Cansados de esperar por uma real decisão do governo brasileiro, lideranças indígenas vindas de todo o país, estiveram reunidas essa semana no gramado da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, participando do 8º Acampamento Terra Livre. A edição do evento este ano contou com a participação de cerca de 700 pessoas, representantes de 230 povos indígenas.
Na pauta do encontro, questões relativas à falta de demarcação de territórios tradicionais, criminalização de lideranças e do próprio movimento indígena, empreendimentos que impactam suas terras, como hidrelétricas, estradas e linhas de transmissão, bem como as alterações propostas pelo deputado federal Aldo Rebelo ao atual texto do Código Florestal.
Durante quatro dias, o grupo transformou o espaço em uma grande aldeia. Todos os que passavam avistavam de longe as barracas, montadas na madrugada de segunda-feira, e duas grandes tendas, local em que aconteceram as discussões, plenárias e encaminhamentos do encontro, considerado a maior mobilização do movimento indígena do país.
Com um grupo diversificado e que trazia na bagagem situações recorrentes de violações de direitos, discussões acaloradas aconteceram sobre a precariedade no atendimento à saúde indígena nas regiões, a falta de uma política pública de atendimento aos povos indígenas e também a displicência da Fundação Nacional do Índio (Funai) quanto às solicitações das comunidades, ao passo que tem contribuído de forma veemente com o governo no que tange aos grandes projetos que afetam áreas indígenas.
No dia 05 de maio encerramento do Acampamento, o movimento publicou um documento no qual atesta sua preocupação diante do atual quadro de violação de direitos que se agrava dia a dia sob o olhar omisso e a conivência do Estado brasileiro. “Viemos de público manifestar a nossa indignação e repúdio pela morosidade e descaso com que estão sendo tratadas as políticas públicas que tratam dos nossos interesses e aspirações”, afirma.
Os indígenas reiteram ainda a importância da fé e da luta de seus antepassados, anciãos e caciques, que mantêm firmes o ânimo e a coragem para que continuem unidos na diversidade e na luta acima de suas diferenças pela garantia de seus direitos assegurados na Constituição Federal, leis e tratados internacionais, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Diante do Projeto de morte da ofensiva dos interesses do agronegócio, do latifúndio, dos consórcios empresariais, das multinacionais e demais poderes econômicos e políticos sobre as nossas terras e suas riquezas (naturais, hídricas, minerais e da biodiversidade), proclamamos a nossa determinação de defender os nossos direitos, principalmente quanto à vida e à terra e, se preciso for, com a nossa própria vida”, declaram no documento.
O texto traz, detalhadamente, toda a problemática enfrentada pelos povos indígenas nos campos da saúde, educação, demarcação e desintrusão de terras, criminalização de lideranças, empreendimentos que impactam seus territórios, reestruturação da Funai e legislação indígena, além de abordar a questão das alterações ao Código Florestal e da necessidade de se realizar uma Reforma Política.
Por meio de todas as demandas apresentadas, os povos indígenas do
Brasil, cobram da presidente Dilma Rousseff o cumprimento de todos os compromissos firmados à época de sua campanha eleitoral, garantindo o respeito aos direitos humanos, a justiça social, a sustentabilidade ambiental e social, respeitando os indígenas enquanto cidadãos e coletividades étnicas e culturalmente diferenciadas.
Um comentário:
Muito legal a iniciativa de vocês. Todos que se sentem ofendidos de certa forma em relação ao governo, deveriam correr atrás da mesma forma que vocês o fazem.
Mas a minha dúvida é em relação a outra coisa. Minha escola vai fazer uma semana cultural e vamos falar sobre a cultura indígena. Estávamos querendo nos caracterizar para mostrar melhor a cultura desse povo (não sei se vocês ainda fazem esse tipo de coisa, com vestimentas típicas, entre outras), mas uma das professoras me falou que se caracterizar acaba sendo tido como uma falta de respeito para com os indígenas. Isso é verdade?
Obrigada.
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