segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Com a entrada de novos capitães e as abordagens noturnas tem diminuido a violência na aldeia de Dourados



O tema violência foi um dos temas mais abordados no jornal AJIndo, e agora em sua edição especial, faz uma retrospectiva relacionado ao assunto baseado nas matérias levantadas pelo AJIndo neste ano. A violência foi um dos destaques do jornal e tomou conta da aldeia em 2009, houve assassinatos, assaltos, brigas. E o ano todo lideranças e representantes indígenas lutaram para que houvesse segurança na Reserva Indígena de Dourados.

A violência, jornal AJIndo 2009
“Quando chega sábado já estão na estrada...” diz Rosivânia Espíndola na ed. 16° jornal AJIndo, pg. 10. Ela retrata como vê a violência na estrada, os filhos que não obedecem seus pais, e saem na rua. É bem uma imagem que ficou do ano de 2009.
João Machado diz em seu artigo publicado no AJIndo ed. 17° pg. 04 que os responsáveis pela violência em 2009 foram os jovens “Nas assembléias de lideranças indígenas e/ou autoridades governamentais em Dourados, as discussões são sempre as mesmas. Jovens violentos, se drogando, a noite os adultos não podem mais sair pelas aldeias por que adolescentes andam pelas estradas das aldeias aramados com facão, foice pedaço de madeira e ameaçam...” e defende que a culpa é da falta de vontade política e sensibilidade humanitária e diz que a juventude é apenas vítima das mazelas sociais. A violência em 2009 foi tão longe que atingiu até as escolas.
“Os problemas envolvendo jovens no Brasil são bastante conhecidos e noticiados. Na Reserva Indígena de Dourados não é diferente e até mesmo nas escolas há brigas entre jovens”, diz a matéria de Tânia Porto na pg. 09 desta mesma edição.

Ela explica que jovens brigam fora da escola e essas brigas foram parar dentro das escolas, onde nos dias de aula o portão é obrigado fechar e só entra pessoas autorizadas.
O AJIndo teve ainda o depoimento publicado na ed. 18° na pg 10, onde um aluno indígena retratou a violência na escola dizendo “o que adianta? Eles revistarem os alunos e assim mesmo os alunos levam facas e armas. E quando eles querem brigar ninguém segura”.
Ainda nesta edição na matéria de Jaqueline Gonçalves na página 03 aborda entrevistas exclusivas com vitimas da violência, que levarão para o restos de suas vidas sequelas graves no corpo deixando grande parte das vitimas impossibilitados e sem esperança para recuperação.

2010 - A paz começa a voltar nas ruas da aldeia
Em meio a tanta violência, sangue derramado, vidas se perdendo, e lideranças lutando para que haja segurança na aldeia de Dourados, finalmente, depois de muitas reuniões chegou-se a um acordo para que fosse eleito um representante na aldeia Bororó e outro na aldeia Jaguapiru. Esses seriam as lideranças, pessoa responsável por fazer acontecer a segurança na aldeia de Dourados.
No dia 20 de Dezembro de 2009 aconteceu a eleição para capitania da aldeia Bororó e Jaguapiru. Na aldeia Jaguapiru foi eleito Vilmar Machado e na aldeia Bororó César Isnardi.
Esses são os representantes eleito pela comunidade indígena, eles que tomaram posse na primeira semana de Janeiro de 2010.

“Hoje caminhando pela aldeia eu me sinto mais segura, não tem mais aquele movimento de pessoas que tiram a nossa paz...” diz a dona de casa Mirtes Porto, 46 anos. A índia kaiowá diz que agora pode ficar em paz até dentro de sua casa, pode ir na igreja e dormir em paz, pois antes não podia por causa dos barulhos de sons que eram muito altos, e as pessoas armadas que andavam nas estradas de noite.
Hoje os capitães fazem ronda de noite na aldeia, e menores na rua fora de hora está proibido. Essa é uma das leis interna que foi implantada na aldeia no ano de 2010 mas atualmente está funcionando só na aldeia Jaguapiru.

O AJIndo entrou em contato com os capitães da aldeia, para maiores informações.
“estamos trabalhando para fazer segurança na aldeia, mas as leis internas que implantamos aqui na Bororó não funcionaram por que precisa se de um regimento que ainda precisa ser aprovado, e se continuarmos com a ação podemos ser barrados pelo ministério publico, ou a própria comunidade pode ir buscar seus direitos e somos nós que somos processados...” diz César Isnarde, capitão da aldeia Bororó que faz ronda de noite com mais dezesseis pessoas .
As leis internas que eram realizadas, era: Abordagem, se estiver armado é desarmado, e se estiver fora de hora na rua é punido. A punição funcionava da seguinte maneira:
O capitão e mais seus parceiros de trabalho, pegavam o nome da pessoa, o endereço e no dia seguinte o abordado se apresenta para o capitão tem uma terefa a cumprir, vai carpir os matos das escolas, para as meninas é varrer as escolas, é prestar um serviço comunitário, essa é a punição.
César disse que não é pesado as punições, e diz que precisa haver essas punições. Os atendimentos acontecem na casa do próprio capitão. E conclui dizendo que já amenizou muito a violência na aldeia, e que a comunidade precisa ajudar a aprovar o regimento interno. Hoje como não acontece mais as punições, eles fazem a abordagem e no dia seguinte a pessoa cai até o capitão e passa por um conselho.
Na aldeia Jaguapiru o processo é o mesmo, mas as leis internas estão funcionando. Quem não cumpre as leis está sendo punido.

Leomar Mariano Silva, acessor do capitão da Jaguapiru diz que está sendo bem legal trabalhar a segurança na aldeia. E a comunidade está apoiando.
“Saimos as dez horas da noite para fazer a abordagem, no inicio se encontrava muito adolescente na rua armado, com bebida alcoolica ... a nossa abordagem acontece da seguinte maneira, se encontrar o indígena armado, desarmamos, adolescente fora de hora, mandamos ele ir embora para casa, pedimos a ele para vir se apresentar no dia seguinte para conversarmos e se desrespeitar as lideranças, falar mais alto ai ele é punido, como ainda não tem nada, decidimos que ele faça um serviço alternativo, só para ele ter respeito e ver que não estamos de brincadeira, e ele ter uma noção de que não estava certo o que ele fez.”

Leomar disse que já houve casos onde os pais foram denunciar seus filhos, pois os mesmos saem sem o consentimento do pai, e por escrito ele autoriza dar uma punição ao filhos. O acessoar de Vilmar disse que na Jaguapiru ainda vai haver a reunião onde irão chamar: Professores, agentes de saúde, pais, a comunidade indígena para ser montado de vez, o regimento interno.
Mas há um contra ponto, não podem atuar nos pontos de drogas, pois não tem apoio dos policias de fora,

“A policia federal não quer atuar conosco aqui, ligamos para a federal, eles não podem vir, diz que tem ser a militar, ligamos para o militar diz que precisa do consentimento da federal, e assim vai até que um dos policiais nos disse que só viria se alguém já estivesse morto, pois estão proibidos de entrar na aldeia, ordem do governador do estado.”
E conclui dizendo que estão agindo a favor da segurança sem violência, e até agora está dando certo, cada vez mais a comunidade está se envolvendo.

Jaqueline Gonçalves - integrante AJI

Kaiowá - 19 anos

jaque.aji@gmail.com

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