Um dos principais tormentos das tribos guarani caiová em Mato Grosso
do Sul é o suicídio de jovens. Agripino Silva, 23 anos, um rapaz da
aldeia Ipo'y, acampamento de uma fazenda em Paranhos, perto da fronteira
com o Paraguai, foi encontrado morto na madrugada do último sábado. A
suspeita é que se trate de suicídio, conforme os primeiros relatos da
comunidade registrados na Funai.
"O caso está sendo investigado pela polícia", disse ontem a
indigenista Juliana Mello Vieira, da Funai de Ponta Porã, que atende as
comunidades daquela área. A indigenista explicou que a situação de Ipo'y
já está mais avançada que a dos índios que ocupam Pyelito Kue, em
Tacuru. De acordo com a Funai, vivem em Ipo'y cerca de 70 famílias,
entre 300 e 400 pessoas.
Para um dos líderes da região, Apyka Rendju ("luz brilhante", em
guarani), que já foi ameaçado de morte e não divulga seu nome em
português, o caso parece ser mais um das centenas de suicídios que
ocorrem entre os caiová. Segundo dados do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), lembra o líder guarani, cerca de 1,5 mil índios já
morreram desta forma no sul de MS em mais de uma década.
Depressão. De acordo com Apyka Rendju, são pessoas que entram em
depressão e se matam. Ele criticou a demora da polícia no episódio. "O
pessoal da comunidade se revoltou contra a demora para a retirada do
corpo", disse Apyka Rendju. "O corpo ficou lá durante todo o calorento
dia de sábado", afirmou. Para ele, a onda de suicídios na região, que já
dura mais de uma década, se deve à situação difícil da condição
indígena em contato com a colonização branca e a indefinição da questão
fundiária. "É muito difícil para algumas pessoas aguentarem a situação",
conta ele, que vive em Caarapó, cidade vizinha de Dourados e Ponta
Porã. Uma das causas imediatas, segundo líderes indígenas, é o
alcoolismo.
PONTA PORÃ - O Estado de S.Paulo
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