quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Terras indígenas - Opinião do povo indígena da aldeia de Dourados

Estudos técnicos e históricos estão sendo feitos para a demarcação dos territórios indígenas de MS, antropólogos iniciam o começo de um longo processo, as atuais reservas como a reserva indígena de Dourados têm a maior concentração de habitantes por quilômetros quadrados e hoje a maioria vive numa área em que só cabe a sua casa. Mas o que pensam nossos patrícios em relação à demarcação de terras indígenas de MS? Pensando nisso, o Jornal AJIndo saiu em busca de opiniões nas aldeias Jaguapiru e Bororó.

"Eu sou contra as demarcações de terras indígenas, pois já li reportagens dizendo que a demarcação vai amenizar a desnutrição na aldeia e vai acabar com a fome, mas isso é só no papel", diz a indígena Kaiowá que não quis se identificar. Apesar de o assunto ser tão comentado na aldeia e fora de lá, a índia Kaiowá diz: "Muitos acham que se as terras forem demarcadas vai acabar com a fome na aldeia, eu acho que deveria ter orientações sobre o caso, para muitas pessoas na aldeia isso não está totalmente esclarecido".

A demarcação de terras indígenas está ocorrendo em 26 estados de MS e a reserva indígena de Dourados é uma delas, a data prevista para a conclusão é 2010. A dona de casa Luciana Alves cavalheiro da etnia guarani que reside na aldeia Bororó diz que a demarcação para muitos na aldeia é boa "há pessoas que mal dá para plantar" explica. Luciana fica dividida, ela tem seus motivos contras e a favor, mas ela quer o bem da comunidade por isso diz "eu sou a favor da demarcação, porque vai ter muitas melhoras para quem não tem terras suficiente" Ao mesmo tempo contraria dizendo que há muitos indígenas que não cuidam de suas terras deixando que o mato tome conta de sua roça. A indígena Maria de Sousa Garcia da aldeia Jaguapiru de 57 anos sempre trabalhou nas roças, desde pequena ela já ajudava os pais na roça, hoje é dona de casa e mãe de cinco filhos ela diz preocupada: "É aí que entra a nossa organização interna correr atrás das sementes e tratar de preparar a terra, pois não adianta ganhar terra e não plantar"

Miciano Bruno Alves Garcia estudante da 7° série da escola agostinho na aldeia Bororó vem se preocupando muito com essa questão, o jornal AJIndo pode perceber que se passa uma certa preocupação pela idéia de um menino que está caminhando para o futuro em relação de como será o futuro da aldeia. Em meio à demarcação de terras indígenas de MS o adolescente de 13 anos da etnia guarani diz "O índio não conseguiria sobreviver sem terra, mas se forem demarcadas eu acho que grande parte vai virar pastagem ou vai ser tomada por mato" diz muito preocupado. Hoje com o aumento da população indígena, cresce o desemprego na aldeia, a violência e outros fatores que prejudicam a comunidade. "Imagino que as condições serão muito precárias, e com o aumento das plantações de cana os indígenas passarão a ter mais contatos com fazendeiros e vai ser uma troca de vários fatores", diz o pré adolescente que conclui dizendo que é contra a demarcação de terras indígenas.

A dona de casa da aldeia Bororó Neusa Brites de 36 anos informa: " a demarcação de terras indígenas para mim é um assunto para gente grande, eu não sei o que é e nem para que existe, a única coisa que sei e que vamos ter mais terras se é que vamos ter.

Eu não sou a favor e muito menos contra, acho que a aldeia está ficando cada vez menor, pois a população está crescendo cada vez mais. Daqui uns dias meus filhos irão se casar, eu vou ter netos e eles vão precisar de um lugar pra morar. E se não tiver lugar, nessa parte eu sou a favo onde as pessoas não irão ter onde morar o que eu não aceito é que isso tudo aconteça com violência, assim como vejo pela televisão tem muitos fazendeiros contras pois vai diminuir a produção ai eu fico muito confusa."

A índia Maria de Sousa Garcia de 56 anos que reside na aldeia Jaguapiru diz: "Demarcação para mim é um assunto bem crítico e polêmico, é um assunto que não cabe a mim falar, pois é briga de gente grande. Mas como eu faço parte da comunidade querendo ou não eu sou obrigada a lutar, pois é um bem que estão fazendo para mim. E como índia guarani eu sou a favor das demarcações, todos irão ter suas terras para tirar dela o seu sustento. Daqui uns dias, o trabalho nas usinas vai acabar e aí os indígenas vão ter que plantar se quiserem comer. Os fazendeiros falam tanto que somos preguiçosos isso não é preguiça e sim a maneira nossa de viver, pois antes o índio não tinha que trabalhar pois tinha tudo, mas isso mudou, infelizmente"completa a dona de casa.

A terra é um bem muito especial para o povo, mas já há uma preocupação, o indígena Kaiowá Valdo Daniel de 48 anos da aldeia Bororó explica: "os brancos dizem que os índios invadem a terra deles, mas para nós isso é retomada de nossas terras, eu estou pronto para o que vier, estarei de cabeça erguida. Vale a pena? Vale e muito mais que tudo. A terra para o índio é sagrada. Retomando nossas terras com certeza vai haver muitos conflitos internos pois aquele índio que tem gado bovino ou máquinas de trabalhar na terra, eles sim vão querer bastante terras. Mas não vai ser assim tem que ser um pedaço de terra igual para todo todos .Para mim demarcação é um assunto bem pesado mas temos que discutir no nosso dia-dia, pois daqui para frente é uma luta para nós e sem data para terminar. Eu estou dentro dessa batalha, pois vamos ter de volta o que foi nosso.


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