quinta-feira, 26 de junho de 2008

OS ÍNDIOS

Rugendas

OS ÍNDIOS

Poema de Antonio Miranda




I



Também vieram de longe

e plantaram raízes

imemoriais

no jardim de sua eleição

desde a diáspora primeva

da Criação.



Não sabemos se temos

a mesma origem

ou se nascemos já divididos

disputando o mesmo espaço.



Descimentos e preamentos

bandeirantes

dizimaram e escravizaram

índios sem religião

como animais

errantes.





II



Os sobreviventes estão

confinados em reservas

como num zoológico humano.



Duas culturas não podem

ocupar o mesmo lugar:

ou o índio é integrado

à sociedade

e perde a identidade tribal

ou refugia-se na comunidade.



Garimpeiros, pecuaristas

seringueiros e extrativistas

(caraíbas)

avançam com moto-serras.



O índio não é ambicioso

nem ocioso.



A terra é a existência do índio

-terra de todos, comunitária

terra que é partícula

em movimento e assimilação.



Terra e índio: um vive da outra.

Mãe e filho, indivisíveis.



Terra sagrada

de húmus vivo e fértil

de seus antepassados

com que o índio abona

o inhame, o cará e a taioba.



Em que cultiva, caça e pesca

e colhe, apenas quando

e quanto necessita.


Ana Claudia de Souza

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