Outro
atropelamento, outra morte na mesma BR, a 463, nos mesmos Km 04, 05,
06. Outra vida é ceifada à beira do caminho. Ao todo, em nome do
desenvolvimento nos últimos anos, são sete vítimas. Uma vida jovem!
A
comunidade de Apyka’i vive uma situação muito delicada frente a tantas
ameaças. Um lugar que no passado foi o paraíso deste povo hoje está
sendo o contrário, o tormento. Até que o Governo Federal e a Justiça
decidam pela demarcação da terra da comunidade do Apyka’i.
As famílias da comunidade revezam-se, durante as noites, em vigília e sentinela para proteger o seu tekoha (sua terra). E, na noite de 07 de fevereiro, enquanto as famílias Kaiowá realizavam rituais e atividades de proteção de seu tekoha, Delci, de 17 anos de idade, viveu os seus últimos momentos.
Por
volta das 21 horas, quando pretendia atravessar a BR-463, foi
atropelada por um caminhão que transportava bagaços de cana-de-açúcar.
Segundo testemunhas, o caminhão, apelidado de Julieta, de propriedade da
Usina São Fernando, que trafegava em alta velocidade, atropelou e matou
Delci.
O
sepultamento do corpo ocorreu no dia 10 de janeiro após um ato de
protesto contra todas as práticas de violência. Lideranças indígenas de
diversos tekohas participaram dos rituais de despedida da jovem Delci.
Uma
jovem mulher, uma mãe foi plantada no solo sagrado. Muitos diziam, mas
ela era tão jovem... O pai, a mãe, os irmãos, as irmãs de Delci se
aproximaram do caixão para o último adeus! O povo entristecido gritou:
“Delci você é mais um anjo no céu para fortalecer a nossa luta na
terra”.
Naquele
dia, por três vezes, um avião sobrevoou o local da comunidade. Parecia
estarem vigiando o lugar. Quem seria? Qual sua intenção? Jogar flores?
Claro que não.
Quando
uma semente morre no solo fértil que grita por justiça, brota com mais
vigor, com mais força e produz mais sementes. Nas palavras repetidas
pelos Nhanderu (lideranças religiosas) se ouvia o clamor por justiça e a
denúncia às violações aos direitos humanos: “Não é matando o nosso povo
que vão resolver isso. Se matar resolvesse este problema a solução já
teria acontecido, pois o solo de Mato Grosso do Sul está encharcado de
sangue indígena”.
A comunidade continua decidida a permanecer no seu tekoha, mesmo que custe as vidas de todos.
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