Logo após o time sub-20 do Grêmio Osasco chegar ao campo onde disputaria um jogo-treino, na última quinta-feira, contra a equipe júnior do Taboão da Serra, na cidade do rival, o técnico Edu Lopes reuniu seus comandados no vestiário apertado do lugar. Os garotos se sentaram onde foi possível, ignoraram o forte cheiro de urina e ouviram com atenção as palavras do treinador durante a preleção.
- Não se assustem. É todo mundo igual, eles não têm três
pernas. Basta colocar na cabeça que vocês podem. Eles são iguais a vocês - insistiu
Lopes.
Havia diferenças, porém. Aqueles meninos estranhavam a
rotina das cidades grandes, como as que formam a região metropolitana de São
Paulo. O trajeto de ônibus até ali foi feito com as caras coladas nas janelas –
a eles, impressionava o tamanho dos prédios na Marginal Pinheiros, o trânsito
caótico numa das principais vias da maior cidade do país. As chuteiras eram novidades que
incomodavam, queimavam no pé de quem está acostumado a jogar descalço.
Alguns, apesar de concordarem com a cabeça, pouco entenderam o discurso do
técnico - a língua portuguesa é estranha para parte deles, ainda
que ninguém ali seja estrangeiro.
A fisionomia respondia aos questionamentos dos mais
curiosos: com a camisa do clube de Osasco estavam 28 jovens índios ou
descendentes, escolhidos durante quatro meses de trabalho nas redondezas de
Tabatinga, cidade do oeste do Amazonas, encravada na floresta, onde o Brasil faz fronteira
com Peru e Colômbia. Eles foram selecionados para formar uma equipe
totalmente indígena para disputar a Copa São Paulo, em janeiro, e para buscarem
a realização de um sonho juvenil, que enterra as diferenças entre os garotos
que disputavam a bola naquele gramado, os da metrópole e os da aldeia:
tornarem-se atletas de futebol.Fonte
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