quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Pela 1ª vez, Censo vai levantar etnias indígenas em MS

O Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) deste ano irá detalhar a situação da população indígena. Pela primeira vez, os pesquisadores irão perguntar sobre a etnia e a língua falada entre eles. Antes, o censo apenas obtinha a autodeclaração dos indígenas.

Os dados quantitativos dos povos indígenas têm importância para atender suas necessidades especificas e orientar a política pública do setor.

Na Marçal de Souza, os recenseadores vão encontrar índios que estão inseridos na sociedade (quando pagam impostos), e ao mesmo tempo, excluídos, porque dizem que ainda são discriminados.

Os detalhes populacionais não são novidade, já que a Funasa faz o levantamento entre os índios do Estado. O trabalho do IBGE tem a diferença de incluir os índios como parte de um município e fazer relatórios a partir disso. Nos levantamentos da Funasa é contabilizada apenas a população indígena.

Na aldeia Marçal de Souza (que segundo a Funasa, tem 2.807 índios), as lideranças locais dizem ser apenas 700. Os habitantes se preocupam com o rumo que sua cultura está tomando. Apesar de ser uma aldeia, os indígenas estão desligados de suas raízes.

“Até a nossa escola, que é para as crianças indígenas, tem vários brancos estudando”, desabafa Rosemary de Souza, 37. Ela nasceu na aldeia de Cachoeirinha, em Miranda, mas quando se mudou para a Marçal de Souza, há 8 anos, deixou para trás os hábitos indígenas.

Os índios tem uma documento de identidade diferente dos brancos, que é concedida pela Funai. Mas o documento é um peso para quem mora na aldeia urbana.

Quando precisam ir ao banco, abrir crediário ou alguma situação cotidiana para quem tem um RG civil, os índios passam por dificuldades.

“Eu vou à Caixa Econômica e eles não aceitam minha carteira indígena, tenho de ir lá na Funai, pegar uma declaração e voltar ao banco. Cansa”, conta Nivaldo Candelário.

Ele também conta que já não ouve muitas crianças falando a língua nativa da aldeia, o terena. “Não escutamos mais as crianças falando em terena, eu falo, meus tios falam. Mas acredito que só 10% das crianças conversam”.

A escola da aldeia, Escola Municipal Sulivan Silvestre de Oliveira, oferece aulas da língua nativa. O professor, apesar de ser índio, não mora mais na aldeia. “Nós tentamos implantar projetos para a cultura, mas, temos de concentrar na educação, saúde, no asfalto que não tem, no esgoto. Quase não sobra tempo para a cultura”, explica Nivaldo.

Outra desunião entre os índios é a falta de representação política, segundo Nivaldo. “Olhe ai as casas, cada esquina tem um adesivo de um político. Ninguém se junta para eleger alguém que nos ajude de fato”, observa.

São poucos moradores da Marçal de Souza que ainda visitam outras aldeias e interagem com outros índios. Quando isso acontece, é de maneira pouco usual. “Meu filho sempre vai às aldeias. Ele vai pregar, é músico evangélico, sabe?”, revela Flávio de Souza, 68 anos.

Ele nasceu na aldeia Limão Verde, em Amambaí, e se mudou cedo para a cidade. “Não me envolvi muito na cultura, eu tinha de trabalhar. Eu participo de algumas reuniões aqui na aldeia”, conta.

A última vez que toda a aldeia se juntou, de acordo com Nivaldo Candelário, foi para conseguir trazer esgoto à aldeia. “Todos se mobilizaram, fomos e pedimos. Depois eles (autoridades) vieram aqui e fizeram o compromisso na frente de todo mundo. Talvez vamos fazer isso de novo, para trazer asfalto”, promete.

A cacique da aldeia, Enir da Silva Bezerra, tenta segurar a unidade da aldeia e relembra que a escola tem aulas de Terena e atividades culturais, mas que a identidade está ameaçada. “Temos um agravante complicado, quase 70% da comunidade é evangélica. Isso atrapalha um pouco a difusão da cultura”, comenta.

Enir também cita o fato do Memorial Indígena localizado na aldeia ser gerenciado por um branco. “O coordenador é branco, por enquanto. Vamos esperar essa eleição passar para indicar um nome indígena. Qualquer coisa que acontece nessa época eles pensam que é com motivos eleitorais”, critica.

Apesar de tudo, a líder da aldeia é otimista com o panorama e espera que o diálogo possa ajudar. “Temos de trabalhar mais com a comunidade, com a nossa cultura. A igreja, apesar de tudo, é importante. Ajuda na questão social, na recuperação do alcoolismo. Quem sabe, se nós entendermos todos, podemos manter nossas raízes e conviver em paz?”.

Uma pesquisa da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) mostrou que 45 milhões de brasileiros têm ascendência indígena.

campograndenews

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