terça-feira, 16 de abril de 2013

Em Dourados, 1.500 famílias indígenas vivem em barracos


16/04/2013 08h18 - Atualizado em 16/04/2013 08h18

Em Dourados, 1.500 famílias indígenas vivem em barracos

A maioria sofre com moradia precária e agravos na saúde. Prefeitura, Condisi e Funai anunciam 440 novas casas

 
Valéria Araújo
Do Progresso
1
Famílias indígenas sofrem com a falta de moradia nas aldeias ; até 2012, o déficit habitacional era de 1.450 casas; hoje, a demanda cresceu e este número saltou para 1.500 (Foto : Hédio Fazan/OPROGRESSO)
A cidade de Dourados, que concentra a mais populosa reserva indígena do Brasil, tem déficit de 1,5 mil casas. A maioria das famílias vive em péssimas condições de moradia, sob barracos de lona. De acordo com relatório apresentado por entidades ligadas à questão indígena, até 2012, o déficit habitacional era de 1.450 casas, hoje este número subiu para 1,5 mil.
O documento leva em conta que são 2.900 famílias que habitam as aldeias. Nos últimos anos, segundo o relatório, 1.200 casas foram construídas através de projetos habitacionais. Outras 200 famílias ergueram moradias com recursos próprios, totalizando 1.400 na Reserva.
Em barracos de lona ou sapé, mães criam os filhos em condições precárias. O frio que se aproxima e a fome são os desafios da comunidade. De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Fernando de Souza, o fator preocupante é que em situações precárias de moradia, a vulnerabilidade em relação à saúde de crianças e idosos aumenta nesta época de baixas temperaturas.
A indígena caiuá-terena, Luciana Aparecida Reginaldo, de 27 anos, sempre viveu em barracos de lona, desde criança até agora, depois que se casou e teve os dois filhos. Ela diz que os piores dias são os de chuva. “A água entra e inunda tudo. Molha comida e roupas”, destaca.
Grávida de sete meses ela diz que a família sempre viveu dos “bicos” que o marido consegue como servente de pedreiro. “Dá para garantir o alimento diário, mas não o conforto que gostaria de oferecer às minhas crianças. Sem uma casa é tudo mais difícil. Passamos frio e para nos esquentar tenho que fazer fogo dentro de do barraco, muitas vezes arriscando a nossa vida com a fumaça”, conta, observando que a família precisa de agasalhos e alimentos.
“O frio vem com chuvas e diminui o serviço de pedreiro do meu marido. Isto quer dizer que teremos menos dinheiro para comprar o básico”, destaca. O indígena Anderson Ferreira Cabreira, de 20 anos, é vítima do confinamento. Conta que o pai se matou quando ele era criança, devido aos problemas de falta de estrutura na Reserva. A mãe dele, também vítima da miséria vivida pela comunidade, morreu há alguns anos. Ele hoje trabalha e busca uma forma de melhorar a vida. Diz que nunca conseguiu se cadastrar em programas sociais de habitação e que a casa de eternite e lona foi a única alternativa.
Novas Casas
De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), Fernando de Souza, uma ação da entidade, juntamente com a Prefeitura de Dourados e Fundação Nacional do Índio (Funai), vai garantir 440 novas casas para a aldeia de Dourados. Destas, 200 são para a aldeia Bororó, 200 para a Jaguapiru e 40 para a do Panambi.
Segundo ele, durante todo o ano passado, foram elaborados projetos que contemplassem os requisitos para participar do Programa do Ministério das Cidades para as aldeias do Brasil. “Discutimos com a comunidade um modelo de casa que levasse conforto e ao mesmo tempo preservasse a cultura indígena. A Prefeitura, em conjunto com a Funai, enviaram toda a documentação a Brasília. O projeto foi aprovado e aguarda liberação dos recursos para o início das obras.
Na próxima semana estarei em Brasília para verificar o andamento dessa liberação. Acreditamos que ainda este ano os indígenas contemplados estarão de casa nova”, destaca. Fernando diz que nesta primeira etapa serão contemplados indígenas com maior grau de vulnerabilidade, como mães solteiras, famílias sem nenhuma renda e que vivem apenas de programas sociais, idosos e deficientes físicos. Durante esta Semana do Indígena, o jornal vai enfocar temas relativos à estas comunidades.

Nenhum comentário: