“O desempenho dos serviços de saúde em Rondônia, em relação às ações de
detecção, diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos casos de tuberculose (TB)
entre os indígenas está em desacordo com as normas preconizadas pelas Diretrizes
Brasileiras para o Controle da Tuberculose”. A afirmação é da aluna do doutorado
em epidemiologia em saúde pública Jocieli Malacarne, que apresentou sua tese em
3 de julho, na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Ela sugere que
as autoridades em saúde revejam as estratégias, atualmente empregadas para o
controle do agravo entre essas populações e busquem priorizar a detecção e o
tratamento precoce dos casos nas aldeias, assim como investir no diagnóstico e
tratamento da infecção latente.
Jocieli acredita que somente dessa forma
será vislumbrado um cenário mais favorável em médio/longo prazo. Parte desse
problema, explicou ela, manifesta-se por meio dos elevados indicadores de
transmissão revelados na sua pesquisa, que, no contexto das Casas de Saúde do
Índio (Casai), entrevistou 76 indígenas com sintomas respiratórios (SR) e/ou
suspeita de TB. Houve predomínio das etnias suruí (40,8%), wari´ (19,7%) e
karitiana (11,8%). Na pesquisa, observou-se ainda que 34,2% dos indígenas
relataram ter chegado à Casai por conta própria, e 31,6% disseram ter sido
encaminhados pelo serviço de saúde. Desde o início dos primeiros sintomas, 34,2%
dos entrevistados demoraram mais de 30 dias para chegar à Casai.
De
acordo com o estudo, a falta de transporte foi a maior dificuldade enfrentada
para chegar ao serviço de saúde, e 32,9% relataram que foi preciso mais de cinco
semanas para obter um diagnóstico. Dentre esses entrevistados, 52 iniciaram
tratamento para TB, e o tempo gasto, desde a primeira consulta até o início do
tratamento, foi superior a 30 dias em 61,5% dos indígenas, e o tratamento
supervisionado não foi realizado em 34,6% dos casos.
Na aldeia Igarapé
Ribeirão, foram avaliados 263 indígenas, informou Jocieli, e aproximadamente 10%
dos investigados referiram-se a sintomas respiratórios. Foi detectada alta
prevalência de infecção pelo Mycobacterium tuberculosis (40,3%) e elevado risco
anual de infecção (2,4%). As variáveis de faixa etária ≥15 anos, antecedentes de
TB, em contato com doente de TB há menos de 2 anos, com presença de cicatriz
vacinal e classe E da classificação econômica do Brasil mostraram associação com
a prova tuberculínica ≥ 5 mm por meio da regressão de Poisson com variância
robusta. Além disso, segundo a aluna, 49 indígenas (18,6%) referiram história
anterior de TB.
O estudo de Jocieli tem como objetivo investigar o acesso
de indígenas suspeitos e portadores de TB aos serviços de saúde em Rondônia e
realizar diagnóstico situacional da doença entre os wari’ da aldeia Igarapé
Ribeirão. Para isso, no período entre 2009 a 2011, foram entrevistados indígenas
com SR e em tratamento para TB em quatro Casai de Rondônia. Também foi feito um
estudo transversal na aldeia Igarapé Ribeirão, em fevereiro de 2011, em que
utilizou-se a prova tuberculínica em todos os indígenas, além de baciloscopia e
cultura de escarro e raios X nos sintomáticos respiratórios e indígenas com
história de tratamento para TB. Segundo ela, apesar de a TB manter-se como um
dos mais importantes problemas de saúde pública no Brasil, sobretudo entre os
povos indígenas, há poucas informações a respeito das dificuldades enfrentadas
pelos doentes indígenas para acessar os serviços de saúde e obter o tratamento
adequado.
Jocieli Malacarne é enfermeira, atualmente cursando o doutorado
em epidemiologia em saúde pública pela Ensp. Atua no projeto de pesquisa
Desigualdades Sociais e Tuberculose: Distribuição Espacial, Fatores de Risco e
Farmacogenética na Perspectiva da Etnicidade. Sua tese é orientada pelo
professor Paulo Cesar Basta.
Fonte: Agência
Fiocruz
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