terça-feira, 12 de julho de 2011

Populações Indígenas e Movimentos Rebeldes

Trabalho Apresentado no Simpósio Temático “Os Índios e o Atlântico”, XXVI Simpósio
Nacional de História da ANPUH, São Paulo, 17 a 22 de julho de 2011
Populações Indígenas e Movimentos Rebeldes:
Pernambuco na primeira metade do Oitocentos

MARIANA ALBUQUERQUE DANTAS∗

Os movimentos rebeldes ocorridos em Pernambuco na primeira metade do século
XIX, em parte suscitados pela transmigração da Corte portuguesa e pelos conflitos entre brasileiros e lusos (RIBEIRO, 2002), contaram com o envolvimento de populações pobres livres, escravos e índios, muitas vezes identificados como uma massa desprovida de interesses próprios. Mesmo que inseridos em relações desiguais de poder estendidas em redes de clientelismo nas localidades (CARVALHO, 1996: 51-52), é possível perceber a participação ativa dessas populações, em muitos momentos, a partir de escolhas políticas calcadas em
trocas e conflitos com líderes rebeldes proprietários ou com o governo oficial estabelecido. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é iniciar uma análise sobre as diversas formas de participação de grupos indígenas nos principais movimentos rebeldes em Pernambuco na turbulenta primeira metade do Oitocentos, bem como as dinâmicas sociais nas quais esses grupos estavam inseridos, seja nas aldeias ou nas cidades e povoações vizinhas, tentando apontar a sua importância política em momentos decisivos da consolidação do Império. Ou seja, entender os vários contextos com os quais esses índios interagiam, e como suas identidades foram sendo reelaboradas ao longo desse processo. Esses vários contextos e a
inserção dos índios também devem ser vistos como parte de questões políticas mais
abrangentes, articuladas aos momentos finais do domínio português no Brasil e,
posteriormente, à afirmação do Estado imperial independente. A consolidação e centralização do Império não se realizaram exatamente quando da Independência em 1822, mas em decorrência de processos políticos e militares que reafirmaram a consolidação do Estado entre as décadas de 1840 e 1850. Essa é uma periodização proposta por José Murilo de Carvalho, afirmando que o período a partir de 1850
seria marcado pela organização administrativa do governo após as revoltas ocorridas durante a Regência (1831-1840). A partir desse momento, por obra das elites políticas, a acumulação primitiva do poder já estava concretizada, bem como a construção da ordem imperial (CARVALHO, 2003: 249). Nesse sentido, novos desafios se configuravam para a administração do Império, principalmente a partir da direção adotada pelo gabinete ∗
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense.

conservador que assumira em 1848 (trindade saquarema), quando foi reprimida a última revolta liberal, a Praieira na província de Pernambuco. (BASILE, 1990: 246).
Assim, até consolidar-se, a direção imperial, vivenciada por diferentes gabinetes
(conservadores e liberais), precisou enfrentar movimentos rebeldes e alguns separatistas
durante a primeira metade do século XIX, para os quais a província de Pernambuco se apresentou como um importante espaço de realização. O destaque conferido a essa província
provinha em maior medida em decorrência dessas convulsões do que propriamente por sua importância econômica ou política, diminuída devido à relevância da corte no Rio de Janeiro, de Minas Gerais e, depois, pela ascensão do café no oeste paulista.(CARVALHO, 2009: 123).
No período em questão, tem-se as seguintes rebeliões: a Insurreição de 1817,
Confederação do Equador (1824), Guerra dos Cabanos (1832-1835) e a Revolução Praieira (1848-1850). Esses foram movimentos que apresentaram objetivos diferenciados e também desenvolvimentos diversos, ao mesmo tempo em que tiveram participação de setores das
elites pernambucanas (e apoio ou oposição de elites de províncias vizinhas como Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte), bem como ampla participação popular movida por interesses variados, na qual podemos incluir as populações indígenas que habitavam as regiões da zona da mata, do agreste e do sertão.
A análise da participação dos diversos grupos indígenas nesses conflitos exige um
esforço interpretativo e de pesquisa mais amplo do que a constatação e enumeração dos grupos de índios que participaram das rebeliões. Nesse sentido, torna-se importante entender em quais jogos políticos os indígenas se envolviam, quais os interesses que tentavam alcançar mesmo inseridos em relações desiguais de poder e como a sua participação contribuiu para a
formação dos espaços que habitavam desde períodos anteriores, isto é, as aldeias e sua constituição em relação com as cidades e povoados.


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