' (na região de Ponta Porã), não há acompanhamento médico nem cesta básica.
"Esta mãe não teve pré-natal, a criança não foi vacinada e, depois de chegarem aqui, só fomos saber deles quando avisaram que o bebê estava morto", conta a agente que atua há 11 anos em unidade de Saúde da Aldeia Bororó onde, segundo ela, a população dispõe de todos os serviços, incluindo acompanhamento médico para parturientes e recém nascidos.

A DESNUTRIÇÃO

A desnutrição de crianças indígenas assombrou a população do estado na década passada. De 2005 a 2007 a desnutrição "assombrou" as aldeias Jaguapiru e Bororó na cidade e foram destaques no país pela mortandade de crianças. Em 2005 foram registrados pelo menos 27 mortes por desnutrição; 14 em 2006 e oito em 2007.

CESTA BÁSICA

A entrega de cestas básicas é um problema sério nas aldeias da região sul do Estado. Muitas famílias não são cadastradas nos programas do governo federal e não recebem bolsas em dinheiro, dependendo exclusivamente das cestas básicas. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e Governo do Estado são responsáveis pela aquisição dos alimentos, distribuídos pela Funai.

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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Indigenas em universidades Federais


Uma série de recomendações às ações afirmativas foram apresentadas por especialistas em um seminário de avaliação sobre os dez anos do sistema de cotas, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Ao final do encontro, na quinta-feira (22), foi divulgada uma carta com 12 pontos, sinalizando os desafios para a nova lei de cotas, como a permanência dos estudantes e a entrada de indígenas, que podem ficar subrepresentados. Em agosto deste ano, a presidenta Dilma Rousseff aprovou a Lei 12.711, determinando a reserva de 50% das vagas das instituições federais de ensino para estudantes de escolas públicas, com base na renda familiar e na cor/raça deles, em quatro anos. Reunidos na Uerj, primeira universidade do país a ter cotas raciais, os especialistas destacaram a necessidade de mais recursos do Ministério da Educação (MEC) para manter esses alunos não apenas com ações extras na área acadêmica, mas também com nas áreas social e cultural.
Outra preocupação é com a subrepresentação e as especificidades de alunos indígenas. “Considerando que a lei determina que as universidades devem seguir os percentuais de cada população do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na seleção e que em alguns estados o percentual de índios é de 0,4%, corremos o risco de não ter nem um índio por curso”, explicou a professora da Uerj Elielma Machado. O estudante Amaré Gonçalves, da União dos Estudantes Indígenas do Tocantins, que participou do seminário, lembrou que mais da metade dos índios deixam as universidades em menos de um ano por falta de apoio e de entendimento dos valores e práticas culturais. A carta também cobra o levantamento e a divulgação de dados sobre alunos cotistas e não cotistas. Nos últimos dez anos muitas informações foram retidas pelas reitorias, avaliaram os especialista.
“Isso permitiu que uma certa experimentação fosse feita sem que os erros fossem penalizados e sem que a imprensa polarizasse os dados”, explicou o coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa da Uerj, João Feres. “Mas essa lógica agora se tornou impraticável”, completou, sobre o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou as cotas constitucionais. O documento menciona ainda o combate o racismo institucional, principalmente em sala de aula. “Estou cansada de receber aluno que chega para mim e diz: até aqui eu consegui chegar, mas daquele cara eu não vou passar, não tem jeito, tudo o que eu faço ele [o professor] diz que está ruim, que não presta”, contou a professora Maria José de Jesus Alves Cordeiro, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
A universalização do ensino superior “como expressão da garantia do direito à educação” e ações afirmativas na escolha de bolsistas de mestrado e de doutorado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) também estão na carta. Durante o evento, o assessor do MEC Thiago Thobias informou que a pasta estuda criar um comitê para acompanhar a nova lei de cotas e facilitar a troca de experiências entre as instituições. O foco são as políticas bem sucedidas de permanência. Thobias também adiantou que o MEC deverá transferir diretamente o dinheiro de bolsas para os cotistas, por meio de um cartão, como é feito com os alunos da pós-graduação.
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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mulheres indígenas pedem proteção


A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investiga a violência contra a mulher no Brasil, reuniu-se na cidade de Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, com mulheres indígenas representantes das etnias Caiuá, Guarani e Terenas. A reunião, que ocorreu nos dias 11 e 12 de novembro, contou com a presença da relatora da CPMI, senadora Ana Rita e da promotora de Justiça do Estado de Mato Grosso Lindinalva Rodrigues Dalla Costa.

No encontro, as índias afirmaram que são muito discriminadas e que não possuem um local específico para pedir apoio. Destacaram, ainda, a invisibilidade da mulher indígena, afirmando que as comunidades indígenas estão sofrendo muito com o mau atendimento nas delegacias do Estado quando são violentadas pelos companheiros índios e não índios. “Os não índios riem da cara da gente e dizem que estamos com maridos que batem porque queremos. A mulher indígena não tem vez. Queremos a Lei Maria da Penha para as mulheres índias”, disse uma delas.

As mulheres índias também ressaltaram que, reiteradamente, ocorrem casos de estupro cometido pelos “brancos” contra as índias. Segundo elas, seria muito importante a presença de intérpretes nas delegacias de polícia para registrarem as ocorrências e representantes por etnias nas diversas esferas de governo. Além da proteção da Lei Maria da Penha, elas também requereram uma cartilha sobre o tema com os respectivos idiomas. “Todas as mulheres, inclusive as indígenas, merecem proteção e não estão obrigadas a tolerar a violência doméstica. A CPMI quer providências urgentes para atender a demanda das mulheres indígenas vítimas de violência no MS”, afirmou a relatora da CPMI.

A promotora de Justiça Lindinalva Rodrigues Dalla Costa, que auxiliou a CPMI nas diligências e audiência pública, lamentou a situação da mulher indígena em em Mato Grosso do Sul. “Sabemos do sofrimento de nossas mulheres no país por conta da violência doméstica, mas assistir as lamentações e denúncias das mulheres indígenas foi especialmente desalentador, uma vez que além de mulheres agredidas, são indígenas, o que as insere em situação de dupla vulnerabilidade. Elas depositam muita esperança na Lei 11.340/2006, acreditando que poderá ajudá-las na punição de seus agressores”.

A jurista que acompanha e auxilia a CPMI da Violência Doméstica Carmen Hein de Campos e o cientista político José Pennafort também participaram da reunião, que ocorreu na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Jornal AJIndo ed. 31° chegou


O AJIndo traz Notícias, textos, reflexões e desenhos referente as temática indígena sendo: - Matéria de capa na Pg 06 e 07 – Escolas indígenas de Dourados têm média do IDEBabaixo das escolas públicas do município - O que é o Ideb? ; Pg 02 O mês mais esperado pelos povos indígenas; Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas - Pg 03Reserva Indígena de Dourados tem Correios - Como enviar uma correspondência; - Pg 04, Interagindo com sua própria história  - Alunos da Escola Francisco Meireles visitam Universidade e Museu do Índio, em Campo Grande - Campanha contra o lixoAJI promove oficina de conscientização na Reserva Indígena de Dourados; - Pg 05, Ameaça de despejo em Passo Piraju, Lideranças dizem que imprensa douradense faz “pressão psicológica”;  - Pg 08, Projeto Marangatu Equipe da Sesai e membros da AJI promovem atividades com jovens na Aldeia Lagoa Rica ; - Pg 09 PNUD/PCSAN promove oficinas de fogões geoagroecológicos na Terra Indígena de Panambizinho - O que é o PNUD/PCSAN; - Pg 10, Meio Ambiente: um diálogo entre os povos, campanha contra o lixo na aldeia de Dourados ; - Pg 11, Notas curtas sobre acontecimentos na aldeia de Dourados e desenhos de alunos doCRAS da Reserva Indígena de Dourados feitos nas oficinas sobre lixo e meio ambiente, do projeto “Meio Ambiente: um diálogo entre os povos” ; - Pg 12, Galeria de fotos de eventos no II semestre de 2012. 
Clique aqui e leia a ediçao - 31.pdf
 

Conflito entre policiais federais e indígenas

O Ministério Público Federal (MPF) abriu na segunda-feira (19) uma investigação para apurar o conflito entre policiais federais e índios Munduruku da aldeia Teles Pires, na divisa dos estados do Pará e Mato Grosso.

O confronto ocorreu no último dia 7, o índio Adenilson Kirixi Munduruku foi assassinado com três tiros. Além disso, dois policiais e seis indígenas ficaram feridos. Leia mais AQUI.

Na semana passada o MPF, no Pará, recebeu uma representação assinada por 116 organizações e entidades da sociedade civil, que denunciavam supostos abuso de poder e uso de violência contra os índios.

Os procuradores da República Márcia Brandão Zollinger, do MPF em Cuiabá, e Felipe Bogado, que atua em Santarém (PA), determinaram o envio de ofício à Polícia Federal em Mato Grosso com uma série de questionamentos.

O MPF quer saber se foi feita necrópsia, no corpo de Adenilson, para apurar a causa da morte, e se houve a identificação, apreensão e o exame pericial na arma que teria efetuado o disparo contra o indígena.

No ofício, os procuradores da República também solicitam que a PF forneça cópia dos áudios e vídeos que tenham sido gravados nos dias da ação policial e que seja apresentada a relação detalhada de todos os participantes da operação, sejam eles da PF, da Força Nacional de Segurança, do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), da Funai (Fundação Nacional do Índio) ou de quaisquer outros órgãos.

O MPF também quer informações sobre os nomes e contatos das lideranças indígenas com quem no dia 6 teria sido combinada a realização da ação policial.

Boletins médicos
Os procuradores da República também determinaram o envio de ofício ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Cuiabá para solicitar cópias dos boletins médicos dos dois indígenas hospitalizados no Pronto-socorro de Cuiabá.

O MPF vai realizar oitiva dos agentes públicos que participaram da organização logística da operação e dos que executaram a atividade. 



terça-feira, 20 de novembro de 2012

"Geração nem nem"

Mulheres pretas, pardas e indígenas são a maioria entre os 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos que não trabalham nem estudam no País, a chamada "geração nem nem". Cruzamento de dados inédito feito pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a pedido da Agência Brasil, revela que elas somam 2,2 milhões, ou seja, 41,5% desse grupo. Do total de jovens brasileiros nessa faixa etária (27,3 milhões), as negras e indígenas representam 8% - enquanto as brancas na mesma situação chegam a 5% (1,3 milhão).Para o coordenador do levantamento, Adalberto Cardoso, que fez a pesquisa com base nos dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), várias razões explicam o abandono da educação formal e do mercado de trabalho por jovens. Entre elas, o casamento e a necessidade de começar a trabalhar cedo para sustentar a família. Cerca de 70% dos jovens "nem nem" estão entre os 40% mais pobres do País. A gravidez precoce é o principal motivo do abandono, uma vez que mais da metade das jovens nessa situação têm filhos.É o caso de Elma Luiza Celestina, 24 anos, moradora da Estrutural, na periferia de Brasília. A jovem deixou de estudar aos 16 anos, com o nascimento do primeiro filho. Ela continuou frequentando as aulas até terminar o 6º ano do ensino fundamental, mas engravidou novamente meses depois. Com isso, precisou adiar a volta às salas de aula. Desde então, dedica-se quase exclusivamente aos filhos, conseguindo, raramente, alguns bicos como faxineira. Há sete meses, no entanto, quando o terceiro filho nasceu, não assume nenhum compromisso profissional e vive com dificuldade financeira."Como só tenho o 6º ano, não conseguia coisa muito boa, que ganhasse um bom dinheiro. Era mais para fazer faxina mesmo. Mas, agora, não tenho como (trabalhar). Com três filhos é difícil sair para fazer qualquer coisa."Elma vive apenas com a ajuda da mãe, 57 anos, para sustentar as três crianças. Os dois ex-maridos estão presos e não podem reforçar a renda da casa. "O problema é que agora ela (minha mãe) também não está podendo trabalhar, porque está com problema no joelho. E, sem a ajuda dos pais das crianças, está bem difícil", conta a jovem que não consegue fazer planos para o futuro."Se eu quiser coisa melhor, tenho que voltar a estudar, mas não sei se vou conseguir, porque com esses filhos todos como vou fazer?", disse. Ela acredita que engravidou cedo por falta de orientação familiar. "Minha mãe não sabe nem escrever, não tinha como me orientar. Eu acabei engravidando, não me cuidei e engravidei de novo."A gravidez na adolescência também levou Lucineide Apolinário a abandonar os estudos. Aos 25 anos, a moradora da Estrutural está grávida do quarto filho e, sem ter com quem deixar as crianças, desistiu de trabalhar. O atual marido, que é pai apenas do bebê que ainda vai nascer, é ajudante de obras e, mesmo sem ter emprego fixo, assume sozinho as despesas da casa. O primeiro marido morreu há cerca de dois anos. A jovem cursou até a 7º ano do ensino fundamental e lamenta o casamento e a gravidez precoces."Parei de estudar por causa das crianças. Casei aos 15 anos, arrumei filho muito cedo e veio um atrás do outro. Estava apaixonada, era ilusão de adolescente. O problema é que sobra muito para a mulher. A gente tem que se dividir em mil para dar conta dos filhos e da casa e não consegue pensar na gente", diz.Enquanto se prepara para dar à luz a mais um menino nos próximos dias, Lucineide diz que sonha em retomar os estudos "algum dia". Ela espera que os filhos tenham uma história diferente da sua. "Ainda vai demorar um pouco, mas algum dia eu volto a estudar. Para conseguir um emprego melhor tem que estar pelo menos no 1º ano (do ensino médio) e eu quero voltar a trabalhar para poder dar um futuro melhor para os meus filhos, uma história bem diferente da minha", diz.Moradora do Morro do Juramento, na zona norte do Rio de Janeiro, Jéssica Regina Martelo, 22 anos, parou de estudar no 6º ano, quando passou a achar a escola menos interessante do que a vida real. A jovem conta que "era chato" ir à escola e que preferia ficar com as amigas. Órfã de pai e mãe, ela foi criada pelas irmãs e teve a primeira filha aos 17 anos. Envolvido com o tráfico, o companheiro morreu assassinado logo depois do nascimento da menina. Como não pôde contar com o apoio do pai da criança, acabou tendo que trabalhar para se sustentar. Aos 19 anos, Jéssica teve a segunda filha, da união com Jony Felipe Coli, 24 anos, que também não estuda e já tinha dois filhos ao conhecê-la. Ele também não tem emprego formal tampouco estuda, embora cuide dos filhos do relacionamento anterior e que agora fazem parte da nova família. Para sustentar a casa, Jéssica faz bico. "Prefiro ser manicure por conta própria porque tenho mais tempo para cuidar das meninas e o dinheiro fica comigo e com elas, não com o salão."Além da gravidez, outro fator de peso para o abandono da escola, segundo o pesquisador da Uerj, é a falta de perspectiva de vida de jovens pretos, pardos e indígenas, maioria nas escolas públicas, em geral, de menor qualidade. Ele acredita que o estímulo à educação é fundamental para mudar a realidade desse grupo."Uma coisa perversa no sistema educacional do Brasil é o fato de pessoas deixarem a escola porque não têm a perspectiva de chegar ao ensino superior", diz. "As ações afirmativas são importantes por isso. Têm o efeito de alimentar aspirações de pessoas que viam a universidade como uma barreira, mas que vão se sentir estimuladas a permanecer no ensino", destaca.Ao analisar os dados do levantamento, a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Rosângela Araújo diz que é preciso entender o que está por trás do comportamento das meninas. "Não é falta de informação. Tenho certeza de que a maioria conhece um preservativo. Mas tem uma questão da mudança de status, de menina para mulher. Elas podem não ver (o abandono escolar) como um passo atrás, mas no futuro, pode pesar."Segundo o levantamento, embora a taxa de jovens da "geração nem nem" no Brasil seja considerada alta (19,5% do total de pessoas de 18 a 25 anos), o índice não está distante do verificado em países com características demográficas semelhantes onde é comum que a mulher deixe de trabalhar e estudar para se casar. É o caso da Turquia e do México, segundo estudos da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), citados pelo pesquisador da Uerj.A pesquisa também identificou entre os "nem nem" jovens com deficiência física grave e os que saíram da faculdade, mas ainda não estão empregados. Os dados completos constam do estudo Juventude, Desigualdade e o Futuro do Rio de Janeiro, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e deve ter um capítulo publicado em 2013.
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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

CPI da violência contra a mulher debate abuso indígena em MS


A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Mista da Violência Contra a Mulher realizou, nesta terça-feira (13), uma reunião com um grupo de mulheres indígenas, em Campo Grande. O encontro foi motivado por denúncias de violência doméstica e familiar nas comunidades indígenas.
Segundo o Mapa da Violência 2012, em Mato Grosso do Sul, seis mulheres são assassinadas a cada grupo de 100 mil, enquanto a média nacional é de 4,4. Com essa proporção, o Estado ocupa o 5º lugar em número de assassinatos de mulheres. Apesar disso, em todo o Estado, há apenas 12 delegacias especializadas no atendimento de mulheres vítimas de violência, para um total de 74 municípios.
Ponta Porã é a mais violenta de Mato Grosso do Sul, com taxa de 17,8 mortes, ocupando a 10ª colocação entre as 100 cidades mais violentas do Brasil. Já Campo Grande, possui taxa de homicídios de 3,3 e ocupa a 24ª colocação entre as capitais do Brasil no quesito violência contra as mulheres.

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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Reservas indígenas são ''confinamentos''


“Além de expulsar e desvincular os indígenas de seus territórios antigos e comercializá-los, o Estado brasileiro, através da leis inventadas, passou a considerar juridicamente os indígenas como seres sub-humanos e primitivos que estariam ainda em processo de evolução humana. Por isso os indígenas passaram a ser tutelados e dominados pelo Estado-nação”, diz Tonico Benites, antropólogo guarani-kaiowá, à IHU On-Line. Na avaliação dele, a postura do Estado brasileiro contribuiu para que se acentuassem a discriminação e o estigma contra os indígenas, agravando os conflitos e a disputa pela terra.
As reservas indígenas, que buscam demarcar o espaço territorial em que os índios devem viver, segundo determina o Estado brasileiro, são, na avaliação do antropólogo, um espaço de confinamento. “Antes da criação da ‘reserva indígena’, os guarani e kaiowá viviam de modo autônomos, saudáveis e não passavam fome nem miséria. Este confinamento do povo guarani e kaiowá já gerou diversas perdas de referência e de tradições culturais”, lamenta.
O líder indígena enfatiza que “a expulsão e desvinculação dos indígenas de seus territórios antigos, assim como os confinamentos forçados dos guarani e kaiowá em pequena área cercada e vigiada, como se fosse um chiqueiro humano”, é a maior violação dos direitos humanos cometida pelo Estado. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, ele contextualiza os conflitos oriundos da disputa pela terra e informa que a não demarcação de territórios indígenas guarani-kaiowá “gera e alimenta a prática de etnocídio/genocídio”.
A resolução dos conflitos entre indígenas e não indígenas depende da superação da “relação de inimizade existente historicamente. (…) É importante se respeitar como ser humano, proporcionando uma boa interação e relação simétrica, isto é, esquecer um pouco a posição de conhecimento e de superioridade dos não indígenas e a posição de inferioridade dos indígenas. Precisa haver um espaço de prática intercultural, diálogo e intercâmbio de conhecimentos”, assinala.
Tonico Benites (foto abaixo) é graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, com a dissertação intitulada A escola na ótica dos avakaiowá: impactos e interpretações indígenas. Atualmente cursa o doutorado na mesma instituição.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Indígena mulher é eleita para dirigir a Foirn pela primeira vez

A indígena Almerinda Ramos, do povo Tariano, será a primeira mulher indígena a presidir os destinos da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) nos próximos quatro anos.
O fato histórico foi concretizado nesta quinta-feira (8), quando ela foi eleita por maioria de votos, durante o último dia da 17ª Assembleia da Foirn.

O evento reuniu entre os dias 5 e 8 deste mês, no município de São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus), lideranças indígenas e instituições governamentais como a Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind).

Almerinda substitui Abraão de Oliveira França, do povo Baré, e tem como vice diretor-presidente, Isaías Fontes Baniwa, e como suplentes os tukanos Renato Matos e Nildo Fontes, e Marivelton Baré.

A assembleia em São Gabriel, cujo tema foi “Movimento Indígena, Direitos dos Povos e Diálogos sobre Gestão e Sustentabilidade”, também foi marcada pelas comemorações dos 25 anos da Foirn. Entidade foi criada em 30 de abril de 1987, com a missão de defender os direitos dos povos indígenas que habitam a região do rio Negro.

Representada pelo secretário do órgão, Bonifácio José Baniwa, a Seind fez uma explanação dos dez anos de participação indígena no Governo do Amazonas, além do plano de 50 anos, cujo objetivo é integrar as ações governamentais com a formulação, implementação, execução e gestão de políticas públicas de etnodesenvolvimento dos povos indígenas, por meio do programa Amazonas Indígena.

Além de reunir lideranças, o evento também contou com a presença dos representantes de instituições como a Fundação Nacional do Índio (Funai), as secretarias de Estado de Educação (Seduc) e de Produção Rural (Sepror), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a Secretaria de Especial de Saúde Indígena (Sesai) e o Instituto Socioambiental (ISA).

 *Com informações da assessoria de comunicação

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Nota de Esclarecimento


A AJI (Ação de Jovens Indígenas)  e GAPK que é uma ONG que desenvolve trabalhos com os jovens da comunidade da Reserva Indígena de Dourados (RID) há 10 anos. Por sua reconhecida competência, desde julho de 2012 a entidade está atuando em parceria com a Unicef (órgão da ONU com foco nas crianças) na referida Reserva.
Em Agosto de 2012, membros da AJI e outros indígenas convidados deram início a um projeto com a Unicef para tratar de questões sobre a violência na RID. Por conta de algumas falhas, duas pessoas foram desligadas do projeto e, infelizmente, estão fazendo ataques à entidade nas redes sociais.
A AJI lamenta que isto esteja ocorrendo, mas vem a público esclarecer que independentemente da equipe, o projeto será mantido até sua conclusão, prevista para o fim de Novembro.
O trabalho da organização tem reconhecimento nacional e internacional, que se prova com os prêmios recebidos, como Cultura viva, Brazil Foundation, UNICEF, e as parcerias com entidades de respeito incontestável, como a Unicef e a Brazil Foundation, CRÁS (Centro de Referencia de Assistência Social) IWGIA(International Work Group for Indigenous Affairs) Medicina USP, ORE .
É sempre pensando em melhorar a vida da comunidade da Reserva Indígena de Dourados que a AJI orienta o seu trabalho e assim continuará a fazer. Qual quer duvida entre em contato com o telefone abaixo.


Atenciosamente Equipe AJI
Fone: 3422-2617

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Lideranças indígenas querem urgência na demarcação de terras de guarani-caiovás

Lideranças indígenas pediram nesta quinta-feira (1º) urgência na demarcação de terras da etnia guarani-caiovás. Elas participaram de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado. “Já ouvimos muito discurso bonito, recebemos cesta básica, mas isso não resolve. Queremos a demarcação do nosso território”, afirmou o líder caiová Elizeu Lopes.

Segundo ele, até agora, os povos indígenas só estão vendo os índios serem retirados das áreas que ocupam e não há sinais de quando vai começar a demarcação das terras. “Não aguentamos mais viver em baixo de uma lona preta, as crianças tomando água suja, sem ter condição de vida digna com nossas famílias. Os guarani-caiovás vêm morrendo de atropelamento na beira da estrada, ataque de pistoleiro, muitos matando nossas lideranças. Não aguentamos mais isso”, disse Elizeu. Outro ponto destacado pelos representantes guranis kaiowás foi a necessidade de apuração das mortes de líderes indígenas.
A presidenta da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marta Maria Azevedo, também participou da audiência pública e destacou que a situação dos guarani-caiovás é única e a mais preocupante em todo o Brasil. “A gente tem certeza que é preciso um pacto social e que a Funai, sozinha, não dá conta. O processo administrativo de demarcação é longo, é demorado, envolve diferentes atores. Então, por isso, a gente precisa sim de vigilância constante porque a situação é grave.”
O secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cléber Buzatto, cobrou uma melhoria na estrutura dos estados para tratar das questões indígenas. “Não pode ocorrer mais de a Funai gastar com a rubrica de demarcação de terra só R$ 29 milhões, como aconteceu em 2010 e 2011. Isso infelizmente não vai resolver a situação. Para ele, a Funai precisa fazer concursos específicos para viabilizar e acelerar os processos de demarcação de terras indígenas que “ estão muito aquém do que é necessário”.
Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a situação dos guarani-caiovás  precisa ser acompanhada de perto pela Comissão de Direitos Humanos do Senado. “É uma situação que mobilizou a opinião pública, lamentavelmente, só agora. Mas é um drama que os povos guaranis sofrem há muito tempo. É necessário um diálogo permanente com as instituições, com a Funai, com o Ministério da Justiça, com o governo do estado de Mato Grosso do Sul”, ressaltou.
 Autor: Da Agência Brasil

Depressão e suicídios, os dramas das tribos no Estado

Um dos principais tormentos das tribos guarani caiová em Mato Grosso do Sul é o suicídio de jovens. Agripino Silva, 23 anos, um rapaz da aldeia Ipo'y, acampamento de uma fazenda em Paranhos, perto da fronteira com o Paraguai, foi encontrado morto na madrugada do último sábado. A suspeita é que se trate de suicídio, conforme os primeiros relatos da comunidade registrados na Funai.
"O caso está sendo investigado pela polícia", disse ontem a indigenista Juliana Mello Vieira, da Funai de Ponta Porã, que atende as comunidades daquela área. A indigenista explicou que a situação de Ipo'y já está mais avançada que a dos índios que ocupam Pyelito Kue, em Tacuru. De acordo com a Funai, vivem em Ipo'y cerca de 70 famílias, entre 300 e 400 pessoas.
Para um dos líderes da região, Apyka Rendju ("luz brilhante", em guarani), que já foi ameaçado de morte e não divulga seu nome em português, o caso parece ser mais um das centenas de suicídios que ocorrem entre os caiová. Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), lembra o líder guarani, cerca de 1,5 mil índios já morreram desta forma no sul de MS em mais de uma década.
Depressão. De acordo com Apyka Rendju, são pessoas que entram em depressão e se matam. Ele criticou a demora da polícia no episódio. "O pessoal da comunidade se revoltou contra a demora para a retirada do corpo", disse Apyka Rendju. "O corpo ficou lá durante todo o calorento dia de sábado", afirmou. Para ele, a onda de suicídios na região, que já dura mais de uma década, se deve à situação difícil da condição indígena em contato com a colonização branca e a indefinição da questão fundiária. "É muito difícil para algumas pessoas aguentarem a situação", conta ele, que vive em Caarapó, cidade vizinha de Dourados e Ponta Porã. Uma das causas imediatas, segundo líderes indígenas, é o alcoolismo.

 PONTA PORÃ - O Estado de S.Paulo

TRF garante permanência de índios guarani caiová em área no MS

Índios guarani caiová estão liberados para permanecer numa área de 10 mil metros quadrados no sul Mato Grosso do Sul que é objeto de um processo de reintegração de posse. Uma decisão tomada nesta terça-feira, 30, pela desembargadora Cecilia Mello, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª. Região, garante à comunidade o direito de ficar no local até que sejam concluídos os trabalhos de delimitação e demarcação das terras disputadas pelos índios e fazendeiros. 
"O caso dos autos reflete, de um lado, o drama dos índios integrantes da comunidade indígena Pyelito Kue que, assim como outros tantos silvícolas brasileiros, almejam de há muito a demarcação de suas terras. E, de outro lado, o drama não menos significativo daqueles que hoje ocupam terras supostamente indígenas que, na maioria das vezes, adquiriram a propriedade ou foram imitidos na posse de forma lícita e lá se estabeleceram", afirmou a desembargadora na decisão.
"Os indígenas se encontram em situação de penúria e de falta de assistência e, em razão do vínculo que mantêm com a terra que creem ser sua, colocam a própria vida em risco e como escudo para a defesa de sua cultura. Dessa forma, há notícias críveis de que a comunidade indígena Pyelito Kue resistirá até a morte à eventual ordem de desocupação", acrescentou a desembargadora.
Segundo ela, a situação reflete a "total ausência de providências" por parte do poder público relativas à demarcação das terras. "A inércia do poder público e a morosidade do procedimento administrativo contribuem para provocar tensões e conflitos entre índios e fazendeiros, restando ao Poder Judiciário responder ao embate apresentado", disse Cecilia Mello.
Na segunda-feira, 29, a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, recebeu um grupo de índios guarani caiová. O assunto do encontro foi a decisão da Justiça que tinha determinado a desocupação da área na qual vivem os indígenas. Além de vice-procuradora, Deborah Duprat coordena a 6ª. Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, que trata de temas relacionados a populações indígenas e comunidades tradicionais.
Na audiência, os índios entregaram uma carta na qual afirmam que "a comunidade tem uma decisão que não vai sair nem por bem e nem por mal". "Vamos lutar pela nossa terra até o último guerreiro", disseram. Eles também sustentam que houve um suicídio e um estupro na área.
Na ocasião, Deborah Duprat disse que era necessário definir se os indígenas têm ou não direito à terra. "É preciso que os estudos sejam concluídos. Eles não podem viver nessa situação de suspensão, de insegurança", afirmou.
A vice-procuradora afirmou que "há uma reação enorme do setor dito produtivo de Mato Grosso do Sul, algo semelhante ao que aconteceu em Roraima há um tempo. Chega a ensejar quase que um racismo institucional, o Estado colocando suas instituições contra os índios".
 Mariângela Gallucci, de O Estado de S. Paulo

Enquanto o governo se organiza, nossa comunidade morre, diz líder indígena

Líderes indígenas relataram a situação da aldeia guarani caiová a parlamentares em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos do Senado, nesta quinta-feira, 1º. Em meio a disputa judicial com fazendeiros por terras no Mato Grosso do Sul, índios criticaram a lentidão dos governos federal e estadual para resolver a situação.
“Enquanto o governo está se organizando, nossa comunidade está morrendo”, afirmou líder indígena Eliseu Lopes Kaiowá. A disputa de terras entre a aldeia e fazendeiros ganhou repercussão após a divulgação de uma carta do grupo alertando autoridades sobre a intenção de resistirem “até a morte” à decisão judicial que os obriga a deixar uma área de 2 hectares. Ao todo, 170 índios que vivem na terra, localizada numa mata ilhada entre um charco e o leito do Rio Hovy, na divisa da Reserva Sassoró com a Fazenda Cambará, propriedade de 700 hectares, no sul de Mato Grosso do Sul.
Em um depoimento emocionado, o antropólogo Tonico Benites, da etnia caiová, explicou a reação da aldeia. “Eu vou morrer pelo meu povo. Eu vou morrer, pode me matar. Mas para que meu povo continue vivendo. Isso não é suicídio. Para nós, não. A própria liderança tem que morrer para salvar a próxima geração.”
A presença da aldeia na área foi decretada ilegal em setembro e o grupo foi condenado a deixar o local. Nessa semana, a Justiça garantiu a permanência numa área de 10 mil metros quadrados até que seja concluído o trabalho de demarcação das terras em disputa. Para o líder indígena, no entanto, a decisão não garante a solução. “Já ouvimos muitos discursos bonitos, muita promessa. Queremos a demarcação de nosso território. Isso pelo menos minimiza a violência que estamos sofrendo”, disse Eliseu Lopes Kaiowá.
Os representantes da aldeia relataram crimes cometidos contra os índios e a presença de “pistoleiros” na região. “Não queremos prejudicar o agronegócio. Reivindicamos uma parte (da terra). Nós estamos prontos para conversar. Não somos violentos. Não temos armas”, disse o antropólogo.
Para o procurador da República no município de Dourados (MS), Marco Antonio Delfino, a solução é dar a titularidade das terras e indenizar os fazendeiros. Também presente na audiência, a presidente da Funai, Marta Maria do Amaral Azevedo, cobrou mais recursos para os processos de demarcação de terras e o envolvimento efetivo do governo.
Em resposta às declarações dos índios, senadores e deputados propuseram a criação de uma comissão mista para acompanhar as negociações no Estado e visitar a região foco do conflito. Segundo o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), o grupo deve envolver integrantes do Congresso e do Palácio do Planalto. “Nós aguardamos a visita de vocês”, respondeu um integrante da aldeia aos parlamentares.
 Com informações da Agência Senado

Delcídio defende negociação para resolver conflitos indígenas em MS

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) defende uma ampla negociação entre as três esferas de governo, o Ministério Público, representantes das etnias indígenas e produtores rurais, para buscar uma solução definitiva para os conflitos fundiários entre fazendeiros e comunidades indígenas em Mato Grosso do Sul. Para Delcídio, é preciso aprimorar o artigo 231 da Constituição, que trata das indenizações em caso de desapropriação de terras indígenas.
Nesta quarta-feira, dia 31 de outubro, Delcídio discutiu o assunto com a subprocuradora-geral da República, Gilda Carvalho, o procurador da República em Dourados, Marco Antonio Delfino, e o antropólogo da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão das Populações Indígenas e Minorias, Marco Paulo Schetino. Os três foram recebidos em audiência pelo senador em Brasília
Atualmente, Constituição brasileira estabelece que o direito dos indígenas sobre a terra precede toda e qualquer posse ou propriedade e que, em caso de identificação de uma área como indígena, apenas as benfeitorias serão indenizadas aos fazendeiros. Defensor do direito dos índios sobre as terras, Delcídio acredita que a extensão do direito à indenização também ao valor da terra nua poderá ser um fator decisivo para pacificar os atuais conflitos e as divergências em torno da questão.
“O artigo 231 é uma conquista das etnias indígenas”, afirma Delcídio, “mas alguns estados já avançaram nessa questão, como o Rio Grande do Sul e o próprio Mato Grosso do Sul . O governo federal precisa encarar em definitivo essas questões para encaminhar a demarcação das terras indígenas de forma definitiva e trazer tranquilidade para quem vive no campo, que produz, que tem títulos dominiais registrados”, avalia o senador. Ele quer que já no Orçamento de 2013 seja incluída a previsão de recursos para indenizações.
O senador lembrou Mato Grosso do Sul possui a segunda maior população indígena no País e que muito se enriqueceu com essa herança cultural.
“Nós temos uma história proveniente das nossas etnias guaranis, terenas, uma cultura riquíssima, e uma preocupação absoluta em preservar e criar as condições necessárias para que os nossos irmãos e irmãs indígenas vivam com cidadania. Temos a preocupação de respeitar os seus direitos, preservar sua saúde, sua educação”, disse Delcídio.
Ele ponderou que o estado foi ocupado, ao longo das últimas décadas, por milhares famílias de produtores rurais atraídas pela política de colonização feita pelo governo federal, que incentivava brasileiros de outros estados a se mudarem para a região. “Esses produtores também precisam ver contemplados seus direitos”, defende o senador.

Pesquisador da UCDB apresenta artigos em congresso no Chile


Nesta quinta-feira (8), José Francisco Sarmento, pesquisador e coordenador do setor de comunicação do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas da Universidade Católica Dom Bosco (NEPPI/UCDB) e coordenador do curso de Design da Católica, apresenta trabalho em Santiago, no Chile, durante o III Congresso Latino Americano de Antropologia. O evento é realizado pela Associação Latinoamericana de Antropologia – ALA (Asociación Latinoamericana de Antropología) e acontece de hoje (5) a 9 de novembro.
O pesquisador apresenta o artigo “Novas mídias e Interculturalidade entre os índios no Mato Grosso do Sul, Brasil”, escrito por ele em parceria com o professor Neimar Machado, também docente da UCDB e o professor Antônio Brand (in memorian). O texto analisa as trajetórias de inclusão digital nas aldeias de Mato Grosso do Sul, destacando iniciativas e perspectivas visualizadas pelas comunidades quanto à apropriação das novas tecnologias da informação, comunicação e mídias.
De acordo com o artigo, conclusões iniciais indicam que as novas mídias podem constituir-se em instrumento importante no esforço das comunidades de fazer-se ouvir pelo entorno regional, frente ao silêncio dos meios de comunicação de massa. Além de serem importante mecanismo de documentação, fortalecimento cultural e denúncia, essas novas mídias permitem a esses povos manifestar-se como sujeitos etnicamente diferenciados e abrem espaço para uma comunicação intercultural. Os resultados parciais das análises de inclusão digital nas áreas indígenas sinalizam a busca de um "território virtual", sem cercas que confinam, imobilizam. Sem limites para a comunicação indígena, o que permite relativizar as antigas fronteiras impostas pelo colonialismo.
O professor José Francisco apresenta também o trabalho “Novos olhares e os desafios das consequências da perda territorial na Terra Indígena de Caarapó, MS, Brasil”, realizado por Eva Maria Ferreira, pesquisadora do NEPPI e professora do curso de História da UCDB, Rosa Colman, também pesquisadora do NEPPI e Antônio Brand (in memorian). O texto discute os resultados iniciais de um projeto de pesquisa em andamento, voltado para a investigação das consequências da perda territorial e do correspondente confinamento e escassez de recursos naturais sobre o processo de reprodução dos conhecimentos tradicionais, tendo como foco a Terra Indígena de Caarapó.
Congresso
O congresso tem o título "Antropologías en Movimiento. Ideas desde un sur contemporáneo" e é organizado pela Universidade do Chile, Universidade Católica de Temuco, Academia Universidade de Humanismo Cristão, Universidade Arcis, Universidade Alberto Hurtado e Universidad Austral de Chile e convida ao diálogo sobre os objetivos do estudo da Antropologia na América Latina e no mundo. São esperados mais de mil pesquisadores, que apresentarão mais de 900 trabalhos nos 42 simpósios programados.

 Assessoria/NG

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Com celulares à mão, índios, retratam pela 1ª vez suas famílias





A índia Rosy Benites, de 19 anos, registra, a pedido do GLOBO, a imagem da avó, Tereza Martins, xamã guarani que, aos 78 anos, nunca teve uma foto
Foto: Michel Filho / O Globo


A índia Rosy Benites, de 19 anos, registra, a pedido do GLOBO, a imagem da avó, Tereza Martins, xamã guarani que, aos 78 anos, nunca teve uma foto Michel Filho / O Globo
Em DOURADOS (MS),  Tereza Martins, ou, em sua língua, xamã Kaiowá, teve um olhar diferente, desconfiado, quando se viu, pela primeira vez, na tela de uma câmera digital. Logo depois, abriu um sorriso e avaliou:
— Sou bonita.
Aos 78 anos, a xamã guarani nunca tinha tirado uma foto. Na penumbra de sua casa de rezas, na aldeia de Dourados, no Mato Grosso do Sul, quem faz o retrato é Rosy Benites, sua neta de 19 anos, a pedido da reportagem do GLOBO. A garota aprendeu a fotografar em uma oficina de imagem promovida pelo grupo Ação dos Jovens Indígenas (AJI), um movimento que tenta reforçar a identidade e a autoestima dos adolescentes guaranis. Juntou R$ 300 e comprou sua própria máquina em Ponta Porã, vizinha do Paraguai.
Ali, em Dourados, vivem mais de 11 mil índios, em uma reserva próxima à cidade. Rosy mora na aldeia. É estudante, não tem computador ou internet. Vai à cidade para “descarregar” as fotos em um e-mail, usando os serviços de uma lan-house. Vez ou outra, publica as imagens em sua página no Facebook.
— O que eu gosto mesmo é de fazer fotos de natureza, do que temos aqui. Ainda não tinha feito foto dela — diz a garota.
Dona Tereza fala guarani. A neta e Indianara Machado, da AJI, ajudam na tradução:
— A imagem cria uma fortaleza interior, engrandece as pessoas. Com as fotos, os índios estão se fortalecendo por dentro — fala a xamã, para quem essa fortaleza acaba por vencer o temor, reforçado nas cultura indígenas, de que uma foto possa capturar suas almas:
— Só de animal é que não pode fazer foto. Senão ele morre.
Com a máquina na mão, Rosy confirma a teoria da avó.
— Só faço foto de bicho se não gosto dele — diz, rindo.
A fotografia é algo novo naquela família. Rosy não tem fotos de nenhum de seus ancestrais. O que sabe é o que a avó conta. Os olhos de dona Tereza são claros, parecidos com os do bisavô de Rosy. E dona Tereza tem de fechá-los para poder lembrar dos pais, da vida de criança.
A anciã vai até sua casa e volta com uma roupa de cerimônia. Segura os paramentos de reza e diz que gostaria de ser lembrada pelos parentes com a indumentária usada quando canta nas festas da casa de rezas:
— Quero que a aldeia se lembre de mim assim.

O GLOBO

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Guarani Kaiowá: Vice-procuradora da República diz ser preciso garantir presença do Estado em áreas de conflito

Lideranças indígenas das etnias Kaiowá Guarani e Terena, do Mato Grosso do Sul, se reuniram na tarde desta segunda-feira, 29, com a vice-procuradora geral da República Deborah Duprat, na 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF), em Brasília. “É preciso garantir a presença do governo federal nas áreas de conflito. Em questão de políticas públicas a área de retomada precisa ser prioritária em saneamento, saúde, instalações provisórias e escolas”, defende Deborah Duprat.
A questão da segurança das comunidades, morosidade na demarcação de terras e denúncia de ameaças contra os indígenas foram os principais assuntos do encontro. “Estamos diante da situação mais complicada da demarcação de terras indígenas (TI) do país, pois há na região uma forte resistência política e econômica”, declara Deborah Duprat. A taxa de homicídios em Mato Grosso do Sul é alarmante e chega a 140 para cada 100 mil habitantes, superando países em estado de guerra, como o Iraque.
“Para acabar a violência é preciso demarcar terra e a Funai divulgar o relatório final do Grupo de Estudo. O Estado não respeita nosso direito e não considera que somos cidadãos. O governo já deixou bastante claro e não vai apoiar a questão indígena”, afirma Otoniel Ricardo, membro da Aty Guasu e do Conselho Continental Guarani.
“A gente não escuta indígenas que mataram fazendeiros, mas o contrário sim. Solicitamos a Força Nacional segurança na região, mas não tivemos resposta até agora”, afirma Lindomar Terena.
A morosidade na demarcação de terras é uma das principais causas da violência na região. Nos últimos anos pouco se avançou no reconhecimento das terras indígenas. Dois motivos ganham destaque: o grupo técnico da Funai é impedido de entrar nas fazendas para a realização dos estudos e o governo federal não se empenha em fortalecer o trabalho do órgão indigenista, aliando-se ao latifúndio.
“Há um racismo institucional, o Estado que coloca suas instituições contra os índios, exige da Funai cautela. Seria uma injustiça responsabilizar apenas a Funai. O Judiciário também é culpado, cada vez que se avança em algo, temos uma decisão judicial contrária aos direitos indígenas”, reitera a vice-procuradora.
“No nosso tekoha continuamos na margem do rio ou vamos sair para cima e terminar a retomada. Se os fazendeiros e pistoleiros atacarem, nós não vamos sair”, conta o Líder Lopes, de Pyelito Kue. No caso dessa terra indígena a ação judicial que determina a saída permanece e os indígenas podem ser despejados a qualquer momento. O MPF e a Funai entraram com recurso, mas o caso aguarda decisão do Tribunal Regional Federal da 3° Região (TRF-3).
Suicídios: situação intermitente
Nos últimos dias interpretações equivocadas sobre a carta da comunidade de Pyelito Kue circularam na grande mídia e redes sociais. Na carta os indígenas Guarani Kaiowá denunciam a morte coletiva efetuada pela Justiça brasileira, caso a ordem de despejo decretada pela Justiça de Narivaí (MS) seja realizada. Não falam em suicídio coletivo. Porém, a violência que acomete esse povo perpassa por um número elevado de suicídios – sobretudo ente os jovens
Na madrugada do último sábado, 27, o jovem Guarani Kaiowá Agripino da Silva, de 23 anos, se matou. Entre 2000 e 2011 foram 555 suicídios entre os Kaiowá e Guarani motivados por situações de confinamento, falta de perspectiva, violência, afastamento das terras tradicionais e vida em acampamentos às margens de estradas. Nenhum dos referidos suicídios ocorreu em massa, de maneira coletiva, organizada e anunciada. “Não tem oportunidade para a gente crescer, tem que ter um projeto voltado para nosso povo”, diz Otoniel.
Outro caso de violência dá conta de denúncia feita por uma jovem de Pyelito Kue. A indígena afirma ter sido violentada por um grupo de pistoleiros em Iguatemi. A polícia investiga o caso depois que a perícia médica confirmou o estupro. “A paciência dos Guarani Kaiowá acabou. As comunidades decidiram partir para a ação mesmo. Na mídia só se anuncia a questão do suicídio coletivo, mas não colocam a razão. Para os fazendeiros é mais fácil falar que são os indígenas que estão se matando, mas na verdade está acontecendo um genocídio por parte da Justiça e do Governo”, diz Eliseu Lopes Guarani Kaiowá e representante do povo na Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros (Apib).
A morte do cacique Nísio Gomes, tekoha Guaiviry que teve seu acampamento invadido por homens armados, onde o sequestraram o corpo, até hoje desaparecido, também foi lembrado na reunião com a presença de seu filho. “Vai fazer um ano que meu pai está desaparecido. Os mandantes estão soltos, mas os executores estão presos, queremos resultado, alguma coisa, pelo menos algum osso. Meu pai deixou sangue na nossa terra e não vamos sair de jeito nenhum”, conta Genito Gomes.
Nos últimos dez anos, os Guarani Kaiowá ocuparam apenas dois mil hectares de terras, sendo que apenas três terras indígenas foram homologadas. Conforme o último censo do IBGE (2010), o povo é composto por 43 mil indígenas, sendo a segunda maior etnia do país os Tikuna (AM) são 46 mil.
Kadiwéu
Durante a reunião, os Guarani Kaiowá e Terena lembraram da luta travada pelos Kadiwéu contra os invasores de suas terras – demarcadas há mais de 100 anos e homologadas há pelo menos 30. Os indígenas retomaram, durante este ano, 23 fazendas situadas dentro da terra indígena como meio de sensibilizar a sociedade e solucionar o problema.
A área de retomada é um dos principais focos de violência e conflitos entre pistoleiros. “Os fazendeiros já decretaram o derramamento de sangue, mas nós não vamos sair de nossa terra. Enquanto não tiver demarcação definitiva não vai minimizar os problemas”, reitera Eliseu.

Por Luana Luizy,
de Brasília (DF)

Dourados: em Nhu Verá, indígenas Kaiowá enfrentam novo despejo

As 79 famílias da comunidade Kaiowá de Nhu Verá, no município de Dourados, tem até meados de novembro para saírem de seu tekoha - o território sagrado. Uma decisão da Justiça Federal em Dourados autoriza a desocupação e reintegração de posse de 26 hectares de terra ocupados pelos indígenas. Foi autorizado o uso de força policial, caso os indígenas resolvam permanecer no território.

Segundo a decisão, os Kaiowá deverão desocupar a área no prazo de trinta dias, a partir da data da intimação dos indígenas, e receberão multa diária no valor de 100 reais no caso de nova ocupação.

Grudados à Reserva Indígena de Dourados, ladeados por plantações de soja e eucalipto e cortados por uma estrada, os Kaiowá tiveram suas terras arrendadas e griladas ao longo do século vinte, conforme relatam. Em maio de 2011, retomaram 26 hectares de seu território tradicional.

"Quando a gente retomou, o fazendeiro chegou e perguntou: o que aconteceu aqui? Algum acidente? Aí explicamos que ali era nosso, que eles já tinham usado muito a terra. Era a retomada", relata a liderança indígena de Nhu Verá, Shatalim Graito.

"Ele ficou me procurando, queria negociar. Eu não negociei. Dinheiro acaba. Eu quero terra pra minha comunidade. A terra não é do fazendeiro, é nossa", expõe. "É nossa, do tempo do meu avó, do meu bisavô. Meus parentes moraram aqui e morreram aqui. Por isso fizemos isso, voltamos pra cá, e vamos ficar aqui", explica.

Sobre a área indígena destes Kaiowá incide a Fazenda Curral de Arame. Seus proprietários, Achilles e Lenita Decian, ajuizaram ação possessória na Justiça Federal. No dia 16 de outubro, o juíz José Luiz Paludetto deferiu o pedido de liminar dos dois fazendeiros e expediu mandado de desocupação e reintegração de posse da área.

FORÇA POLICIAL

Houve audiência de tentativa de conciliação, "a qual restou infrutífera", segundo afirma o despacho.

No caso do descumprimento da desocupação, o mandado deverá ser cumprido "moderadamente, com as cautelas que o caso exige", indica o documento. Mas completa: "em caso de resistência, fica autorizado desde já o uso de força policial".

Para Shatalim, o arrendamento das terras em acordos mal explicados e a sequente grilagem das terras foram responsáveis pela perda do terrítorio original. "Começou assim, no tempo em que alguém alugou para fazendeiro que morava aqui perto. Alugou pra dar de comer. Só que aí depois eles fecharam, fizeram cerca. Deu uma vaca, um porco, e depois disso fizeram documento. Pessoal antigo, que não tem estudo, fez isso assim. Foi enganado. Fazendeiro tirou esse nosso pedaço, essa nossa parte da terra", aponta.

FUNAI

O juíz refuta a alegação dos indígenas de se tratar de terras tradicionais porque, "a despeito do argumento, não trouxeram [os indígenas] nenhum documento que comprovasse" que Nhu Verá é território tradicionalmente ocupado pelos índios. Como a área não foi reconhecida como indígena pela União, a Justiça não teria elementos para assim o fazê-lo.

Toda a decisão do juíz é baseada no trabalho inconcluso do órgão governamental.  "Enquanto não iniciado e concluído o trabalho de identificação e demarcação, as terras (...) não podem ser classificadas como (...) indígenas".

Segundo a decisão, a Funai afirmou que "seria constituído Grupo Técnico ainda este ano para o estudo de identificação das terras tradicionalmente ocupadas por indígenas, mas ainda não há nos autos qualquer notícia concreta quanto a este fato".

CONFINAMENTO

No tekoha Nhu Verá, as famílias plantam mandioca, abacaxi, banana, milho, manga, pokã. "Sem veneno. Tudo bonito. Gosto de deixar herança. Todo ano dá muita pokã. A gente não dá nem conta de comer", diz Shatalim. "Nós precisamos de espaço. Hoje já não é assim e por isso os índios brigam demais", referindo-se à vida de confinamento nas reservas indígenas.

"Índio gosta o mato. Quando eu tenho que ir na cidade resolver alguma coisa, eu chego lá, me incomodo. Fico dez minutos e quero ir embora. Eu gosto é do mato. Fico o maior alegre quando tô no mato. Eu chamo tudo bicharada. Por isso quero ficar aqui", aponta.

A COBRA

Shatalim e os Kaiowá tem certeza de que ficarão na terra, e conta a história da cobra para nos explicar o porquê. "Depois da retomada, uma cobra chegou na minha barraca. Uma jaracara amarela, grossa. De noitezinha. Eu tomando chimarrão e ela apareceu no fundo. Apontei o fogo e vi que era muito grande". Shatalim conta que matou a cobra a pancadas - e que isto significou não só eliminar a ameaça do animal peçonhento, mas também a vitória na reconquista da terra. "O sinal era muito brabo, muito feio. Depois, eu nunca mais vi cobra aqui depois, nem minhoca. A cobra representa que eu venci ele. Porque eu peguei ele. Se ela [a cobra] me pagasse,  ele [o fazendeiro] ia me vencer. Se ela pegasse no meu pé, na minha mão, ele ia me vencer. Aí eu já ia saber que o fazendeiro ia me vencer. Mas como eu bati, eu matei eu venci dele". E termina: "aqui eles não entram. Minha reza é forte. Aqui quem manda é o maracá".



 Ruy Sposati,
de Campo Grande (MS)