sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

‘Não é casual que os jovens sejam defensores dos protestos de rua’, diz representante da OIT


Um relatório publicado esta semana pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), comparando dados entre 2005 e 2011, destaca que ao final deste período o desemprego juvenil na América Latina chegou a 13,9%. Ainda que a taxa tenha baixado em 16,4% em relação a 2005, os trabalhadores de 15 a 24 anos continuam enfrentando dificuldades para encontrar um emprego – e, mais ainda, um emprego de qualidade.
Segundo a diretora regional da OIT para a América Latina e Caribe, Elizabeth Tinoco, “não é casual que os jovens sejam defensores dos protestos de rua quando suas vidas estão marcadas pelo desalento e a frustração por causa da falta de oportunidades”.
“Isso tem consequências sobre a estabilidade social e inclusive sobre a governabilidade democrática”, disse Tinoco.
A situação de crescimento econômico com emprego registrada nos últimos anos na América Latina não foi suficiente para melhorar o emprego dos jovens, que continuam enfrentando um cenário pouco otimista no qual persistem o desemprego e a informalidade, alertou a OIT por meio da publicação.
“Sabemos que existe preocupação pela situação do emprego dos jovens. É urgente passar da preocupação à ação”, disse Tinoco, ao apresentar os resultados do estudo que revela que nos últimos anos houve poucas mudanças. “É evidente que o crescimento não basta”, acrescentou.
“Estamos diante de um desafio político que demanda uma demonstração de vontade na aplicação de políticas inovadoras e de efetividade para enfrentar os problemas da precariedade laboral”, disse Tinoco.
Jovens de menor renda sofrem mais com desemprego
Na América Latina existem cerca de 108 milhões de jovens, dos quais cerca de 56 milhões fazem parte da força de trabalho – isto é, que têm um emprego ou estão buscando uma ocupação.
A taxa de desemprego juvenil continua sendo o dobro da taxa geral e o triplo da dos adultos. Além disso, os jovens representam 43% do total dos desempregados da região, segundo o estudo da OIT.
Por outro lado, a taxa de desemprego juvenil está acima de 25% ao considerar-se somente os setores de menor renda, enquanto está abaixo de 10% para os de maior renda.
Com relação à qualidade do emprego, a OIT destaca que 55,6% dos jovens ocupados somente conseguem emprego em condições de informalidade, o que geralmente implica baixos salários, instabilidade laboral e carência de proteção e direitos.
O relatório diz que seis de cada 10 empregos gerados para os jovens são informais.
Além disso, somente 37% dos jovens contribuem para a seguridade social de saúde, e 29,4% para o sistema de aposentadorias. De todos os jovens que são assalariados, apenas 48,2% têm contrato assinado, em comparação com 61% dos adultos.
Neste cenário laboral adverso um dos problemas mais preocupantes é o de cerca de 21 milhões de jovens que não estudam nem trabalham – os chamados “nem-nem”. Aproximadamente um quarto desses jovens buscam trabalho mas não conseguem e cerca de 12 milhões dedicam-se a afazeres domésticos, em sua grande maioria mulheres jovens.
Os outros jovens, aproximadamente 4,6 milhões, são considerados pela OIT como o “núcleo duro”, e representam o maior desafio e os que estão em risco de exclusão social, pois não estudam, não trabalham, não procuram emprego e tampouco se dedicam aos afazeres domésticos.
O relatório destaca positivamente o fato de que, apesar das estatísticas laborais não serem alentadoras, a porcentagem de jovens que somente estudam aumentou de 32,9% em 2005 para 34,5% em 2011.
“Não há dúvida de que temos a geração mais educada da história e por isso mesmo é necessário tomar as medidas apropriadas para aproveitar melhor seu potencial e dar-lhes a oportunidade de iniciar com o pé direito sua vida laboral”, disse Tinoco.
O Brasil, aponta a publicação, tem um dos piores índices de jovens matriculados no ensino superior na região, ficando acima apenas de El Salvador, Honduras e México, com a classificação de 53º no ranking dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O documento afirma ainda que a porcentagem de jovens brasileiros que não estudam nem trabalham é de 19%. O país está entre Honduras, que tem a taxa mais alta da região (27,5%), e a Bolívia, que tem a taxa mais baixa (12,7%). Além disso, as mulheres jovens são as mais propensas a ficar desempregadas.
Sem receita única
A OIT afirma que, no caso do emprego juvenil, é necessário tomar medidas especificamente planejadas para atender as necessidades deste setor da população.
O documento enfatiza que não existem receitas únicas e a situação de cada país é diferente, mas existem exemplos, em países como Argentina, Brasil, Costa Rica, Peru e Uruguai, de experiências exitosas e inovadoras que podem ser adaptadas.
A melhoria e extensão dos programas de formação e capacitação para facilitar a transição escola-trabalho, permitindo que os jovens tenham melhores qualificações quando procuram emprego que respondam às necessidades do mercado laboral, é uma delas.
Outra saída são os programas de promoção do emprego destinados a beneficiar os jovens através de incentivos para a contratação ou a simplificação de trâmites burocráticos, bem como a adoção de estratégias destinadas à formalização de trabalhadores e também aquelas que buscam formalizar as principais fontes de emprego, como são as microempresas.
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