Em vez de arcos e flechas, índios com laptops, celulares, e aparelhos
de GPS para defender a terra do desmatamento. Na comunidade estão 1300
mil dos mais de 800 mil índios que hoje vivem em nosso país. Eles
ficaram conhecidos no mundo pela maneira como defendem sua história, sua
cultura e sua terra.
Nas mãos dos índios suruis, os equipamentos cada vez mais comuns nas
cidades tem outras funções na floresta. Para qualquer movimentação
estranha ou presença hostil, eles receberam treinamento especializado
para fazer a imagem e rastrear via satélite, com a ajuda do GPS, saber a
posição exata, por exemplo, de um madeireiro ilegal. Esses dados são
enviados para as autoridades competentes como Polícia Federal e Funai.
Ver índios que mal falam o português manuseando celulares, filmadoras,
GPS no meio do mato. Eles se dividem em grupos e passam até cinco dias
na floresta. Monitorar invasões não é o único trabalho. Outros índios
registram todas as espécies animais e vegetais. É o biomonitoramento da
reserva surui.
A ideia nasceu do líder da comunidade, Almir Surui. Em 2007 ele
visitava os Estados Unidos quando decidiu bater na porta de uma das
maiores empresas de tecnologia do mundo, a Google.
“A gente estava passando a frente da sede do Google e eu tinha muito
curiosidade como funcionava então lá nós fomos e apresentei minha
vontade de que o Google fizesse sua parte tecnológico ao junto ação do
povo surui”, conta o líder Almir Surui.
O projeto deu certo por causa da persistência do líder, que já foi
ameaçado de morte por isso. “Os suruis se juntaram e começaram a impedir
a retirada de madeira nessa região e isso teve um impacto. Teve um
impacto sobre quem estava ganhando, lucrando com essa madeira ilegal.
Eles começaram a responder. Colocando muita pressão em cima do Almir,
mandando ameaças”, fala Vasco Roosmalen, diretor da equipe de
conservação da Amazônia.
A gerente da Google Earth, Rebecca Moore, conta que ao questionar sobre
como Google e índios poderiam trabalhar, Almir respondeu: os suruis não
sabem de tecnologia, mas a Google não sabe de floresta. Foi aí que ela
entendeu que a parceria daria certo.
“Pessoalmente é projeto mais poderoso que fiz para o Google. Tem uma
palavra que aprendi em português: socioambiental. Nós não temos essa
palavra em inglês, deveríamos ter. Eles são um povo pequeno, mas muito
esperto”.
A parceria com a Google não se resume a colocar imagens no Google
Earth. Numa sala, os mais jovens demonstram que tecnologia não é mais
segredo.
Uma plataforma digital inédita, inspirada num pedido dos índios, foi idealizada pela empresa.
É uma espécie de mapa cultural dos suruis que será disponibilizado de
graça para o mundo até o final do ano. Em cada ícone estará um pedaço da
história desse povo. “Tem contos, tem a histórias do contato, tem sobre
as nossas comidas, tem de tudo um pouco”, fala a estudante
Walelasoepilemãn Surui.
“É importante porque ali vai ficar guardado e não só nós vamos poder
ver como todas as pessoas que acessarem a internet”, diz o estagiário
Oyexiener Surui.
Os suruis também são os primeiros no mundo a receber a certificação de
carbono, prova de que estão contribuindo para a preservação da floresta.
Motivo de orgulho e festa para todos. Ao final do curso, os alunos
receberam um diploma e como retribuição, os suruis celebraram
relembrando antigos rituais.
“Graças essas parcerias que pessoas estão vendo como é uma comunidade
indígena e para nós é um grande orgulho de também criar um consciência
mais que tecnologia é para construir, mas sim que podemos refletir como
podemos melhorar ou criar um novo modelo de fazer o nosso planeta mais
sustentável, mais aliado com nosso povo”, completa Almir.
Nas últimas semanas, aumentou a tensão entre os madeireiros e os índios
surui. Um documento assinado por 35 entidades pediu providências, e a
Força Nacional de Segurança foi deslocada para Rondônia para dar
proteção ao líder da comunidade Almir surui e à família dele. A
Secretaria Nacional de Direitos Humanos disse que acompanha a situação e
que vai mandar uma missão à reserva indígena logo depois da Rio+20.
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