Baleado na noite da última terça-feira (31), o cacique
potiguar Geusivam Silva de Lima, de 30 anos, continua internado em
estado grave no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena,
em João Pessoa, na Paraíba. Segundo o hospital, o paciente será
submetido a testes para verificar se reage.
Segundo testemunhas, o cacique foi baleado por dois motoqueiros ainda
não identificados quando jogava dominó com o também índio Claudemir
Ferreira da Silva, 37, e dois adolescentes, na Aldeia Vergonha, em
Marcação, no litoral norte paraibano. Silva, que cuidava da segurança de
Lima, foi baleado na cabeça e morreu no local. O cacique, que também
tomou dois tiros na cabeça, foi levado em estado grave para o hospital
estadual.
A frente da luta pelo reconhecimento dos direitos de seu povo à Terra
Indígena Potiguara, Lima já havia recebido várias ameaças de morte,
tendo inclusive registrado queixas na superintendência da Polícia
Federal no estado e na delegacia de polícia de Rio Tinto. Na última
delas, do início de maio, Lima acusava um outro índio de tê-lo ameaçado
por causa de uma disputa material.
Segundo o superintendente da Polícia Federal no estado, Marcelo Diniz
Cordeiro, um inquérito policial foi instaurado na quarta-feira (1º) e o
delegado designado para o caso está tentando apurar se o crime teve
motivações pessoais ou se o objetivo era atingir a comunidade indígena
por meio do cacique.
''Ainda é cedo para apontarmos o que de fato aconteceu. Estamos
averiguando todas as possibilidades, considerando todas as informações
já obtidas'', disse o superintendente à Agência Brasil. Conforme
Cordeiro, testemunhas relataram que os autores dos disparos foram de
fato dois motociclistas e que o cacique já havia relatado ter sofrido
ameaças de morte.
De acordo com dados do Instituto Socioambiental, organização não
governamental, cerca de 15 mil índios vivem espalhados em 32 aldeias que
compõem as cinco terras indígenas no estado, que juntas somam
aproximadamente 20 mil hectares (um hectare corresponde a um campo de
futebol oficial). As terras estão localizadas nas cidades paraibanas de
Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto. Tradicionalmente, cada aldeia do
povo potiguar tem seu próprio cacique.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ao menos nove
caciques que vivem na Terra Indígena Potiguara foram ameaçados de morte
somente este ano. Sete deles teriam registrado queixa da ocorrência. A
organização indigenista, ligada à Igreja Católica, relembra casos de
agressão contra lideranças potiguaras, como o atentado contra o cacique
Aníbal Potiguara, baleado dentro de casa, na aldeia Jaraguá, em Rio
Tinto, em março de 2009. Na ocasião, Aníbal vinha denunciando a invasão
da área indígena por plantadores de cana.
Ainda segundo o Cimi, em abril deste ano, Lima liderou um grupo de
índios que retomaram uma área de 90 hectares pertencente à terra
indígena na aldeia Brejinho, em Marcação, que vinha sendo usada para o
plantio de cana. De acordo com o Cimi, existem disputas internas e
divergências entre os índios, que estariam sendo alimentadas pelo
interesse de usineiros da área.
Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília -
Edição: Carolina Pimentel
Fonte
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