Foi
necessário ocupar prédios públicos e bloquear estradas para que o
Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebesse uma comissão de
indígenas e assumisse algum compromisso para melhorar a assistência a
esses povos. Os protestos aconteceram no dia 29/05 em Brasília, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e somente após essa demonstração da
indignação o Ministro garantiu aos representantes dos povos Kaingang,
Guarani Mbyá e Charrua que até amanhã, 31/05, apresentará um plano de
ação com base nas principais reivindicações dos indígenas na presença da
Vice-Procuradora da República, Deborah Duprat.
Pode
parecer clichê daqueles bem ultrapassados, mas os órgãos governamentais
só funcionam sob pressão. A revolta dos indígenas da região é
inquestionável e nos remete a olhar para a situação de saúde que os
povos do Amazonas estão vivendo.
Na região do Vale do Javari são mais de 300 indígenas mortos nos últimos anos em última análise mais por falta de assistência
do que pela falta de recursos. O Ministério Público em Tabatinga já não
consegue reagir ás demandas. São tantas as reclamações e a falta de
ação que os indígenas já não tem a quem recorrer. A realidade de
abandono, de descaso e de ameaça de extinção está sendo levado ao
conhecimento de organismos internacionais, como a Anistia Internacional,
para que venha de fora o apoio de que os povos daquela região precisam
para alimentar a esperança de que o Poder Público em algum momento vá
adotar alguma providência plausível.
Os
indígenas com freqüência denunciam a falta de instalações apropriadas
nas aldeias, ausência ou insuficiência de profissionais e a precariedade
de atendimento prestada pela Secretaria Especial de Saúde Indígena –
Sesai. Esta, a propósito, tem realizado algumas ações, porém muito aquém
das necessidades. No Vale do Javari as distâncias e as dificuldades de
acesso tornam penoso o trabalho de assistência às comunidades. No
entanto, só é penoso porque o Poder Público não atua de forma eficiente e
eficaz, não cria as condições estruturais necessárias para dar
agilidade ao atendimento.
Até
agora os indígenas do Vale do Javari aguardam a presença do presidente
da Sesai, Antônio Alves. Em março, quando esteve reunido com lideranças
da região em Brasília, Alves prometeu ir ao Vale do Javari para dar
alguma solução às reclamações dos indígenas. E não foi a primeira vez
que ele prometeu e não cumpriu.
Nas
regiões do Purus e Juruá, os Deni se vêem às voltas com a tuberculose.
Nos anos 80 esse povo sofreu com muitos casos de tuberculose e no início
dos anos 90 foi afetado por surtos de malária e outras doenças que
levaram a morte cerca de 20% do povo.
Ao
contrário das aldeias na região Sul, onde o acesso em grande parte se
faz por estradas, na Amazônia e, mais particularmente, no Amazonas, os
caminhos são rios, igarapés, furos – sem contar que em determinadas
localidades o acesso só se torna possível por via aérea.
Então,
se as lideranças indígenas do Sul só conseguiram sensibilizar o
Ministro da Saúde com veemente protesto, se não bastaram os incontáveis
documentos e processos, se não tiveram força as denúncias ao Ministério
Público, a dica para que os povos do Amazonas - especialmente do Vale do
Javari -, sejam ouvidos e atendidos vem de um cacique Sateré Mawé para
quem o governo tem de ser tratado como feijão duro: “é preciso botar
pressão”. A dica serve também para o Ministério Público em Tabatinga, de
quem os indígenas esperam mais agilidade e resultados concretos.
Fonte: CIMI
Nenhum comentário:
Postar um comentário