terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Questões raciais e de gênero: BRASIL II - Miscigenação não explica tudo

Nos anos 1930, o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre revolucionou o pensamento brasileiro ao defender radicalmente a miscigenação. Freyre, cuja formação ocorreu em grande parte nos Estados Unidos, comparou a situação racial tensa desse pais com o que enxergava como relativa paz no Brasil. Para Freyre, a imensa miscigenação do Brasil, que atingia também os imigrantes europeus recentes, era prova de que o pais não era racista como os Estados Unidos - éramos, enfim, uma "democracia racial', em que ninguém se achava mais puro do que ninguém.

A idéia de democracia racial pegou, e por claros motivos - afinal, ela restabeleceu o orgulho nacional e mostrava um ponto em que o Brasil era superior à Europa e aos Estados Unidos. Mas os números e a realidade dizem que há algo fora do lugar nesse suposto paraíso racial: segundo uma pesquisa do IBGE publicada em 2010, famílias chefiadas por pessoas brancas consomem 89% a mais do que famílias negras e 79% a mais do que pardas. Comerciais, novelas e séries de TV apresentam uma clara desproporção de brancos em relação à realidade da população.

Desde os anos 1970, o movimento negro brasileiro busca desconstruir essa idéia de democracia racial. Ainda que a miscigenação seja inegável, ela não apagou a idéia de que "branco é melhor" Se há um degrade de cores no Brasil, há uma preferência clara para uma ponta desse espectro. O racismo brasileiro é diferente do norte-americano (nos Estados Unidos, existiam leis de segregação racial até os anos 1960), mas nem por isso é algo menor ou menos nocivo.

Nem todos os militantes negros concordam na questão de cotas para universidades, mas há uma tendência geral de valorizar a parte africana da cultura brasileira e a identidade negra. Desde 2003, a cultura afro-brasileira tornou-se obrigatória no currículo escolar, e o Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3), em processo de aprovação, prevê a obrigatoriedade de uma proporção realista de pardos e negros na televisão.

Interessa também ao movimento negro a questão dos quilombolas, comunidades rurais remanescentes de escravos fugidos. Os quilombolas são cristãos e falam português, mas mantêm várias tradições de uma cultura africana antiga, ameaçada de desaparecer por êxodo rural e influência cultural, principalmente pela televisão. A demarcação de terras quilombolas provoca certa polêmica, porque isso às vezes afeta as propriedades rurais.

Em 2008, o IBGE anunciou que 50,6% da população brasileira se identifica como parda ou negra - pela primeira vez, a maioria não se declarava como branca. Em parte, isso pode ser explicado por questões demográficas - a população de menor renda, majoritariamente parda ou negra, tem mais filhos que a classe média e alta. Mas também é um indicio da mudança de percepção racial no Brasil.



Drama entre índios em Mato Grosso do Sul

Taxa de suicídio dos Kaiowá é a maior entre os povos indígenas


Relatório sobre as condições de vida dos povos indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta os Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, entre as comunidades nativas que nos últimos anos mais registraram suicídio em massa de jovens índios no planeta. O trabalho State of lhe World's Indigenous Peoples ("Situação dos Povos Indígenas do Mundo") relaciona a ocorrência de mortes à luta dos cerca de 30 mil integrantes da comunidade contra fazendeiros e diz que "centenas" de índios já se mataram em 20 anos. O trabalho cita dados do Ministério da Saúde de 2000 a 2005, segundo os quais a taxa de Kaiowás que se suicidaram foi 19 vezes mais alta do que a média nacional, afetando desproporcionalmente adolescentes e jovens adultos.

"Isso acontece porque o lugar onde eles vivem se transformou em anexo de uma cidade em franco desenvolvimento", disse o ativista indígena Marcos Terena, membro da Cátedra Indígena Itinerante. Ele participou no Rio do lançamento mundial simultâneo do texto de 238 páginas, preparado por peritos do Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas da ONU e que revela ainda outros casos de altas taxas de suicídio indígena. Nos EUA, na faixa de 5 a 14 anos entre nativos americanos e do Alasca, ela é 2,6 vezes maior que a nacional, passando a 3,3 entre quem tem de 15 a 24 anos. No Canadá, as taxas de indígenas Inuit que se matam são 11 vezes maiores que a média total.


Atividades

7-O Serviço de Proteção ao Índio, que daria origem à atual FUNAI, foi fundado em 1910 com o intuito de preservar a identidade dos índios. Auxiliar os índios, entretanto, é um trabalho cheio de dilemas e controvérsias. Sobre o assunto, leia as afirmações abaixo:

I. As regiões onde vivem tribos ainda identificáveis são alvo do interesse econômico de mineradores, missionários cristãos, fazendeiros e mesmo cientistas e antropólogos.

Il. Manter a autonomia indígena significa tolerar costumes considerados crimes em nossa cultura - o caso mais marcante sendo o infanticídio, o hábito de diversas tribos de matar crianças com doenças de nascença ou filhos gêmeos.

III. Só existem índios em regiões muito distantes das cidades médias e grande do Brasil. A ajuda é sempre dificultada pela precariedade dos transportes.

 Podem ser consideradas reais dificuldades para ajudar as populações indígenas:

a) I e II, apenas. d) Todas as afirmações

b) I e III, apenas. e) Apenas uma dentre as afirmações.

c) II e III, apenas


8- Em 2004, a UnB instituiu um programa de política de ação afirmativa em seu vestibular. Posteriormente, também a UERJ inaugurou um programa semelhante e colocou este tema em evidência no debate nacional. Indique o item abaixo que melhor caracteriza uma política de ação afirmativa.

a) Política afirmativa consiste apenas na adoção de cotas de acesso a universidades, com o objetivo de eliminar a pobreza em determinadas regiões das áreas metropolitanas.

b) Uma política de ação afirmativa consiste em um tipo de seleção apoiada em critérios não discriminatórios e especialmente baseada no mérito acadêmico ou no desempenho escolar

c) Política de ação afirmativa resume-se à adoção de cotas para o ingresso em universidades ou em outras instituições de ensino, com o objetivo de garantir o amplo acesso de jovens negros às escolas públicas ou privadas.

d) Política de ação afirmativa consiste na adoção de critérios de seleção para o ingresso a instituições de ensino e postos de trabalho, com a finalidade de promover maior diversidade entre os alunos, especialmente com respeito a gênero, raça, origem social, orientação sexual e deficiência física.

e) Política de ação afirmativa resume-se à adoção do sistema de cotas. Tal sistema refere-se à definição de 30% das vagas universitárias para minorias e grupos étnicos


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