segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Embrapa entrega sementes de milho xavante em aldeia no Mato Grosso

O BAG preserva amostras de quase quatro mil tipos de milho de diferentes regiões. Como parte dessa coleção, há seis variedades de milho xavante coletadas, no final da década de 1970, pelo então pesquisador da Embrapa Ronaldo Feldmann, em Barra do Garças-MT.
Em março deste ano, a pesquisadora Flavia França, curadora do BAG de milho, recebeu um pedido da Funai (Fundação Nacional do Índio) para disponibilizar as variedades de origem xavante para a aldeia Maraiwtsede, localizada entre os municípios mato-grossenses de Bom Jesus do Araguaia, Alto Boa Vista e São Félix do Araguaia. Então, foi feito um trabalho de multiplicação do milho. "Sempre temos que plantar para conseguir mais sementes e repor o que retiramos do BAG", explica Flavia França.
As variedades de milho xavante têm características próprias, grãos farináceos de cores variadas (branco, vermelho, amarelo, roxo, preto). Após a colheita do material multiplicado na Embrapa, as sementes de cada variedade foram embaladas separadamente.
Em outubro, aproxima-se a época do plantio na aldeia e tem início a viagem para ser feita a entrega das sementes. A equipe responsável por levar o material viaja durante dois dias, de Sete Lagoas-MG (foto 1), até Ribeirão Cascalheira-MT, onde fica o escritório regional da Funai que atende a aldeia Maraiwtsede. Lá, a agrônoma Juliana Lengruber, que havia encaminhado o pedido do milho, feito inicialmente pelos índios, aguardava o grupo. No dia seguinte, seria feita a entrega.
Foram mais 130 quilômetros até Maraiwtsede. A aldeia tem cerca de 800 habitantes. Poucos falam português. Floriano, um dos responsáveis pela segurança local, e Cosme, filho do Cacique Damião, foram os tradutores encarregados de receber os visitantes. Eles ajudaram Juliana a reunir moradores para a entrega do milho. Chamaram as mulheres que fazem o trabalho na roça e os mais velhos, os anciãos da aldeia. Dois deles mostraram o que guardavam do milho xavante. Cada um tinha uma garrafa de dois litros com sementes. Era o que restava do nodzob, como chamam o milho.
A pesquisadora Flavia França mostrou o material a ser distribuído (foto 3). Ao todo, 50 quilos de sementes das seis variedades. Ela explicou a importância do cultivo para multiplicação e a necessidade de guardarem, a cada colheita, sementes para o próximo plantio, a fim de preservar o milho tradicional na aldeia (foto 2).
Os anciãos e as mulheres olhavam satisfeitos, identificando cada nodzob por sua cor (fotos 4 e 5). Dario, um dos mais velhos da aldeia, agradeceu, emocionado e falou que será muito importante ter o milho no próximo ano, quando será realizada a festa de perfuração de orelha dos jovens. Cosme explicou que, na ocasião, fazem um grande bolo de nodzob. É quando os rapazes, após ficarem isolados do restante da aldeia por cerca de cinco anos, vivem o ritual que marca a passagem para a vida adulta.
Floriano mostrou o Hö, a casa onde ficam os adolescentes reclusos (foto 6) numa das extremidades da aldeia, que é construída no formato de ferradura. Os garotos têm contato apenas com os padrinhos e ficam agrupados por faixa de idadeEm maio de 2012, quando ocorrer a festa chamada Danhono, os rapazes terão as orelhas furadas, passarão a ser considerados adultos e estarão prontos para se casar. Na festa, haverá o grande bolo de milho xavante para todos, conforme manda a tradição.
Para a pesquisadora Flavia França, ver a satisfação dos índios ao receber as sementes compensa todo o trabalho. "É muito bom ver a alegria deles e saber que podem usar o milho para preservar a própria cultura."
Missão cumprida. A equipe da Embrapa Milho e Sorgo retorna para Sete Lagoas. Quando outra aldeia solicitar sementes que são guardadas no BAG, terá início uma nova jornada de trabalho apoiar a preservação de culturas agrícolas e de tradições dos povos indígenas.
 

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