Líderes indígenas relataram a situação da aldeia guarani caiová a
parlamentares em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos do
Senado, nesta quinta-feira, 1º. Em meio a disputa judicial com
fazendeiros por terras no Mato Grosso do Sul, índios criticaram a
lentidão dos governos federal e estadual para resolver a situação.
“Enquanto o governo está se organizando, nossa comunidade está
morrendo”, afirmou líder indígena Eliseu Lopes Kaiowá. A disputa de
terras entre a aldeia e fazendeiros ganhou repercussão após a divulgação
de uma carta do grupo alertando autoridades sobre a intenção de resistirem “até a morte”
à decisão judicial que os obriga a deixar uma área de 2 hectares. Ao
todo, 170 índios que vivem na terra, localizada numa mata ilhada entre
um charco e o leito do Rio Hovy, na divisa da Reserva Sassoró com a
Fazenda Cambará, propriedade de 700 hectares, no sul de Mato Grosso do
Sul.
Em um depoimento emocionado, o antropólogo Tonico Benites, da etnia
caiová, explicou a reação da aldeia. “Eu vou morrer pelo meu povo. Eu
vou morrer, pode me matar. Mas para que meu povo continue vivendo. Isso
não é suicídio. Para nós, não. A própria liderança tem que morrer para
salvar a próxima geração.”
A presença da aldeia na área foi decretada ilegal em setembro e o grupo foi condenado a deixar o local. Nessa semana, a Justiça garantiu a permanência
numa área de 10 mil metros quadrados até que seja concluído o trabalho
de demarcação das terras em disputa. Para o líder indígena, no entanto, a
decisão não garante a solução. “Já ouvimos muitos discursos bonitos,
muita promessa. Queremos a demarcação de nosso território. Isso pelo
menos minimiza a violência que estamos sofrendo”, disse Eliseu Lopes
Kaiowá.
Os representantes da aldeia relataram crimes cometidos contra os
índios e a presença de “pistoleiros” na região. “Não queremos prejudicar
o agronegócio. Reivindicamos uma parte (da terra). Nós estamos prontos
para conversar. Não somos violentos. Não temos armas”, disse o
antropólogo.
Para o procurador da República no município de Dourados (MS), Marco
Antonio Delfino, a solução é dar a titularidade das terras e indenizar
os fazendeiros. Também presente na audiência, a presidente da Funai,
Marta Maria do Amaral Azevedo, cobrou mais recursos para os processos de
demarcação de terras e o envolvimento efetivo do governo.
Em resposta às declarações dos índios, senadores e deputados
propuseram a criação de uma comissão mista para acompanhar as
negociações no Estado e visitar a região foco do conflito. Segundo o
senador Delcídio do Amaral (PT-MS), o grupo deve envolver integrantes do
Congresso e do Palácio do Planalto. “Nós aguardamos a visita de vocês”,
respondeu um integrante da aldeia aos parlamentares.
Com informações da Agência Senado
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