Para
se defenderem, índios estão dispostos a morrer. "O que eles reivindicam
não é a propriedade, é o pertencimento. A terra não é posse, não se
troca por dinheiro, não serve para especular. Serve para você saber quem
você é.” A partir desse trecho, retirado do artigo O fio que dá sentido à vida, da psicanalista Maria Rita Kehl, o apelo dos Guaranis-kayowás pode ser ainda mais entendido pela sociedade brasileira.
Em
cumprimento a quatro decisões judiciais de reintegração de posse contra
os indígenas, expedidas na quinta-feira, 12, que obrigam mais de 5 mil
indígenas a desocuparem fazendas do sul do estado, agentes da Polícia
Federal afirmaram, em reunião com entidades defensoras dos direitos
humanos, que realizarão o despejo da comunidade no próximo dia 18 de
dezembro.
Mesmo
com a pressão, os Guarani não hesitaram em ser resistentes.
Pertencentes das terras da Guarani Ñandeva do Tekoha Yvy Katu, fronteira
do Mato Grosso do Sul com Paraguai, os índios reafirmaram, em carta à sociedade brasileira, que não deixarão a terra reconquistada, e resistirão até a morte para defendê-la.
Diante
da afirmativa de que irão lutar e resistir ao envio de forças
policiais, os guarani ressaltaram que já começaram um ritual religioso
raro que diz respeito à despedida da vida da terra, em outras palavras,
estão se preparando para morrer.
Na
carta, eles pedem que sejam enterrados em sua terra e que o Estado se
responsabilize em cuidar das crianças e idosos que sobreviverem.
"Solicitamos ainda à presidenta Dilma, à Justiça Federal que decretou a
nossa expulsão e a morte coletiva para assumir a responsabilidade de
amparar e ajudar as crianças, mulheres e idosos sobreviventes aqui no
Yvy Katu que certamente vão ficar sem pai e sem mãe após a execução do
despejo pela força policial”, expõe o texto.
De
acordo com o secretário executivo do CIMI, Cleber Buzatto, duas
questões precisam ser urgentemente feitas. "A primeira é dar seguimento
ao procedimento de demarcação da referida terra indígena, procedendo a
homologação e as devidas indenizações aos não-indígenas proprietários de
títulos de boa fé. A segunda é acionar os advogados da União para
apresentação de recursos a fim de caçar as decisões judiciais favoráveis
às reintegrações de posse contra os Guarani”, defendeu.
Em
relação ao Leilão da Resistência, evento que vendeu gado, aves e soja
para financiar seguranças armados contra indígenas, arrecadando R$ 1
milhão, Cleber declarou que esse leilão é outro instrumento utilizado
contra os povos indígenas. "O leilão é mais um instrumento intimidatório
utilizado pelos fazendeiros invasores de terras indígenas no Mato
Grosso do Sul. De acordo com o próprios organizadores, o leilão teve a
pretensão de arrecadar recursos financeiros para financiar ações
milicianas contras os povos indígenas naquele estado”, denunciou
alertando para o verdadeiro objetivo do evento.
Os
índios estão sendo despejados em razão da valorização das terras, que
possuem altas camadas de minério. Os latifundiários têm o poder de
aprovar leis, bem como de passar por cima delas. Então, faz-se mais que
necessário exigir que o governo federal demarque as terras dos Guarani
Kaiowá em caráter de urgência, antes que aconteçam genocídios e
suicídios, fazendo com que a comunidade indígena brasileira perca de vez
sua identidade.
Fotos: Egon Heck / CIMI
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