Renato Soares é fotógrafo e trabalha registrando aspectos da cultura indígena há quase 30 anos. Após diversos trabalhos com tribos como Xingu, Kalapalo, Kuikuro, Xavante e muitas outras ao redor do Brasil, o documentarista decidiu embarcar num projeto ambicioso: de registrar e documentar cada uma das quase 300 etnias indígenas em território brasileiro.
De acordo com o instituto de pesquisa
IBGE, existem 305 etnias de índios no Brasil. Mas, segundo Soares, um
estudo mais profundo registraria algo em torno de 270 tribos diferentes.
O objetivo é agrupar o maior número possível de informações sobre esses
povos e formar o mais completo acervo de imagens brasileiro sobre essa
cultura.
“Eles ‘não existem’ porque não são
vistos. Temos que deixar de olhar apenas para o nosso umbigo. O índio
faz parte do Brasil tanto quanto o Brasil faz parte do índio. E nós não
reconhecemos, não vemos, nem sabemos quem é esse personagem”, diz
Renato.
O trabalho começou há mais de 20 anos,
num mapeamento que já percorreu as regiões norte, nordeste,
centro-oeste e sudeste do Brasil. Mas somente agora esses registros
avulsos foram agrupados para formar o projeto “Ameríndios do Brasil”,
aguardando as centenas de imagens que ainda estão por vir.
“Decidi retratar todos, e não só
alguns. Não só os mais ‘bonitos’ ou mais fortes culturalmente, mas
todos. Desde o Guarani, que está no litoral, aos grupos que perderam o
idioma e tiveram que se adaptar, até mesmo o índio que está morando na
cidade e usando redes sociais”, acrescenta.
O fotógrafo diz que seu foco será de
registrar o cotidiano desses povos, num olhar tanto documental quanto
artístico. Atos simples como uma mulher fazendo artesanato ou mesmo um
homem indo caçar ou pescar tornam-se alvos de sua câmera, num trabalho
que, ele diz, depende de muito “respeito ao próximo”.
Tantos anos trabalhando com a cultura
indígena tornaram Renato famoso entre alguns povos, muitos dos quais o
convidam para fotografar suas tribos e costumes, confiando em seu olhar e
em seu conhecimento sobre essa população. O fotógrafo se comunica com a
maioria dos índios em português – “A língua do conquistador”, como ele
chama – mas também conhece alguns idiomas tradicionais.
“Eles me convidam porque sabem que
faço um trabalho onde eles são vistos e também respeitados. A tradução
mais simples e correta do que eu faço é a fotografia do outro. E, para
eu conseguir retratar o outro, preciso me reconhecer no outro. Preciso
reconhecer e entender a cultura dele. E é o que eu tenho feito nesses
anos todos”, comenta.
As fotos serão publicadas
gradativamente em livros, um para cada etnia registrada, ainda sem
previsão de lançamento. Por enquanto, o trabalho realizado até agora
pode ser conferido no site Imagens do Brasil.
Ele finaliza explicando porque
preservar a cultura indígena é importante: “quando nós conquistamos um
continente, um país ou uma terra, nós eliminamos a cultura que lá
existia. Corremos o risco de que façam o mesmo com a gente. É preciso
respeitar o outro para sermos respeitados.”
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