segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Na cidade grande, garotos indígenas buscam sonho com a bola nos pés



Logo após o time sub-20 do Grêmio Osasco chegar ao campo onde disputaria um jogo-treino, na última quinta-feira, contra a equipe júnior do Taboão da Serra, na cidade do rival, o técnico Edu Lopes reuniu seus comandados no vestiário apertado do lugar. Os garotos se sentaram onde foi possível, ignoraram o forte cheiro de urina e ouviram com atenção as palavras do treinador durante a preleção.
- Não se assustem. É todo mundo igual, eles não têm três pernas. Basta colocar na cabeça que vocês podem. Eles são iguais a vocês - insistiu Lopes.
Havia diferenças, porém. Aqueles meninos estranhavam a rotina das cidades grandes, como as que formam a região metropolitana de São Paulo. O trajeto de ônibus até ali foi feito com as caras coladas nas janelas – a eles, impressionava o tamanho dos prédios na Marginal Pinheiros, o trânsito caótico numa das principais vias da maior cidade do país. As chuteiras eram novidades que incomodavam, queimavam no pé de quem está acostumado a jogar descalço. Alguns, apesar de concordarem com a cabeça, pouco entenderam o discurso do técnico - a língua portuguesa é estranha para parte deles, ainda que ninguém ali seja estrangeiro.
A fisionomia respondia aos questionamentos dos mais curiosos: com a camisa do clube de Osasco estavam 28 jovens índios ou descendentes, escolhidos durante quatro meses de trabalho nas redondezas de Tabatinga, cidade do oeste do Amazonas, encravada na floresta, onde o Brasil faz fronteira com Peru e Colômbia. Eles foram selecionados para formar uma equipe totalmente indígena para disputar a Copa São Paulo, em janeiro, e para buscarem a realização de um sonho juvenil, que enterra as diferenças entre os garotos que disputavam a bola naquele gramado, os da metrópole e os da aldeia: tornarem-se atletas de futebol.
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