sexta-feira, 27 de março de 2009

carta envida ão SR Presitente da Funai ,Ministerio da Educação


Acadêmicos e lideranças Indígenas de Dourados.

PARA: Departamento Geral de Educação (Brasília – FUNAI)

Ministério da Educação – MEC

Presidente (FUNAI)

Sr. Márcio Meira

ASSUNTO: Prorrogação do Convênio UNIGRAN – Funai e Ampliação da Bolsa


Nós acadêmicos indígenas da Aldeia de Dourados-MS, viemos por meio desta pedir aos senhores, encarecidamente para que Vossa Senhorias não extinguam ou acabe com o convênio, existente entre UNIGRAN/FUNAI, mas ao contrário, solicitamos ampliação e prorrogar do mesmo.


Neste queremos expor alguns fatos e marcos importantes que esse convênio trouxe à nós Guarani, Kaiowá e Terena da Aldeia de Dourados; dando bons frutos, e conseqüentemente trazendo melhoria a várias famílias que através do ensino superior conseguiram melhorar a qualidade de vida.


Como bem sabem somos a segunda maior população indígena do país, e aqui infelizmente reside um dos maiores problemas sociais, senão do país bem como: suicídio, homicídio, desnutrição, violência, drogas e até mesmo a prostituição especialmente de nossas jovens.


Vivemos dentre uma área com aproximadamente 3.500 hectares que divididos dá mais ou menos 1 hectare por família. Das quase 15 mil pessoas que aqui vivem, 30% são jovens entre 15 à 28 anos, nossa renda basicamente vem do corte de cana que são oferecidos pelas usinas da região, não temos opção de trabalho e assim somos obrigados à cortar cana para comprar nosso alimento e vestuário para os familiares. Apesar deste contexto social que vivemos, muitos jovens da nossa comunidade, conseguiram cursar uma universidade e alcançar um sonho familiar e de muitos brasileiros, de ter uma formação universitária. Graças a esse convênio formado entre UNIGRAN/FUNAI, um número de aproximadamente 60 pessoas, que hoje são advogados, pedagogos, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos entre outros; conseguiram sua formação profissional.


Nós sabemos que hoje existe possibilidade e disponibilidade de cotas nas universidades públicas, existe o PROUNI. Na UEMS por exemplo existe uma Lei Estadual que estipula 10% das vagas para negros e indígenas, mas a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) disponibilizam cursos em horários, não acessível a muitos jovens, pois a grande maioria quando são mulheres, trabalham de domésticas para suprir suas necessidades básicas. Quando jovens e também casados, trabalham nas usinas de corte de cana, saem para trabalhar às 03:00hs ou 04:00hs da manhã retornando para suas casas às 15:00hs ou 16:00h. Existe aí um certo impedimento para freqüentar cetros cursos da UEMS, que em sua grande maioria são em tempo integral. Já a UNIGRAN, oferecem cursos com horários compatíveis ao que nós precisamos e conseguimos conciliar com nosso trabalho; pois necessitamos de trabalho para comer, transporte, vestir, pagar material escolar da Faculdade, enfim uma série de coisas que temos que ter.



O convênio que é mantido pela FUNAI, disponibiliza hoje 47 bolsas, mas existe um grande interesse e procura por parte de muitos jovens em cursar a faculdade, mas até agora só está mantendo 32 que estão beneficiado pelas bolsas cursando cursos superiores na Unigran,existe na espera 60 indígenas que buscam uma vaga dentro do convênio. Caso esses 60 acadêmicos ficarem de fora, a probabilidade é que muitos irão cortar cana ou acabem mesmo caminhando para as drogas entrando na lista dos desistentes.



Outro fato que merece destaque, é que a única universidade que disponibiliza cotas, fica a quase 60 km (de ida e retorno) da Aldeia onde moramos, fatos que as vezes leva os acadêmicos a desistência. Como a violência tem aumentado em nossa comunidade aumentando os homicídios,alunos sendo atacados de fação a falta de ônibus que percorrem os principais trajetos internos da aldeia para nos levar até a universidade no período da noite os jovens que se arriscam sempre são atacados, assaltados e alguns até são mortos.


Existe um caso de um colega nosso, que cursa Educação Física na UNIGRAN, ele vai e vem todo o dia a pé, percorre quase 15km para ir e vir. Caso seu curso fosse na UEMS, universidade onde tem cotas, o sonho deste acadêmico seria interrompido, devido a distancia que o mesmo iria ter que percorrer. A UNIGRAN fica a 6km da nossa aldeia, bem perto com várias opções de curso, é a pioneira na formação de indígenas.


Queremos através desses relatos, nós Guaranis, Kaiowá e Terenas das aldeias de Dourados, pedimos ao Senhor Presidente da Funai – Secretaria Geral de Educação da Funai – MEC – Ministério da Educação, para que reflitam com carinho o nosso pedido. Queremos ter direito de sermos futuros cidadãos e juntos com aqueles que já se formaram hoje ajudam nossa comunidade a somar mais e mais. Queremos vencer esse gigante que esta em nossa frente, não queremos tirar nossas vidas como nossos irmãos já fizeram, não queremos ver nossos filhos com os seus sonhos expostos para a destruição, ou drogados. Queremos mostrar que com a ajuda do Estado Brasileiro nós somos capazes de ser profissionais das mais diversas áreas de conhecimento, para isso neste momento necessitamos da manutenção desse convênio.

Desde já agradecemos a compreensão e atenção dos senhores responsáveis.


Atenciosamente


Denis Silva Figueiredo

Presidente dos Acadêmicos Indígenas da Unigran, Universitários e Lideranças


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