quinta-feira, 15 de maio de 2008

Histórico da AJI

Em 1999, Maria de Lourdes Beldi de Alcântara vem até MS, para visitar a reserva de Dourados. Como é antropóloga ela veio até a aldeia Jaguapiru e Bororó para pesquisar sobre a questão indígena. No primeiro momento sua temática era o suicídio, mas percebeu que a maioria dos suicídios aconteciam entre os jovens e percebeu também que precisaria de muito tempo para concluir o seu trabalho. Então começou a reunir os jovens para uma roda de conversa, e eles mesmos não tinham conhecimento da sua própria realidade. Os jovens da aldeia Jaguapiru não conheciam a aldeia Bororó e vice-versa, e nunca tinham parado para pensar na realidade da aldeia.
Maria de Loudes que hoje é mais conhecida como Lú ou Lurdinha então propôs uma oficina de fotografia, ela foi realizada na aldeia Bororó na acasa de uma família que tinha histórias horrorosas de suicídio. No meio dessas oficinas, os jovens foram se conhecendo, então foi colocado para os jovens que eles mesmos elaborariam um questionário e iriam sair nas casas para pesquisar sobre as famílias mais extensas da aldeia e também sobre os maiores índices de suicídio. Então os jovens iam conhecendo cada vez mais realidade em que viviam e passaram a discutir e questionar as situações.
Depois de muitas oficinas realizadas e muitas discussões com os jovens, todos chegaram à conclusão de que precisavam ter uma associação de jovens indígenas, para trabalhar com questões indígenas da maneira do jovem. “A idéia de ter essa instituição surgiu da necessidade de ter algo para os jovens fazerem”, diz a integrante da AJI Graciela Pereira de Sousa 22 anos da etnia guarani:
As três etnias foram reunidas: guarani, terena e kaiowá. Eram jovens que tinha um relacionamento de fragilidade e brutalidade. Ao mesmo tempo, adoravam coisas novas e começavam a enxergar a dura realidade em que viviam. Esse trabalho todo que os jovens estavam tendo sobre a sua própria aldeia tinha que ter uma nome e então ficou definido em 2003 que a instituição se chamaria AJI - Ação do jovens indígenas de Dourados.
No início, as atividades eram realizadas em vários lugares, eram atividades animadas para jovens, e neste meio começou a ir muitos jovens, pois ao mesmo tempo que estavam curiosos para saber o que tinha lá, eles precisavam se ocupar. “No começo não tínhamos lugares para ficar e grande parte das atividades eram feitas na Tengatui, começamos com atividades de interação e oficinas dinâmicas”, conta Graciela.
“Fui pela primeira vez a convite da nossa coordenadora, ela havia vindo de São Paulo com alguns alunos da USP e foram em minha casa para que eu participasse do grupo de dança. No começo participei de todas as oficinas, como todos”, diz Ana Cláudia 21 anos guarani.
Já passaram muitos jovens pela AJI e através dela tiveram uma formação política e social. “Posso afirmar que esta instituição me trouxe tudo de bom, me trouxe muito conhecimento e comunicação, mudou minha vida e pode ter certeza que é para melhor”, diz Ana Cláudia.
Os jovens passaram a ter contato com o mundo, fizeram viagens internacionais representando os jovens indígenas da reserva de Dourados, estiveram presentes no 2° encontro de Los Pueblos Indígenas de Las Américas, em Buenos Aires, em 2004; no 1° Encontro de Comunicação Indígena, em Buenos Aires, em 2006; no Unhabitat: Programa das nações unidas para os assentamentos Humanos em Santiago, no Chile, em 2007. Também fizeram contatos com vários povos de outras aldeia, e com certeza trouxe muitas boas novas para os jovens da aldeia de Dourados. “Aqui se formaram muitos jovens e com certeza a AJI nos trouxe esperanças, alegria, e hoje é um refúgio em meio a tanta tristeza e problemas existentes na aldeia”, declara Graciela.

Hoje a esperança de um futuro melhor para a aldeia é a nossa instituição, ela é uma escolinha dando pequenos passos de formiguinhas. “Para mim a AJI é parte da minha família pois através dela eu cresci, pude ver o mundo, ver que na vida não devemos ver só nosso umbigo mas ver o entorno e hoje o meu amor pelo meu povo se tornou incondicional”, declara Graciela.
Hoje temos muitos e ricos conhecimentos sobre a nossa aldeia. Até agora já passamos por várias barreiras, mas não desistimos. Hoje a AJI está na boca do povo e em todos os encontros regionais, estaduais e internacionais, nós somos os exemplos de jovens. Já passamos por vários processos de formação, por várias oficinas; até então somos pequenos colegiados mas com a cabeça madura.
Atualmente as oficinas realizadas na ONG são: Jornalismo, português, cinema, teatro, bijuteria, informática. Temos hoje um Centro de Documentação indígena-CDI na qual os jovens trabalham na manutenção de um Blog e fotolog, coleta de noticias diárias em um clipping virtual e impresso, produção de um acervo de imagem, som e material bibliográfico sobre os povos indígenas, produção de um jornal mensal e produção de documentários. Atualmente a AJI também trabalha com terras e no momento realiza o pomar na casa do Lucio e no seu Laurentino Rodrigues-Guarani , também trabalha com hortas na escola Agostinho que está sendo na casa da dona Maria Gonçalves e a horta das agentes de saúde do PS do Zelik que dará apoio ao sopão que é realizado todas as sextas feiras na aldeia Bororó . Para que tudo isso aconteça contamos com o apoio do LABI-NIME/USP, IWGIA e GAPK.
“Digo a todos os que venham para a AJI e procurem se interessar para pensarmos e ajir juntos, pois a diferença virá, vamos fazer o presente e ordenar o futuro de muita gente”Diz Ana Claudia emocionada.

JAQUELINE GONÇALVES-INTEGRANTE DA AJI

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