terça-feira, 11 de setembro de 2012

Índios vistos por índios


A produção de material audiovisual nas tribos indígenas já ganhou status de fenômeno, tamanha é quantidade de trabalhos que são produzidos anualmente. O interessante nesse trabalho é o fato de os índios estarem aproveitando as oportunidades para registrar seu dia-a-dia, costumes, lendas, história. Em se tratando de povos que têm muito de sua tradição passada de pai para filho por meio da oralidade, é uma garantia de que pelo menos uma parte disso não se perca. São os índios vistos pelo olhar dos índios.

Isso fica bem claro quando se vê a programação da 1ª Mostra de Cinema Indígena do Xingu, que acontece de 14 a 16 de setembro, na Câmara Municipal de Canarana (MT). Os filmes foram realizados por cineastas de diversas etnias que hoje dividem espaço no Parque Indígena que fica em terras matogrossenses, e em alguns casos houve colaboração entre os moradores da reserva e não-índios.


A formação de um grande número de cineastas índios foi possível graças ao trabalho de ONGs como a Vídeo nas Aldeias, que em parceria com o Museu do Índio realizou um trabalho de documentação da cultura material e imaterial das comunidades indígenas. Ao mesmo tempo em que realizava o trabalho, a entidade promoveu a capacitação dos moradores locais por meio de oficinas com foco em matérias básicas como técnicas de filmagem e outras etapas da produção cinematográfica.


A 1ª Mostra de Cinema Indígena do Xingu exibirá 21 produções cinematográficas, divididas em 11 curtas, 7 médias e 3 longametragens. Elas totalizam 9 horas de projeção, divididas em 3 horas diárias, sempre das 18h às 21h, na Câmara Municipal de Canarana.


Entre os trabalhos apresentados estão vídeos com os mais variados enfoques, como O Ladrão de Armadilhas, do Coletivo Kuikuro de Cinema, que fala de uma ocorrência típica das cidades, a ação daqueles que se valem do esforço dos outros para se dar bem. O tal “amigo do alheio” espera os outros colocarem as armadilhas para sorrateiramente se apropriar dos peixes capturados. Às vezes ele se dá bem, outras, nem tanto.


Há também histórias fantásticas, como a de Porcos Raivosos, de Leonardo Sette e Isabel Penoni, que conta a história de um grupo de mulheres decide fugir ao descobrir que seus maridos se transformaram misteriosamente em porcos furiosos. Ou O Dia Que a Lua Menstruou, de Takumã Kuikuro e Marica Kuikuro, onde os índios se assustam ao perceber que o sangue pinga do céu como chuva. E ideias bastante originais como em Das Crianças Ikpeng Para o Mundo, de Natuyu Yuwipo Txicão, Kumaré Ikpeng, Karané Ikpeng. No filme, 4 crianças Ikpeng apresentam sua aldeia respondendo à vídeocarta das crianças da Sierra Maestra, em Cuba. Com graça e leveza, elas mostram suas famílias, suas brincadeiras, suas festas, seu modo de vida. Curiosas em conhecer crianças de outras culturas, elas pedem para que respondam à sua vídeo-carta.

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