segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cresce participação de indígenas no ensino superior

Há tempos os indígenas expandem seus conhecimentos para além da sabedoria tradicional amazônica. Também houve – e já passou – a época em que esses mesmos povos, quando iam em busca de estudo, estavam interessados apenas nos cursos de licenciatura, usados para voltar às comunidades como professores. Atualmente, as faculdades de Medicina, Enfermagem e Odontologia, além de Administração e até Direito, são as mais prestigiadas no sistema de cotas para indígenas na Universidade Estadual do Amazonas (UEA).
Os números do ensino superior em 2010 e 2011 mostram destaque para as Escolas Superiores das Ciências Sociais (ESO) e de Ciências da Saúde (ESA) da UEA. Há dois anos, as cotas de Administração e Direito (noturno e diurno) foram quase todas preenchidas – apenas uma vagas ficou em aberto. O feito se repete nas Ciências de Saúde, quando todas as oportunidades foram aproveitadas pelos indígenas, também em 2011.
Para o antropólogo Ademir Ramos, a mudança de licenciatura para outros cursos é uma demanda antiga. O desejo de uma habilitação diferente das de professor já existia em 2005, quando o sistema de cotas foi implantado pela UEA. “A educação também é um processo de afirmação para estes povos. Os índios também têm de ser multiculturais, até para serem multiplicadores”, afirmou o antropólogo.
O pesquisador destacou ainda que os indígenas precisam de advogados, médicos, enfermeiros e de contadores. Todas estas profissões são importantes, pois a maioria destas comunidades está atrelada a programas e projetos de organizações indígenas. A necessidade maior acontece no momento em que as entidades sem fins lucrativos recebem dinheiro público. A falta de uma administração correta acaba tendo consequências, como o fim de parcerias ou o recebimento apenas de parcelas do convênio.
Adamir Ramos salienta ainda que esta educação é benéfica apenas para os índios não-isolados. Os povos sem contato precisam permanecer deste modo, apesar do desmatamento e dos garimpos ilegais ameaçaram tais populações. Saiba mais
De acordo com os dados da UEA, até o último levantamento (em 14 de fevereiro deste ano), havia 2.271 alunos matriculados na Universidade, sendo 724 índios oriundos de 32 etnias: Apurinã, Arara, Baniwa, Baré, Dessana, Hexkariana, Jamamadi, Kaixana, Kambeba, Katukina, Kokama, Kulina, Macuxi, Manchineri, Maraguá, Marubo, Mayoruna, Matis, Miranha, Munduruku, Mura, Parintintin, Piratapuia, Sateré-Mawé, Tariano, Tukano, Tenharin, Tikuna, Torá, Tuiuka, Wanano, Yanomami.
Maior formatura do País
Em dezembro do ano passado, o Amazonas entrou para a história com a maior turma em número de índios a colar grau em uma única cerimônia no Brasil. Universitários de sete cursos superiores – Antropologia, Artes, Biologia, Educação Física, Letras e Matemática -  receberam o diploma de Ensino Superior na região do Alto Solimões. Os 204 novos bacharéis eram moradores dos municípios de Tabating, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Tonantins, Atalaia do Norte e Benjamim Constant.
Segundo os coordenadores da Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngues (OGPTB), a região do Alto Solimões registrao, nos últimos anos, uma demanda crescente pela criação de cursos superiores provocada por exigências legais para a formação de professores e pela necessidade de atendimento a estudantes do 5º ao 9º anos do Ensino Fundamental e estudantes do Ensino Médio. O projeto foi elaborado pela equipe pedagógica da ONG, criada há 25 anos na aldeia Filadélfia, área rural da cidade de Benjamim Constant, exatamente na fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia.
A primeira turma do curso de Licenciatura para professores indígenas da região do Alto Solimões, promovido pela UEA em parceria com o Ministério da Educação (MEC), revelou resultados surpreendentes na opinião do reitor da universidade, José Aldemir de Oliveira, com índices de alto rendimento dos alunos ao mesmo tempo em que o número de desistentes foi menor que o esperado.
Preenchimento de vagas cresce a cada ano
No vestibular de 2005, a cota de alunos indígenas para a capital chegou a 68 vagas, mas apenas 23 foram preenchidas. Nos municípios do interior, 30 vagas ofertadas e 11 preenchidas. Para os cursos telepresenciais em Matemática, por exemplo, aberto em Boca do Acre, Carauari, Coari, Eirunepé, Humaitá, Itacoatiara, Lábrea, Manacapuru, Manicoré, Maués Presidente Figueiredo e São Gabriel da Cachoeira, estiveram abertas 146 vagas, mas apenas 52 foram preenchidas.
Na capital, em 2006, Engenharia (Diurno) foi o mais procurado: das 7 vagas oferecidas, 6 foram preenchidas. Naquele ano, foram 46 vagas ao todo, sendo preenchidas 30. No interior, o destaque foi para administração noturna: apesar de ter somente quatro vagas das seis vagas foram preenchidas. Já em 2007, a cota chegou a 56 vagas, sendo que 41 foram preenchidas. Pela primeira vez, a oferta foi a mesma que a procura, em se tratando de cursos regulares oferecidos em Manaus.  Todas as 16 vagas das cotas para alunos indígenas em Administração pública (diurno e noturno) e Direito (diurno e noturno) foram preenchidas.
No interior, a meta também foi alcançada na cidade de Tabatinga. Lá, os cursos de Geografia, Matemática, Biologia, Letras, Pedagogia e Educação Física alcançaram a cota. Por outro lado, a capital vê uma ênfase nas faculdades de Medicina, Enfermagem e Odontologia, em 2008. Todas as 13 vagas oferecidas em cotas foram preenchidas. O total geral, somando os 16 municípios, chegou a 100 de 175 ofertas.
Portal Amazônia

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