As aldeias indígenas Guarani e Kaiowá do sul do Mato Grosso do Sul tem mais 39 novos professores para ensinar seus alunos. Eles são formandos da primeira da turma da Licenciatura Intercultural Teko Arandu da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD. A solenidade de colação de grau foi realizada no último sábado (22), no auditório da Unidade II da UFGD. Alguns foram capacitados para lecionar Linguagens outros Ciências da Natureza, Ciências Sociais ou Matemática.
Só na família de Natanael Vilharva Cáceres serão mais quatro professores além dele. “Foi uma oportunidade muito boa, porque o que aprendia na universidade aplicava na comunidade”, conta.
Natanael, o irmão Maciel, a esposa Valdelice Verón, filha do Cacique Marcos Verón, assassinado na luta pela terra ancestral de Juti e o concunhado Ládio Verón já lecionavam em suas comunidades, mas, faltava a habilitação específica para suas áreas de atuação. Em 2006 encontraram na UFGD a oportunidade que buscavam. Agora entraram para a história do Estado como membros da primeira turma dessa modalidade de ensino.
Vicente Cândido Morales foi outro exemplo de dedicação. Deixou a comunidade onde mora, na Aldeia Pirajuí em Paranhos para se estabelecer em Dourados e estudar. A saudade de casa era grande, mas, a vontade de estudar era maior. “Só ia para casa quando dava, final de semana, feriado... Foi corrido, mas, valeu a pena”, disse ele com os olhos lacrimejados.
Novidades para a UFGD
A professora Theodora de Souza, que participou do movimento de educadores que ajudou na instalação do curso, agradeceu a UFGD por ter sido favorável ao Teko Arandu. “A UFGD desde o primeiro momento abraçou a causa. O professor Renato Nogueira [falecido em um acidente automobilístico] não teve medo de começar essa formação diferenciada. A reitoria aceitou o desafio. A gente sabe que é histórico o preconceito da sociedade do Mato Grosso do Sul contra os indígenas e sabemos hoje que por isso essa formatura de professores é histórica também, um exemplo para o Brasil”, declarou.
O senador da República, Delcídio do Amaral, presente ao evento, em sua fala ressaltou as qualidades da UFGD e declarou que colocará R$ 1 milhão em emendas individuais para auxiliar na implantação da Faculdade de Estudos Indígenas, a mais nova a ser implantada na universidade. “A UFGD muito honra nosso Estado e nosso país (...) Por isso, a Faculdade de Estudos Indígenas que já tinha R$ 1 milhão para sua instalação, receberá o mesmo valor em emendas individuais minhas, para completar os R$ 2 milhões necessários para sua instalação plena”, afirmou o político.
O reitor Damião Duque de Farias agradeceu as palavras do senador, parabenizou os formandos e reforçou o papel da UFGD na busca constante pela melhoria do Ensino. “Somos uma universidade que vive em uma busca incessante pela qualidade de ensino. O resultado é que ano após ano temos melhorado e todos os anos somos a melhor do Mato Grosso do Sul e uma das melhores do Centro-Oeste. A formatura dos alunos é só o primeiro passo que queremos consolidar com a instalação da Faculdade de Estudos Indígenas”, disse o reitor.
O curso
O curso começou a funcionar em 2006, com a implantação da Universidade e foi resultado de uma parceria com a Universidade Católica Dom Bosco, Funai, Secretarias Municipais de Educação e Secretaria de Estado de Educação. Organizações Guarani e Kaiowá também auxiliaram no processo de formação.
Essa primeira turma leva o nome do professor doutor da UFGD, Renato Gomes Nogueira, um dos grandes incentivadores da implantação do curso em Dourados, falecido em um acidente automobilístico na BR 163, ocorrido em 2006.
Os patronos da turma são Dona Tereza Espíndola, liderança indígena e o professor doutor Damião Duque de Farias, reitor da UFGD. Os paraninfos são Nelson Batista, liderança indígena e o professor doutor Levi Marques Pereira.
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