sexta-feira, 8 de junho de 2012

Índios suruis usam tecnologia para defender a terra do desmatamento

Em vez de arcos e flechas, índios com laptops, celulares, e aparelhos de GPS para defender a terra do desmatamento. Na comunidade estão 1300 mil dos mais de 800 mil índios que hoje vivem em nosso país. Eles ficaram conhecidos no mundo pela maneira como defendem sua história, sua cultura e sua terra.
Nas mãos dos índios suruis, os equipamentos cada vez mais comuns nas cidades tem outras funções na floresta. Para qualquer movimentação estranha ou presença hostil, eles receberam treinamento especializado para fazer a imagem e rastrear via satélite, com a ajuda do GPS, saber a posição exata, por exemplo, de um madeireiro ilegal. Esses dados são enviados para as autoridades competentes como Polícia Federal e Funai.
Ver índios que mal falam o português manuseando celulares, filmadoras, GPS no meio do mato. Eles se dividem em grupos e passam até cinco dias na floresta. Monitorar invasões não é o único trabalho. Outros índios registram todas as espécies animais e vegetais. É o biomonitoramento da reserva surui.
A ideia nasceu do líder da comunidade, Almir Surui. Em 2007 ele visitava os Estados Unidos quando decidiu bater na porta de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, a Google.
“A gente estava passando a frente da sede do Google e eu tinha muito curiosidade como funcionava então lá nós fomos e apresentei minha vontade de que o Google fizesse sua parte tecnológico ao junto ação do povo surui”, conta o líder Almir Surui.
O projeto deu certo por causa da persistência do líder, que já foi ameaçado de morte por isso. “Os suruis se juntaram e começaram a impedir a retirada de madeira nessa região e isso teve um impacto. Teve um impacto sobre quem estava ganhando, lucrando com essa madeira ilegal. Eles começaram a responder. Colocando muita pressão em cima do Almir, mandando ameaças”, fala Vasco Roosmalen, diretor da equipe de conservação da Amazônia.
A gerente da Google Earth, Rebecca Moore, conta que ao questionar sobre como Google e índios poderiam trabalhar, Almir respondeu: os suruis não sabem de tecnologia, mas a Google não sabe de floresta. Foi aí que ela entendeu que a parceria daria certo.
“Pessoalmente é projeto mais poderoso que fiz para o Google. Tem uma palavra que aprendi em português: socioambiental. Nós não temos essa palavra em inglês, deveríamos ter. Eles são um povo pequeno, mas muito esperto”.
A parceria com a Google não se resume a colocar imagens no Google Earth. Numa sala, os mais jovens demonstram que tecnologia não é mais segredo.
Uma plataforma digital inédita, inspirada num pedido dos índios, foi idealizada pela empresa.
É uma espécie de mapa cultural dos suruis que será disponibilizado de graça para o mundo até o final do ano. Em cada ícone estará um pedaço da história desse povo. “Tem contos, tem a histórias do contato, tem sobre as nossas comidas, tem de tudo um pouco”, fala a estudante Walelasoepilemãn Surui.
“É importante porque ali vai ficar guardado e não só nós vamos poder ver como todas as pessoas que acessarem a internet”, diz o estagiário Oyexiener Surui.
Os suruis também são os primeiros no mundo a receber a certificação de carbono, prova de que estão contribuindo para a preservação da floresta. Motivo de orgulho e festa para todos. Ao final do curso, os alunos receberam um diploma e como retribuição, os suruis celebraram relembrando antigos rituais.
“Graças essas parcerias que pessoas estão vendo como é uma comunidade indígena e para nós é um grande orgulho de também criar um consciência mais que tecnologia é para construir, mas sim que podemos refletir como podemos melhorar ou criar um novo modelo de fazer o nosso planeta mais sustentável, mais aliado com nosso povo”, completa Almir.
Nas últimas semanas, aumentou a tensão entre os madeireiros e os índios surui. Um documento assinado por 35 entidades pediu providências, e a Força Nacional de Segurança foi deslocada para Rondônia para dar proteção ao líder da comunidade Almir surui e à família dele. A Secretaria Nacional de Direitos Humanos disse que acompanha a situação e que vai mandar uma missão à reserva indígena logo depois da Rio+20.
 

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