Há tempos os indígenas expandem seus conhecimentos para além da
sabedoria tradicional amazônica. Também houve – e já passou – a época em
que esses mesmos povos, quando iam em busca de estudo, estavam
interessados apenas nos cursos de licenciatura, usados para voltar às
comunidades como professores. Atualmente, as faculdades de Medicina,
Enfermagem e Odontologia, além de Administração e até Direito, são as
mais prestigiadas no sistema de cotas para indígenas na Universidade
Estadual do Amazonas (UEA).
Os números do ensino superior em 2010 e 2011 mostram destaque para as
Escolas Superiores das Ciências Sociais (ESO) e de Ciências da Saúde
(ESA) da UEA. Há dois anos, as cotas de Administração e Direito (noturno
e diurno) foram quase todas preenchidas – apenas uma vagas ficou em
aberto. O feito se repete nas Ciências de Saúde, quando todas as
oportunidades foram aproveitadas pelos indígenas, também em 2011.
Para o antropólogo Ademir Ramos, a mudança de licenciatura para
outros cursos é uma demanda antiga. O desejo de uma habilitação
diferente das de professor já existia em 2005, quando o sistema de cotas
foi implantado pela UEA. “A educação também é um processo de afirmação
para estes povos. Os índios também têm de ser multiculturais, até para
serem multiplicadores”, afirmou o antropólogo.
O pesquisador destacou ainda que os indígenas precisam de advogados,
médicos, enfermeiros e de contadores. Todas estas profissões são
importantes, pois a maioria destas comunidades está atrelada a programas
e projetos de organizações indígenas. A necessidade maior acontece no
momento em que as entidades sem fins lucrativos recebem dinheiro
público. A falta de uma administração correta acaba tendo consequências,
como o fim de parcerias ou o recebimento apenas de parcelas do
convênio.
Adamir Ramos salienta ainda que esta educação é benéfica apenas para
os índios não-isolados. Os povos sem contato precisam permanecer deste
modo, apesar do desmatamento e dos garimpos ilegais ameaçaram tais
populações. Saiba mais
De acordo com os dados da UEA, até o último levantamento (em 14 de
fevereiro deste ano), havia 2.271 alunos matriculados na Universidade,
sendo 724 índios oriundos de 32 etnias: Apurinã, Arara, Baniwa, Baré,
Dessana, Hexkariana, Jamamadi, Kaixana, Kambeba, Katukina, Kokama,
Kulina, Macuxi, Manchineri, Maraguá, Marubo, Mayoruna, Matis, Miranha,
Munduruku, Mura, Parintintin, Piratapuia, Sateré-Mawé, Tariano, Tukano,
Tenharin, Tikuna, Torá, Tuiuka, Wanano, Yanomami.
Maior formatura do País
Em dezembro do ano passado, o Amazonas entrou para a história com a
maior turma em número de índios a colar grau em uma única cerimônia no
Brasil. Universitários de sete cursos superiores – Antropologia, Artes,
Biologia, Educação Física, Letras e Matemática - receberam o diploma de
Ensino Superior na região do Alto Solimões. Os 204 novos bacharéis eram
moradores dos municípios de Tabating, São Paulo de Olivença, Amaturá,
Santo Antônio do Içá, Tonantins, Atalaia do Norte e Benjamim Constant.
Segundo os coordenadores da Organização Geral dos Professores Ticunas
Bilíngues (OGPTB), a região do Alto Solimões registrao, nos últimos
anos, uma demanda crescente pela criação de cursos superiores provocada
por exigências legais para a formação de professores e pela necessidade
de atendimento a estudantes do 5º ao 9º anos do Ensino Fundamental e
estudantes do Ensino Médio. O projeto foi elaborado pela equipe
pedagógica da ONG, criada há 25 anos na aldeia Filadélfia, área rural da
cidade de Benjamim Constant, exatamente na fronteira do Brasil com o
Peru e a Colômbia.
A primeira turma do curso de Licenciatura para professores indígenas
da região do Alto Solimões, promovido pela UEA em parceria com o
Ministério da Educação (MEC), revelou resultados surpreendentes na
opinião do reitor da universidade, José Aldemir de Oliveira, com índices
de alto rendimento dos alunos ao mesmo tempo em que o número de
desistentes foi menor que o esperado.
Preenchimento de vagas cresce a cada ano
No vestibular de 2005, a cota de alunos indígenas para a capital
chegou a 68 vagas, mas apenas 23 foram preenchidas. Nos municípios do
interior, 30 vagas ofertadas e 11 preenchidas. Para os cursos
telepresenciais em Matemática, por exemplo, aberto em Boca do Acre,
Carauari, Coari, Eirunepé, Humaitá, Itacoatiara, Lábrea, Manacapuru,
Manicoré, Maués Presidente Figueiredo e São Gabriel da Cachoeira,
estiveram abertas 146 vagas, mas apenas 52 foram preenchidas.
Na capital, em 2006, Engenharia (Diurno) foi o mais procurado: das 7
vagas oferecidas, 6 foram preenchidas. Naquele ano, foram 46 vagas ao
todo, sendo preenchidas 30. No interior, o destaque foi para
administração noturna: apesar de ter somente quatro vagas das seis vagas
foram preenchidas. Já em 2007, a cota chegou a 56 vagas, sendo que 41
foram preenchidas. Pela primeira vez, a oferta foi a mesma que a
procura, em se tratando de cursos regulares oferecidos em Manaus. Todas
as 16 vagas das cotas para alunos indígenas em Administração pública
(diurno e noturno) e Direito (diurno e noturno) foram preenchidas.
No interior, a meta também foi alcançada na cidade de Tabatinga. Lá,
os cursos de Geografia, Matemática, Biologia, Letras, Pedagogia e
Educação Física alcançaram a cota. Por outro lado, a capital vê uma
ênfase nas faculdades de Medicina, Enfermagem e Odontologia, em 2008.
Todas as 13 vagas oferecidas em cotas foram preenchidas. O total geral,
somando os 16 municípios, chegou a 100 de 175 ofertas.
Portal Amazônia
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