segunda-feira, 4 de junho de 2012
Criação de Faculdade aprofunda compromisso da UFGD com os indígenas
O reitor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Damião Duque de Farias, realizou a instalação da Faculdade de Estudos Indígenas e a posse do diretor pro tempore, Antonio Dari Ramos, na tarde da última segunda-feira (28), no cineauditório da Unidade 1. A solenidade também foi de posse do diretor e da vice-diretora da FACE (Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Economia), Prof. Dr. Alexandre Bandeira Monteiro e Profa. Dra. Madalena Maria Schlindwein.
Sobre a instalação da Faculdade de Estudos Indígenas, o reitor ressaltou esse passo como importante para o fortalecimento do compromisso que a universidade tem desde sua criação com a comunidade indígena, especialmente com os Guarani e Kaiowá da região de Dourados, e deixou clara a intenção de que com a Faculdade, a UFGD possa abranger outras comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul e do Brasil.
“A UFGD nasceu para ter esse compromisso e ser reconhecida como instituição que busca a promoção do desenvolvimento da região de Dourados, com políticas públicas bem direcionadas para a cidadania e justiça social da população. Nesse sentido o foco na comunidade indígena de Mato Grosso do Sul”, defendeu Damião Duque de Farias.
O primeiro desafio assumido pela UFGD foi a criação logo no início da universidade, em 2006, do curso de Licenciatura Intercultural - Teko Arandu. A expectativa do reitor é implantar até o fim do seu mandato, outros dois cursos com foco nesse público, provavelmente nas áreas de saúde e de produção e meio ambiente, que deverão estar localizados na Faculdade de Estudos Indígenas.
“As demandas são a sociedade e a comunidade que apresentam a Universidade. Os desafios e dificuldades para respondê-las sempre teremos. O que precisamos é de vontade e apoio político dos parceiros para superá-los”, afirmou o reitor.
O diretor pro tempore empossado, Antonio Dari Ramos, também falou da ligação histórica da criação da UFGD com os movimentos sociais, especialmente da implantação do curso Teko Arandu como resposta ao sonho dos indígenas, indigenistas e das instituições. Por isso, defendeu a instalação da Faculdade de Estudos Indígenas como um ato que aprofunda o compromisso da UFGD e dá lugar de destaque a formação acadêmica dos indígenas.
Com a Faculdade, o objetivo é dar continuidade ao curso de Graduação da Licenciatura Intercultural – Teko Arandu, criar cursos específicos para os indígenas de diversos grupos étnicos, mas também para outros públicos, promovendo a interculturalidade.
Membro do Conselho Nacional de Políticas Indigenistas e aluno do Teko Arandu, Anastácio Peralta, lembrou da mobilização para criação da Licenciatura Intercultural – Teko Arandu, por parte de diversas organizações, como o Movimento de Professores Guarani Kaiowá e também de pessoas que faleceram, como o professor Renato Gomes Nogueira.
Para Anastácio Peralta, com a Faculdade de estudos Indígenas não é só o índio que ganha, mas o Brasil, que ganha em soberania e inteligência quando abre a universidade para quem sempre viveu nessa terra.
“A Universidade tem que ser para todos, para pobres, índios e negros. Isso poderá colaborar para sairmos desse cenário de suicídio, violência e desnutrição e mostrarmos outras coisas que temos, nossa sabedoria, o que o meu povo tem para ensinar, porque nós estamos aqui há 40 mil anos, os não-índios há 512 anos. Somos importantes inclusive para a continuidade do planeta. Criam tantas tecnologias que acabam em desmatamento e intoxicação das águas. Cadê a sabedoria?”, questionou Anastácio.
A solenidade de posse foi aberta com a apresentação de uma dança ritual ainda presente nas famílias indígenas do Panambi e chamada de guaxire.
Fotos: https://picasaweb.google.com/101733558667986673449/PosseDosDiretoresEInstalacaoDaFaculdadeIndigena?authkey=Gv1sRgCKSWuuX9pay3KA
CONFIRA O DISCURSO COMPLETO DO DIRETOR ANTONIO DARI RAMOS
“Estimado professor Damião Duque de Farias, magnífico reitor da UFGD, na pessoa de quem saúdo a todos os servidores docentes e técnicos da Universidade; Representantes institucionais e autoridades nominadas pelo Protocolo; Acadêmicos, colegas, amigos, lideranças indígenas e familiares; A todos, nossa saudação.
Este é um momento histórico para a UFGD, para os movimentos sociais e para os indígenas de MS e do Brasil. A implantação da Faculdade de Estudos Indígenas é o resultado de um sonho acalentado durante muitos anos por indígenas e indigenistas e acolhido pela Universidade já seis anos. A UFGD, com esse ato, aprofunda de forma mais plena e total o compromisso já presente naquele momento e passa a assumir um lugar de destaque no cenário brasileiro de formação de acadêmicos indígenas. Para isso, dará continuidade à oferta da Licenciatura Intercultural Teko Arandu e poderá possibilitar a abertura de outros cursos específicos para os indígenas de diversos grupos étnicos, mas também para outros públicos, já que a Unidade Acadêmica nasce com pretensões interculturais.
Este momento está sendo possível porque podemos contar com o apoio incondicional da Administração central da UFGD. Obrigado professor Damião por ter, juntamente ao Conselhos Superiores, se empenhado pessoalmente na proposição, criação e implantação da Faculdade de Estudos Indígenas. Nosso agradecimento também aos Pró-reitores, Diretores, Coordenadores, colegas de outras Unidades Acadêmicas.
Nosso agradecimento se dirige igualmente àqueles e àquelas que trabalharam ao longo destes anos na Licenciatura Intercultural Teko Arandu. Se em 2006 acreditava-se que a proposição de alocar o curso em 5 Faculdades era a melhor, esta opção mostrou-se ao longo deste tempo problemática dada a especificidade da Licenciatura. Mesmo assim, foi possível contar com o apoio institucional da FUNAI que tem realizado o transporte dos acadêmicos das aldeias ao alojamento; da SED/MS que tem cedido 4 docentes para o Curso; da FUNASA, atual SESAI, que tem atendido a saúde de nosso acadêmicos; da UCDB que tem disponibilizado também docentes para o curso; do Movimento dos Professores Guarani Kaiowá que tem apoiado politicamente o curso; de 15 Secretarias Municipais de Educação do Cone Sul que tem pago o alojamento dos acadêmicos, fora o apoio interno das Faculdades na cedência de encargos a diversos professores para acompanhar. Mesmo com a implantação da Faculdade de Estudos Indígenas, passo importante para resolvermos alguns ‘gargalos acadêmico-administrativos’, estas parcerias internas e externas continuarão sendo indispensáveis.
Não poderia esquecer o grupo-base que atualmente tem dedicado seu cotidiano, sua inteligência e comprometimento às tarefas do curso, os seguintes professores e técnicos: Andérbio Martins, Adriana Sales, André Freitas da Silva, Andreia Sangalli, Cassio Knapp, Claudia da Silva, Cintia Melo, Edir Neves Barbosa, Elaine Ladeia, Ijean Riedo, Nely Maciel, Noemia dos Santos Pereira Moura (nossa próxima coordenadora do Teko Arandu e vice-diretora da Faculdade), Pedro Pablo Velázques, Reginaldo Candado, Tatiana Rojas. Se hoje estou à frente, representando-os, mais do que uma aposta institucional, é porque reconheço em vocês o suporte aos projetos nos quais acreditamos e sentimos fazer eco ao longo destes 15 meses que estou a sua frente.
Sinto a necessidade de afirmar aqui que não pretendemos, com a Faculdade de Estudos Indígenas, separarmos os indígenas do restante da Universidade, mas dar-lhes condições de uma formação de fato diferenciada, como preconiza a legislação brasileira. Defendemos, ao lado deste importante projeto, o aprofundamento das políticas institucionais afirmativas que possibilitem o ingresso das minorias sociais e étnicas em todos os cursos da UFGD, como indicam as políticas de acesso e permanência já em andamento e em verticalização na Universidade.
Por fim, assumo, publicamente, o compromisso de envidar todos os esforços possíveis para construir uma Faculdade diferenciada não somente nos curso de graduação, de pós-graduação, nos programas de extensão e de pesquisa, mas também no relacionamento pessoal e na formação de profissionais comprometidos com a realidade social que nos cerca, somando ao que outros espaços acadêmicos internos já vem realizando, objetivamos, como meta, em uma década, projetarmos a UFGD como referência nacional nas temáticas atinentes aos estudos interculturais. Aos Guarani, Kaiowá e Terena presentes, as portas da Faculdade de Estudos Indígenas e da Direção da Faculdade estão abertas para recebe-los como acadêmicos e parceiros.
A todos e todas, obrigado e sucesso para todos nós.”
Fonte: UFGD
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