O
objetivo desta nota das lideranças da Grande Assembleia Guarani e
Kaiowá Aty Guasu é lamentar o atropelamento e morte da liderança Guarani
Kaiowá “Zezinho” ou José de Almeida Barbosa, da terra em conflito Laranjeira
Ñanderu, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Além disso, é
socializar a trajetória de luta árdua do Zezinho, que é uma luta comum
às outras lideranças Guarani e Kaiowá.
Ele
era umas das lideranças ameaçadas de morte por lutar pelas efetivações
dos direitos indígenas e justiça. Por essa razão, o Zezinho falava de
forma repetitiva na assembleia Aty Guasu: “Estou lutando pela
recuperação de nossa tekoha antiga Laranjeira Ñanderu, é para nossas
crianças, por isso logo serei morto, eu sei disso. Mas vou lutar até
morrer”.
O
Zezinho como qualquer outro líder indígena guarani-kaiowá, e porta voz
da Aty Guasu Guarani e Kaiowá, ao longo das últimas duas décadas,
participou de todas as grandes assembleias Aty Guasu. Além disso, nos
últimos cinco (5) anos, ele tem participado de várias audiências com
todas as autoridades federais, reivindicando reiteradamente a devolução
do território indígena Laranjeira Ñanderu, denunciando as violências e
ameaças contra as indígenas, demandando os recursos para as áreas de
saúde e educação escolar, etc.
Assim,
quase todo o dia, Zezinho ia a pé e/ou de bicicleta atrás de
autoridades municipal, estadual e federal para buscar soluções possíveis
para as demandas da comunidade indígena da área em conflito. Por isso mesmo, ele é bem conhecido tanto pelas autoridades federais locais como pelas autoridades nacionais.
Pela última vez, no dia 25 de junho de 2012, o Zezinho saiu de bicicleta do acampamento em conflito Laranjeira Ñanderu para demandar o transporte escolar para crianças indígenas que andam diariamente 6 km para pegar o ônibus escolar municipal.
Durante
o trajeto, o Zezinho foi atropelado e estava no hospital em Dourados
desde 25/06/2012, em estado grave. O Zezinho, infelizmente não resistiu e
morreu ontem (01/07/2012) às 16h00min, no hospital em Dourados/MS.
Diante disso, é importante destacar que uma das preocupações e demandas
do Zezinho é sobre o meio de transporte das lideranças dos territórios
em conflito.
Várias
vezes, ele reivindicava que “as Fundações Federais (FUNAI, FUNASA,
etc.) responsáveis pela assistência e proteção dos Índios deveriam
transportar nós lideranças das terras em conflitos. Nós corremos risco de vida andando a pé pela estrada, muitas lideranças já foram atropelados nas estradas”. Ele repetia essa frase.
Lembramos
ainda que uma vez, na reunião da Aty Guasu, Zezinho falou: “é muito
difícil conseguir carona com pessoal da FUNAI e FUNASA/SESAI, a gente
pede e pede, mas parece que eles não gostam de transportar nós
lideranças não, por isso, hoje vim a pé, andei um pouco e depois pequei
carona, cheguei agora à reunião.”
A
família extensa do Zezinho é originária do território tekoha guasu
Laranjeira Ñanderu, ele nasceu nesse tekoha. Ele é casado tem dois
filhos, quatro filhas e vários netos. O Zezinho, além de reivindicar o
território antigo tekoha guasu Laranjeira Ñanderu, passou a ocupar a
função importante de porta voz da Aty Guasu.
O
Zezinho pregava, de modo similar a demais lideranças Guarani e Kaiowá,
na grande assembleia aty guasu que: “nós lideranças guarani-kaiowá que
lutamos pela recuperação dos nossos territórios antigos tekoha guasu
“nós nunca devemos desistir de lutar pelo nosso tekoha e jamais
abandonar nossos familiares e companheiros de luta”. “Até devemos
morrer, se for preciso pela nossa tekoha guasu, para salvar muita vida e
futuro de nossas crianças”, “mas abandonar a tekoha nunca, porque nos
pertencemos ao nosso tekoha guasu”. Estas são também algumas frases que o
líder Zezinho compartilhava e repetia com frequência.
É
importante destacar que a porta voz e liderança indígena que luta
especificamente pela terra antiga, na tradição e cultura do povo Guarani
Kaiowá, é um cargo vital irrenunciável e imutável.
Baseado
nisso o Zezinho com vida não deve abandonar o território antigo que ele
reocupou com seu grupo de parentela e filhos (as), netos (os), porém o
território antigo reocupado Laranjeira Ñanderu e os parentes foram
abandonados fisicamente por Zezinho no dia 01/07/2012, por que foi
atropelado de forma cruel, somente por isso Zezinho abandonou já sem
vida o território tradicional tekoha guasu reocupado.
No
sentido amplo, com máxima honra e profundo respeito, reconhecemos que o
Zezinho morreu lutando pela terra e justiça, de modo igual às várias
lideranças, tais como: Marçal, Dorival, Dorvalino, Xurite, Genivaldo,
Rolindo Vera, Nisio Gomes, entre outros. Frente a esse fato cruel em que
lutamos e sobrevivemos, mais uma vez, pedimos que seja investigado e
punido o autor e mandante do crime.
Por
fim, destacamos que a luta do Zezinho e das demais lideranças Guarani e
Kaiowá assassinadas citadas acima continuam e continuarão para sempre.
Nós todas as lideranças Guarani e Kaiowá podemos ser morto e/ou
morremos, mas esta luta árdua pela recuperação dos territórios antigos
não morrerá, por ser uma luta justa e digna que por essa razão a luta
justa do ZEZINHO é e será uma luta vital, forte e infinita.
Atenciosamente,
Laranjeira Ñanderu/ Rio Brilhantes/MS, 02 de julho de 2012.
Lideranças/Conselho da Aty Guasu Guarani e Kaiowá/MS
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