quarta-feira, 10 de julho de 2013

Tratamento de tuberculose entre os indígenas não atende às normas, revela pesquisa

“O desempenho dos serviços de saúde em Rondônia, em relação às ações de detecção, diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos casos de tuberculose (TB) entre os indígenas está em desacordo com as normas preconizadas pelas Diretrizes Brasileiras para o Controle da Tuberculose”. A afirmação é da aluna do doutorado em epidemiologia em saúde pública Jocieli Malacarne, que apresentou sua tese em 3 de julho, na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Ela sugere que as autoridades em saúde revejam as estratégias, atualmente empregadas para o controle do agravo entre essas populações e busquem priorizar a detecção e o tratamento precoce dos casos nas aldeias, assim como investir no diagnóstico e tratamento da infecção latente.

Jocieli acredita que somente dessa forma será vislumbrado um cenário mais favorável em médio/longo prazo. Parte desse problema, explicou ela, manifesta-se por meio dos elevados indicadores de transmissão revelados na sua pesquisa, que, no contexto das Casas de Saúde do Índio (Casai), entrevistou 76 indígenas com sintomas respiratórios (SR) e/ou suspeita de TB. Houve predomínio das etnias suruí (40,8%), wari´ (19,7%) e karitiana (11,8%). Na pesquisa, observou-se ainda que 34,2% dos indígenas relataram ter chegado à Casai por conta própria, e 31,6% disseram ter sido encaminhados pelo serviço de saúde. Desde o início dos primeiros sintomas, 34,2% dos entrevistados demoraram mais de 30 dias para chegar à Casai.

De acordo com o estudo, a falta de transporte foi a maior dificuldade enfrentada para chegar ao serviço de saúde, e 32,9% relataram que foi preciso mais de cinco semanas para obter um diagnóstico. Dentre esses entrevistados, 52 iniciaram tratamento para TB, e o tempo gasto, desde a primeira consulta até o início do tratamento, foi superior a 30 dias em 61,5% dos indígenas, e o tratamento supervisionado não foi realizado em 34,6% dos casos.

Na aldeia Igarapé Ribeirão, foram avaliados 263 indígenas, informou Jocieli, e aproximadamente 10% dos investigados referiram-se a sintomas respiratórios. Foi detectada alta prevalência de infecção pelo Mycobacterium tuberculosis (40,3%) e elevado risco anual de infecção (2,4%). As variáveis de faixa etária ≥15 anos, antecedentes de TB, em contato com doente de TB há menos de 2 anos, com presença de cicatriz vacinal e classe E da classificação econômica do Brasil mostraram associação com a prova tuberculínica ≥ 5 mm por meio da regressão de Poisson com variância robusta. Além disso, segundo a aluna, 49 indígenas (18,6%) referiram história anterior de TB.

O estudo de Jocieli tem como objetivo investigar o acesso de indígenas suspeitos e portadores de TB aos serviços de saúde em Rondônia e realizar diagnóstico situacional da doença entre os wari’ da aldeia Igarapé Ribeirão. Para isso, no período entre 2009 a 2011, foram entrevistados indígenas com SR e em tratamento para TB em quatro Casai de Rondônia. Também foi feito um estudo transversal na aldeia Igarapé Ribeirão, em fevereiro de 2011, em que utilizou-se a prova tuberculínica em todos os indígenas, além de baciloscopia e cultura de escarro e raios X nos sintomáticos respiratórios e indígenas com história de tratamento para TB. Segundo ela, apesar de a TB manter-se como um dos mais importantes problemas de saúde pública no Brasil, sobretudo entre os povos indígenas, há poucas informações a respeito das dificuldades enfrentadas pelos doentes indígenas para acessar os serviços de saúde e obter o tratamento adequado.

Jocieli Malacarne é enfermeira, atualmente cursando o doutorado em epidemiologia em saúde pública pela Ensp. Atua no projeto de pesquisa Desigualdades Sociais e Tuberculose: Distribuição Espacial, Fatores de Risco e Farmacogenética na Perspectiva da Etnicidade. Sua tese é orientada pelo professor Paulo Cesar Basta.

Fonte: Agência Fiocruz

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