terça-feira, 12 de maio de 2009

Mato Grosso do Sul, em discussão

Durante os dois primeiros dias do acampamento emergiu claramente a nova prioridade de luta pelos direitos indígenas no Brasil – os povos indígenas do Mato Grosso do Sul. Na verdade foi a confirmação do que já se vinha anunciando desde a confirmação da vitória dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol, em Roraima. Os políticos deste estado logo falaram da “bola da vez”. E imediatamente entraram em ação. Capitaneados pelo governador, senadores, deputados e representantes do agronegócio começaram sua peregrinação a Brasília, sendo o alvo a Casa Civil e o Ministério da Justiça. A intenção era uma só: paralisar imediatamente a demarcação das terras indígenas, suspender os Grupos de Trabalho que estão realizando a identificação das terras indígenas Kaiowá Guarani e Terena. Consideraram-se vitoriosos, conforme a mídia local.

Em carta entre ao Ministro da Justiça e presidente da Funai os povos indígenas do Mato Grosso do Sul destacam as principais situação de violência, apontando como causa principal a falta de terra, exigindo imediatas medidas para conter esse genocídio, principalmente contra o povo Kaiowá Guarani. No documento endereçado também ao presidente da República, Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Polícia Federal, “O Grito dos Povos Indígenas do Mato Grosso do Sul pela demarcação de nossas terras – contra a violência e o racismo”, destacam:

“Nós, povos Guarani e Terena de Mato Grosso do Sul, somos mais de 70 mil pessoas e vivemos, de fato, em 50 mil hectares de terra, aproximadamente. Tiraram nossas terras, nos confinaram. Destruíram nossas riquezas naturais e nossos rios - mas não conseguiram nos calar ou fazer com que abandonássemos nossa resistência e luta pela retomada de nossas terras!

Nos últimos anos nossa situação veio piorando com toda a fome e violência, principalmente pela falta de nossas terras tradicionais, que para nós são sagradas, nossa mãe.

Assassinaram vários de nossos líderes e nenhum assassino está preso. Por outro lado, várias de nossas lideranças têm sido presas, perseguidas e criminalizadas por reivindicarem os direitos assegurados pela Constituição Federal Brasileira.”

A este cenário desumano, somam-se os piores índices de violência contra os povos indígenas do Brasil. O Mato Grosso do Sul, hoje, é o estado com o menor índice de terras demarcadas do Brasil e, em contraponto, tem a segunda maior população indígena do país. Além disso, possui os maiores índices de assassinatos, suicídios, prisões e desnutrição infantil, entre os povos indígenas. No documento denunciam o terrorismo de que estão sendo vítimas, em campanha declarada de guerra contra seus direitos e suas vidas, especialmente pelo agronegócio, governo estadual e políticos.

“Acabou nossa paciência. Quando voltamos para nossas terras tradicionais-tekoha somos recebidos à bala, matando, prendendo ou ferindo nossas lideranças. Estamos ameaçados de sermos expulsos por decisões concedidas pelo Judiciário Federal em beneficio de fazendeiros, como o caso da Terra Indígena “Laranjeira Ñande Rú”. Para piorar ainda mais essa situação estão plantando cana até perto de aldeias como é o caso de Jatawari, município de Ponta Porã dentre outros. Se querem entregar nossas terras a estrangeiros e grandes grupos para produzir álcool, exigimos que antes demarquem e respeitem nossas terras.”

Terminam o documento cobrando decisão política e ações firmes “Exigimos que o prazo para identificação de todas as terras Guarani, que está previsto para dia 30 de julho seja rigorosamente cumprido. Igualmente exigimos que todas as terras indígenas do Mato Grosso do Sul sejam demarcadas até o final do próximo ano. O governo Lula prometeu demarcar todas as terras indígenas até o final de seu primeiro mandato. Nossas comunidades e organizações indígenas estarão cobrando a todo o momento o cumprimento desse prazo. Que as autoridades do estado brasileiro compreendam que no mato grosso do sul a demarcação acabará com as incertezas e injustiças! que o povo Kaiowá-Guarani , Terena e Kinikinawa quer a paz, para isso existem muitas terras para todos e todas, índios e não-índios!”

No final do documento entregue ao Ministro da Justiça, lembram que não estão sós nesta luta e agradecem a solidariedade nacional e internacional à suas lutas e em especial aos povos indígenas presentes no acampamento “Queremos também mostrar, para todas e todos os presentes, a nossa força, resistência, espiritualidade e esperança, marcadas pela busca incessante da “Terra Sem Males” (Yvÿ Marã Eÿ).


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