Em
frente ao Congresso centenas de policiais estão a postos e dispostos a
reagir a qualquer tentativa de entrada na “casa do povo”. Do outro lado
da trincheira verde, centenas de indígenas de todo o país decididos a
visitar a sua casa e entregar um documento com suas exigências e
reivindicações. Quando os indígenas se aproximam, recebem uma rajada de
spray de pimenta nos olhos. Correm com a forte ardência dos olhos.
Revoltados pelo ato covarde dos “recepcionistas” com suas armas modernas
de uma guerra secular, insistem em sua intenção de entrar no Congresso,
covardemente abandonado, com as atividades suspensas. Seguem-se
momentos de tensão e expectativa. Os Kayapó e Xavante fazem seus rituais
de guerra e com seus arcos, flechas e bordunas avançam em direção aos
policiais. Centenas de guerreiros de inúmeros povos se posicionam frente
ao Congresso, no qual pretendiam entrar para um ato de protesto, num
diálogo impossível, de uma casa donde partem iniciativas mortais contra
seus povos e direitos.
É apenas mais um
capítulo de uma guerra secular. Mudam as armas e os atores, mas o
processo de invasão, violência, saque e extermínio genocida continuam.
Infelizmente, nessas últimas décadas, tenho sido mais uma espécie de
repórter, testemunha e indignado relator das violências que o projeto
colonizador impetra contra os povos originários dessa terra.
A guerra se
sofisticou. Colocaram-se silenciadores nas armas pesadas, aprovadas na
calada da noite, nas formas de projetos de lei, portarias, projetos de
emendas constitucionais e todo um arsenal de artilharia acionada contra
os direitos constitucionais indígenas
Simbolicamente,
na tarde desse dia 2 de outubro, Brasília se transformou no palco de
mais uma batalha contra os direitos dos povos indígenas. Impedidos de
entrar no Congresso, os indígenas manifestaram sua indignação fechando
os acessos aos Três Poderes e circulando por esses espaços, fortemente
ocupados por tropas policiais.
Mulheres Pataxó,
de Coroa Vermelha, revoltadas com a ação dos policiais que atiraram
spray de pimenta em seus olhos, chorando, xingavam os responsáveis pela
atualização da violência desses 513 anos, desde que Cabral iniciou a
invasão de seu território.
Solidariedade e apoio
Foi um dia
marcante para os mais de mil indígenas de uma centena de povos de todo o
país. Foi o momento de deixar as cores da lona de circo e circular nos
espaços dos Três Poderes, em lindos e coloridos rituais e indignadas
manifestações e exigências.
Mas
foi também um dia em que receberam importante solidariedade da Central
Única dos Trabalhadores (CUT): “Declaramos todo apoio à semana de
mobilização em defesa dos direitos indígenas, presentes na Constituição
Federal...” e do Sindicato dos Servidores Públicos no Distrito Federal
(Sindsep-DF):“vem a público apoiar a convocação da Articulação dos Povos
Indígenas do Brasil para as manifestações em defesa dos direitos
indígenas presentes na Constituição Federal de 1988... Nós, enquanto
representantes dos servidores públicos, não podemos estar ausentes dessa
luta, pois o que está em jogo é a soberania nacional”. Também receberam
importante apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde
participaram de um debate e de uma centena de deputados aliados que
vieram até o acampamento trazer seu apoio e solidariedade.
A mobilização e
luta dos povos indígenas em todo o Brasil e, particularmente em
Brasíli,a a cada dia que passam vem recebendo apoio da sociedade
brasileira e internacional, “pois essa é uma luta pela vida dos povos,
da natureza e do planeta Terra”.
Fonte
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