segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Aqui e na Índia Problemas enfrentados por jovens indígenas são semelhantes em diferentes partes do mundo


Ásia, África, Rússia e Ártico estão muito distantes do Brasil, mas as dificuldades enfrentadas por jovens indígenas desses lugares são muito próximas daquelas vividas pelos jovens indígenas brasileiros.
É o que se pôde constatar na “Reunião do Grupo de Especialistas em Juventude Indígena”, realizada entre os dias 29 e 31 de janeiro na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque, um evento que faz parte do Fórum Permanente sobre Questões Indígenas da ONU.
Essa Reunião conta com um número limitado de especialistas e observadores, incluindo representantes de organizações de povos indígenas e também ONGs que trabalham com o tema, entre as quais a AJI (Ação dos Jovens Indígenas de Dourados).
No dia 30, o tema era “Desafios” na parte da manhã e “Esperanças” na parte da tarde. Pela manhã, foram ouvidos dois jovens: Meenakshi Munda (Ásia) e Matuna R. Niwamanya (África). A discussão girou em torno de temas sociais e econômicos, tais como educação, emprego, exploração econômica, saúde, direito à terra, condições sanitárias, residência, discriminação, atividades de gangues, abuso de drogas, suicídio e questões urbanas/migração.
Problemas complexos e diversos, mas o que todos eles parecem ter em comum é a falta de envolvimento dos governos com os problemas vividos por esses jovens. Além de uma visível tentativa de silenciar as organizações, e mesmo as lideranças indígenas, em relação aos jovens.
Uma questão que chamou a atenção na fala desses jovens foi a urgência em se ter dados fidedignos em relação aos povos indígenas, pois as estatísticas são sempre aproximadas. Então, como tomar posições, propor políticas públicas e exigir dos governos melhores condições se as informações a respeito desses povos não são totalmente claras? Essa é uma maneira de os Estados silenciarem os problemas enfrentados pelos jovens indígenas.
Os jovens que fizeram suas apresentações também abordaram o problema da violência gerado pelas guerras civis na África; a falta de assistência médica direcionada aos jovens, com pessoas treinadas para entender, e não julgar, os problemas da juventude indígena; a necessidade de uma educação verdadeiramente intercultural; a necessidade de auto-organização desses jovens; falhas na legislação que se refere aos jovens indígenas e a necessidade de um futuro para esses jovens, baseado na terra.
Como podemos falar de terra se precisamos sair para estudar e trabalhar? Necessariamente somos ‘assimilados’ e a terra passa a ser menos importante. Os jovens precisam voltar a olhar para a terra, pois é essa a nossa oportunidade. Nós podemos ter tudo do ocidente, mas utilizando o que eles oferecem em nossos territórios”, defendeu Tania P.Traqui, representante da América Latina e Caribe.
Na parte da tarde, as apresentações foram de Tuomas A. Juuso (Ártico) e de Igor Yando (Europa do Leste, Federação Russa, Ásia Central e Transcaucasiana). A discussão geral, mais uma vez, teve como principal foco a falta de participação dos jovens em todos os âmbitos da vida social, tanto dentro das comunidades como nos níveis nacional e internacional.
Os principais problemas elencados por Igor Yando foram: falta de emprego em consequência do baixo nível educacional; falta de assistência do governo, que não faz distinção étnica e não tem política específica para eles; falha educacional (ausência de professores e, quando há, eles se comportam como colonizadores), que resulta em altos índices de desistência e muito poucos vão para a universidade; alcoolismo e falta de perspectivas dos jovens. Além de que os jovens rechaçam sua própria cultura e, ao mesmo tempo, não são incorporados pela sociedade mais ampla.
Para o jovem Tuomas Aslak, representante do Ártico, os jovens abandonam suas vidas tradicionais e vão para os centros urbanos por vários motivos: a necessidade de buscar melhor formação, a expulsão das terras pelas empresas mineradoras, entre outros. E ele explica que não é fácil. “Sofremos muito quando partimos, não somos aceitos, há uma grande descriminação e sofremos muito com isso. O fato de partirmos, nos faz deixar de vivenciar nossa cultura e, nesse sentido, perdemos o nosso referencial. Penso que o alto nível de alcoolismo e suicídio é o fato de haver esse mal-estar”, diz o jovem indígena representante do Ártico.
Para qualquer pessoa que tenha um mínimo de conhecimento sobre os problemas enfrentados pelos jovens indígenas brasileiros, ficam claras as semelhanças entre as dificuldades vividas no Brasil e nesses outros países e territórios citados.

E agora, o que fazer?
Ao final do dia, os jovens propuseram reflexões e medidas a serem implementadas:
- O papel dos jovens dentro das comunidades é de ajudar os maios velhos sobre o que acontece no mundo moderno, desempenhando o papel de “ponte cultural”. Eles podem ajudar tornar mais claras as informações em relação à conscientização sobre os direitos dos povos indígenas, tecnologia, entre outros.
- A vivificação da tradição e a manutenção da língua são os fatores mais importantes, pois oferecem a esses jovens um lugar de pertencimento.
- O artigo 3 da UNDRIP sobre o consentimento livre, prévio e informado precisa ser colocado em prática. Os jovens indígenas precisam e devem exercer seus direitos de escolher que tipo de educação, economia e justiça é melhor para o seu povo.

* Matéria escrita a partir das informações fornecidas pela antropóloga Maria de Lourdes Beldi Alcântara, que participou da reunião em Nova Iorque como representante da IWGIA (Grupo Internacional de Trabalho sobre Assuntos Indígenas).

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