segunda-feira, 8 de setembro de 2014

“Eles ‘não existem’ porque não são vistos", diz fotógrafo que registrará indígenas do Brasil


Renato Soares é fotógrafo e trabalha registrando aspectos da cultura indígena há quase 30 anos. Após diversos trabalhos com tribos como Xingu, Kalapalo, Kuikuro, Xavante e muitas outras ao redor do Brasil, o documentarista decidiu embarcar num projeto ambicioso: de registrar e documentar cada uma das quase 300 etnias indígenas em território brasileiro.
De acordo com o instituto de pesquisa IBGE, existem 305 etnias de índios no Brasil. Mas, segundo Soares, um estudo mais profundo registraria algo em torno de 270 tribos diferentes. O objetivo é agrupar o maior número possível de informações sobre esses povos e formar o mais completo acervo de imagens brasileiro sobre essa cultura.

“Eles ‘não existem’ porque não são vistos. Temos que deixar de olhar apenas para o nosso umbigo. O índio faz parte do Brasil tanto quanto o Brasil faz parte do índio. E nós não reconhecemos, não vemos, nem sabemos quem é esse personagem”, diz Renato.

O trabalho começou há mais de 20 anos, num mapeamento que já percorreu as regiões norte, nordeste, centro-oeste e sudeste do Brasil. Mas somente agora esses registros avulsos foram agrupados para formar o projeto “Ameríndios do Brasil”, aguardando as centenas de imagens que ainda estão por vir.

“Decidi retratar todos, e não só alguns. Não só os mais ‘bonitos’ ou mais fortes culturalmente, mas todos. Desde o Guarani, que está no litoral, aos grupos que perderam o idioma e tiveram que se adaptar, até mesmo o índio que está morando na cidade e usando redes sociais”, acrescenta.

O fotógrafo diz que seu foco será de registrar o cotidiano desses povos, num olhar tanto documental quanto artístico. Atos simples como uma mulher fazendo artesanato ou mesmo um homem indo caçar ou pescar tornam-se alvos de sua câmera, num trabalho que, ele diz, depende de muito “respeito ao próximo”.

Tantos anos trabalhando com a cultura indígena tornaram Renato famoso entre alguns povos, muitos dos quais o convidam para fotografar suas tribos e costumes, confiando em seu olhar e em seu conhecimento sobre essa população. O fotógrafo se comunica com a maioria dos índios em português – “A língua do conquistador”, como ele chama – mas também conhece alguns idiomas tradicionais.

“Eles me convidam porque sabem que faço um trabalho onde eles são vistos e também respeitados. A tradução mais simples e correta do que eu faço é a fotografia do outro. E, para eu conseguir retratar o outro, preciso me reconhecer no outro. Preciso reconhecer e entender a cultura dele. E é o que eu tenho feito nesses anos todos”, comenta.

As fotos serão publicadas gradativamente em livros, um para cada etnia registrada, ainda sem previsão de lançamento. Por enquanto, o trabalho realizado até agora pode ser conferido no site Imagens do Brasil.

Ele finaliza explicando porque preservar a cultura indígena é importante: “quando nós conquistamos um continente, um país ou uma terra, nós eliminamos a cultura que lá existia. Corremos o risco de que façam o mesmo com a gente. É preciso respeitar o outro para sermos respeitados.”
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