A
jovem Kadiwéu Carla Mayara Alcântara Cruz foi aprovada na última prova
da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e tornou-se a primeira advogada
indígena de Mato Grosso do Sul.
O estado tem a segunda maior população
indígena do país - cerca de 72 mil pessoas de oito etnias diferentes.
Atualmente, contando com Carla, há apenas quatro advogados indígenas.
Ela foi a primeira mulher indígena a conseguir o título.
Filha de mãe Terena e pai Kadiwéu, a
advogada nasceu e cresceu na aldeia Kadiwéu Alves de Barra, que pertence
ao município de Porto Murtinho.
A oportunidade de ingressar no Ensino
Superior aconteceu quando a mãe, professora, conheceu o historiador
Antônio Brand durante um curso de capacitação. “O professor Brand disse
para a minha mãe que estava começando um projeto de apoio a acadêmicos
indígenas na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) e sugeriu que eu
viesse estudar em Campo Grande”, explica. Carla ingressou no curso de
Direito em 2004 e foi uma das pioneiras no desenvolvimento do projeto
Rede de Saberes de apoio à permanência de acadêmicos indígenas no ensino
superior. Concluiu a graduação em 2009.
Segundo Carla, os desafios passaram
pela adaptação à cidade até à dificuldade com as matérias “uma das
principais dificuldades dos acadêmicos indígenas é a língua. Estamos
mais acostumados com nossas línguas tradicionais, então ás vezes é mais
difícil compreender os conteúdos. Além disso, a rotina da faculdade é
muito diferente, a adaptação foi complicada.
Na época éramos poucos indígenas na
UCDB, no máximo dez. Eu consegui superar graças ao professor Brand e o
projeto Rede de Saberes. Os cursos de extensão e monitorias e também os
encontros ajudaram muito”.
Passar no exame da Ordem foi o último
desafio para realizar o sonho de ser advogada. “Agora eu pretendo
advogar em prol dos indígenas. O direito indígena ainda é muito
desconhecido pelos profissionais da área, muitos não sabem como aplicar.
Quero continuar estudando. Fazer mestrado, doutorado e ajudar minha
comunidade”, afirma.
Projeto Rede de Saberes
O Rede de Saberes é um projeto de
apoio à permanência de indígenas no ensino superior viabilizado com
recursos da Fundação Ford. Teve início em 2005 e é uma parceria entre a
UCDB por meio do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas
(NEPPI), a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), a
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e a Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul de Aquidauana (UFMS).
Ele estimula e orienta a iniciação
científica, tem laboratório de informática e oferece cursos de extensão e
monitorias. O coordenador geral é o professor Antônio Hilário Aguilera
(UFMS). Na UCDB, o projeto é coordenado pela professora Eva Ferreira e
atualmente atende 85 acadêmicos indígenas.
Equipe de Comunicação e Design NEPPI/UCDB
Nenhum comentário:
Postar um comentário